A vida de Diocleciano (244-311) é cheia de hiatos e mistérios: sabemos que ele nasceu em Salona, capital da província romana da Dalmácia. Foi escravo e, mais tarde, comandante da frota Imperial antes de chegar ao poder, mas não existem outras informações detalhadas sobre ele. Mas seu reinado foi muito bem documentado.
Quando Diocleciano assumiu o posto de Imperador em 284, o Império Romano estava aos frangalhos. Por fora, era ameaçado por invasores persas, árabes e godos. Internamente, as brigas pela hegemonia política, a inflação progressiva e o avanço do Cristianismo sobre o mundo pagão tradicional só pareciam piorar as coisas.
Uma vez repelidas as ameaças externas, Diocleciano tentou organizar a bagunça em casa costurando um sistema político chamado Diarquia. Na Diarquia, o governo era exercido por duas autoridades: o Imperador (sob o título de Augusto) e um representante desginado (sob o título de César). Não demorou muito para que a Diarquia se tranformasse em uma Tetrarquia, com 2 Augustos e 2 Césares.
Para tentar acalmar os ânimos dos usurpadores e as tretas nos gabinetes do Império, Diocleciano determinou que a cada 20 anos os Agustos abdicariam do poder em prol dos Césares. Então, em 304, após a vicenália (o aniversário de vinte anos de governo), Diocleciano deixou o cargo de Augusto. No ano seguinte, Maximiano – o segundo Agusto – fez o mesmo.
Com a abdicação dos Imperadores, Constâncio Cloro é promovido de César a Augusto, em 305. Porém, no ano seguinte, ele é morto em uma expedição militar. Seu filho, Flavius Claudius Valerius Constantino – ou simplesmente Constantino (272-337) –, o acompanhava no front e estava ao seu lado.
Constantino não quis nem saber da vicenália de Diocleciano. Rapidamente, impondo o princípio da hereditariedade em seu proveito, proclamou-se “César”. Na sequência, eliminou metodicamente todos aqueles que poderiam se colocar no caminho de seus planos para se tornar Imperador de Roma, incluindo Maximiano, que era seu sogro e foi forçado ao suicídio em 310.
Em 312, aos 40 anos de idade, Constantino reunificou o Império em seu favor, mas as águas seguiam turbulentas devido à questão Cristã.
Como seu pai, Constantino professava a religião monoteísta romana da época, a do Sol Invictus. Porém, com avanço do cristianismo, e querendo se manter no trono por mais tempo, Constantino decide apoiar os Cristãos: em 311, aprova um decreto de tolerância que coloca um fim à perseguição dos Cristãos; em 313, lhes concede liberdade religiosa por meio do Édito de Milão.
O Édito foi uma jogada de mestre: pela primeira vez na história da Roma Antiga, um imperador tornava-se também chefe da Igreja, com mudanças radicais na vida pública. Agora, os pagãos são reprimidos e os cristãos passam a ocupar os mais altos cargos administrativos. Com o Édito, Constantino colocou a cristandade aos seus pés, tomando para si o posto de “normatizador” da fé.
Em 321, o domingo, dia da ressurreição de Cristo, é declarado feriado legal. (Se você tem folga aos domingos, agradeça isso a Constantino!).
Em 324, ciente de que Roma era uma capital ruim, cheia de disputas, e localizada muito longe das fronteiras, dos exércitos e dos tribunais imperais, Constantino rebatizou a cidade de Bizâncio, dando-lhe o nome de Constantinopla. Sua intenção é transformar Bizâncio em uma Nova Roma.
Em 325, devido às brigas intermináveis entre os cristãos, Constantino organiza e preside o Concílio de Niceia, o primeiro Concílio Ecumênico da Igreja Católica. O motivo mais específico para o Concílio eram as encrencas causadas por Ário (250-336), um sacerdote ligado à Igreja de Antióquia.
O arianismo negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai: Jesus seria um subordinado de Deus, e não o próprio Deus em si e por si mesmo. As ideias de Ario estavam dividindo as Igrejas do Oriente, e isto diminuía o poder de Constantino e atrapalhava seus planos para Constantinopla.
No Concílio de Niceia, decide-se de uma vez por todas que Jesus e Deus são uma unidade (Credo de Niceia), e Ario é banido. Também determina-se que os bispos de Roma – e não os bispos de onde quer que seja a capital do Império – são os verdadeiros sucessores de São Pedro e líderes supremos por direito da Igreja. Entretanto, o Concílio de Niceia não esclarece a divindade do Espírito Santo, e a terceira pessoa da Santíssima Trindade se torna um tema de debate.
O fôlego de Niceia é suficiente para que Constantino retome a transformação de Bizâncio. Em 326, ele consagra a Basília de São Pedro. Em 327, inicia em Antióquia – na época, a terceira cidade mais importante do mundo, atrás apenas de Roma e Constantinopla – a construção da “catedral do sol dourado”. O magnífico templo, com interior coberto por mosaicos com fundo de ouro, é concluído em 347 e serve de modelo para outras igrejas da cristandade, tanto bizantinas quanto latinas.
Em 330, cinco anos após o Concílio de Niceia, a capital do Império é oficialmente transferida para Constantinopla, e esta data pode ser considerada como o início da fundação do Império Bizantino.
Com o apoio de Constantino, o Cristianismo atinge um apogeu, mas a mágoa dos romanos de Roma pela perda do título de Capital do Império segue firme e forte – ainda que Constantino tenha doado todas as províncias do Ocidente para o Papa Silvestre em 335. Essa mágoa seria colocada de lado poucas décadas mais tarde com o início das Grandes Migrações.