SOBRE TRANSGÊNEROS, TRANSEXUAIS E A ALIENAÇÃO DA IGUALDADE: PROVANDO O PRÓPRIO VENENO

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As crianças sempre fazem as melhores perguntas. Outro dia, batendo um papo durante a consulta do Victor, um menino de 8 anos que mora bem perto do posto onde atendo, fui bombardeado com essa: “Se uma cobra morder a própria língua, ela morre envenenada?”.

É triste admitir, mas não consegui responder ao Victor na mesma hora e tive que pesquisar sobre o assunto mais tarde, ao chegar em casa. E descobri que as serpentes são imunes ao próprio veneno. Por isso, mesmo que acidentalmente elas mordam a língua, nada vai acontecer.

Além disso, segundo os biólogos, é virtualmente impossível para uma cobra morder a própria língua: a língua das serpentes é muito fina e só faz movimentos para frente e para trás quando ela está com a boca fechada. Para que a língua fosse atingida pelos dentes que inoculam o veneno, localizados na lateral da boca, o órgão teria de fazer uma curva para os lados – uma manobra muitíssimo improvável de ser realizada.

Em teoria, o veneno de uma espécie de serpente até surtiria efeito contra outras espécies. Na prática, porém, não acontece na natureza essa história de uma cobra picar a outra. Se for preciso, ela engole a outra a partir da cabeça e resolve o assunto.

Solucionada a dúvida da cobra, fiz um café, sentei na varanda e, zapeando as notícias mais lidas da semana, me flagrei pensando em venenos mais perigosos – e serpentes maiores. Todo esse relativismo pós-moderno criou uma leva de conceitos potencialmente tóxicos como a peçonha de uma mamba negra. A tolerância com idéias – que é sempre saudável – transfigurou-se em uma insólita tolerância com atitudes – que nem sempre exibe essa mesma qualidade.

No caso, a notícia na tela do celular que suscitou a reflexão falava sobre Tiffany, jogadora de vôlei transgênero do Bauru e primeira transexual a disputar a competição. O atleta anotou 70 pontos em apenas três partidas disputadas e tem a maior média do torneio, com 23,3 pontos por jogo. Tandara, do Osasco, a maior pontuadora no total, tem média de 19 por partida.

A PERFÍDIA JACTANTE DA IDEOLOGIA RELATIVISTA

Quando um homem nutre a convicção de que nasceu mulher em um corpo errado, isso não tem qualquer outra dimensão que o universo íntimo do próprio indivíduo. Entretanto, quando um homem, portando esta convicção, toma a atitude de colocar a marca de seus pés no mundo exterior, a conversa é outra.

Você achar que é uma mulher é uma coisa. Frequentar o banheiro ou o vestiário delas munido dessa premissa, é completamente diferente. Acreditar que tem o direito de competir em esportes contra o sexo oposto, então, beira a insanidade – algo que combina bem com a loucura coletiva daqueles que defendem isso como um “direito baseado na tolerância”.

Richard Raskind nasceu em 1934 e foi um dos melhores tenistas juvenis no fim da década de 40 e capitão do time de tênis de seu colégio. Richard também liderou a equipe da universidade de Yale em 1954 e mais tarde se alistou na Marinha americana. Em 1960, disputou a chave masculina do US Open, sendo derrotado ainda na primeira rodada. Em 1975 se submeteu a uma cirurgia de mudança de sexo e adotou o nome de Renne Richards. Em 1977, uma ação na Suprema Corte de Nova York garantiu-lhe o direito de disputar novamente o US Open – porém, desta vez, na chave feminina. Com este recurso, Richards alcançou o top 20 dos tenistas de sua geração.

Raskind foi apenas o começo de um dilema kafkiano que se disseminaria nas décadas seguintes. As organizações esportivas sempre procuraram maneiras de verificar o sexo dos atletas para certificar uma competição justa em todos os esportes. Estes testes começaram na década de 1940 através de “atestados médicos de feminilidade”. Na década de 1960, passou-se a empregar a inspeção visual da genitália associada a uma análise cromossomial, assegurando que os atletas possuíam um genótipo XX ou XY – o que resultou na exclusão de transgêneros das competições.

Mais recentemente, em sintonia com o avanço do relativismo politicamente correto da pós-modernidade, o foco do escrutínio foi deslocado para os níveis de testosterona, e novas diretrizes foram emitidas para permitir a inclusão de transgêneros em competições oficiais. Em 2003, o Comitê Olímpico Internacional (COI) divulgou suas instruções para participação de atletas transgêneros:

  1. Os atletas deveriam ter se submetido a procedimentos de mudança de sexo, incluindo alterações na genitália externa e remoção de suas gônadas sexuais.
  2. Os atletas deveriam apresentar confirmação legal de seu novo gênero.
  3. Os atletas deveriam ter passado por no mínimo 2 anos de terapia hormonal antes da competição.

Em 2004, a participação de atletas transgêneros foi liberada. Contudo, em 2015, o COI modificou suas diretrizes ao reconhecer que a confirmação legal da transição de sexo de alguns atletas poderia ser difícil em alguns países. Além disso, requerer que indivíduos saudáveis sejam submetidos a cirurgias foi considerado inconsistente com as noções de direitos humanos. Com isso, o COI passou a exigir que apenas os transgêneros para o sexo masculino (mulheres que se diziam homens) tivessem seu gênero declarado há mais de 4 anos e demonstrassem níveis de testosterona abaixo de 10 nmL/L durante 1 ano antes da competição.

Os transgêneros para o sexo feminino (homens que se dizem mulheres) receberam do COI a permissão para competir sem maiores restrições, e os resultados dessa tolerância engajada no mundo esportivo vêm se aglomerando como um axioma profético dos nossos mais autênticos desatinos:

Gavin Hubbard, nascido em 1978, estabeleceu os recordes neozelandeses para a categoria júnior de levantamento de pesos em 1988, erguendo 135 kg no arranque e 170 kg no arremesso. Em 2017, agora sob o nome de Laurel após uma cirurgia para troca de sexo, Hubbard ganhou a medalha de ouro no Australian International & Australian Open em Melbourne, ao erguer 123 kg no arranque e 145 kg no arremesso.

Em 2016, aos 36 anos de idade, o homem biológico Jonathan Bearden – agora uma mulher ideológica de nome Jillian – ganhou a divisão El Tour de ciclismo em Tucson com o tempo de 4h e 26 minutos.

Nascido homem biológico, o transgênero Christina Ginther resolveu que seria jogador na liga feminina de futebol semi-profissional em Minnesota (EUA). Com 18 anos de idade e sólidos 1,80 m de altura, Ginther foi recusado e decidiu processar judicialmente o clube Minnesota Vixen e a Independent Women’s Football League. Ele pensa que, lutando dessa maneira contra a discriminação, está “dando voz e promovendo o empoderamento” para os transgêneros de todo o mundo.

Fallon Fox nasceu em 29 de novembro de 1975, em Toledo, Ohio. Desde os 6 anos de idade, teve dúvidas quanto à sua identificação de gênero, mas, ainda assim, cresceu como um homem heterossexual, casou e teve uma filha com sua esposa. Para pagar as contas de casa, Fallon entrou para a Marinha americana, servindo como especialista operacional no USS Enterprise – o primeiro super porta-aviões de propulsão nuclear a fazer parte da frota da Marinha de Guerra dos Estados Unidos.

Saindo da marinha, Fallon decidiu resolver seus conflitos internos: arrumou um trabalho como motorista de caminhão para juntar dinheiro e submeter-se a uma série de procedimentos cirúrgicos e estéticos – levados a cabo em 2006, em Bangkok.

Fallon Fox ganhou os holofotes da mídia em 2013 após receber permissão da Comissão de Desportos do Estado da Califórnia e da Flórida para lutar MMA na categoria feminina. Na época, vários comentaristas do UFC (Ultimate Fighting Championship, organização de MMA que produz eventos ao redor de todo o mundo) se opuseram à liberação, mas a controvérsia não impediu que as lutas fossem agendadas. E esta é a lista dos resultados de Fallon:

  • 17/05/2012 – Venceu Elisha Helsper por nocaute técnico após 2 minutos de luta.
  • 01/03/2013 – Venceu Ericka Newsome por nocaute (joelhada) após 39 segundos de luta.
  • 24/05/2013 – Venceu Allanna Jones por submissão (mata-leão) após 3:36 minutos de luta.
  • 12/10/2013 – Perdeu para Ashlee Evans-Smith por nocaute técnico (socos) após 4:15 minutos de luta
  • 21/03/2014 – Venceu Heather Bassett por submissão (chave de braço) após 44 segundos de luta.
  • 13/09/2014 – Venceu Tamikka Brents por nocaute técnico (socos) após 2:17 minutos de luta.

No UFC, a duração média dos enfrentamentos é de 10 minutos. Lutando contra mulheres, Fallon Fox perdeu apenas uma vez, lhe conferindo um aproveitamento de 80% de vitórias – que foram conquistadas em uma média de 2 minutos e meio, 5 vezes mais rápido que um combate entre pessoas do mesmo sexo.

Após ser vencida por Fox com uma fratura no osso orbital, Tamikka Brents desabafou nas redes sociais: “Já lutei com várias mulheres e nunca senti tanta potência quanto na luta de hoje. Não sou médica, não posso dizer se isso ocorreu porque ela nasceu homem… Tudo que posso falar é que nunca me senti tão subjugada em toda minha vida, e sou uma mulher consideravelmente forte (em relação às outras mulheres). A pegada dela é diferente: em geral, consigo me movimentar em um clinch, mas contra Fox isso foi simplesmente impossível”.

Muito além de Rodrigo Pereira de Abreu, a Tiffany do Bauru, ou Isabelle Neres e companhia, o que está em questão não é o apanágio de identificar-se com o sexo que você preferir, mas o fato disso lhe conceder automaticamente direitos amealhados por aquele sexo após décadas de lutas sociais.

Se um homem quer namorar e ir para cama com outro homem, ou dois homens, ou um pelotão do exército ou uma boneca de plástico, isso é uma questão sexual biológica exclusiva dele. Mas quando, em nome de suas preferências, ele misticamente se convence de ter transformado sua programação genética XY em alguma outra coisa e passa a exigir compensações legais e distinções em nome disso, então passamos a lidar com um problema social e não apenas com uma opção individual.

VAI ALÉM DE UMA MERA PREFERÊNCIA, MEU AMIGO

O mundo dos esportes é feito por competidores que, por definição, apresentam as mais diversas desvantagens, mas essas desvantagens se tornam uma armadilha perversa quando permitimos que homens concorram fisicamente com mulheres. Historicamente, os esportes sempre apresentaram um domínio masculino: as marcas de velocidade, peso, distância, força e resistência dos homens sempre foram superiores às das mulheres.

A testosterona – o hormônio sexual dominante nos homens – regula várias funções diferentes no organismo, incluindo o desenvolvimento e a manutenção da massa óssea e muscular. O uso de suplementos de estrogênio e bloqueadores de testosterona (ou castração física) resultam em uma redução na massa muscular, na densidade óssea e na contagem de hemácias, levando a uma diminuição da força, da velocidade e da resistência física. Todavia, são necessários pelo menos 15 anos de supressão hormonal para começar a observar alguma mudança significativa na estrutura óssea de um homem que decidiu se assumir mulher.

E a lógica vai bem além da testosterona. Por exemplo: uma das grandes diferenças entre homens e mulheres está na estrutura do quadril e tudo mais que se encontra ligado a ele. Não é apenas uma questão de ter um quadril mais ou menos estreito, mas da razão entre largura do quadril e comprimento do fêmur. As mulheres tendem a apresentar uma maior razão quadril-fêmur, levando a uma maior capacidade de abdução do quadril. Isto tem um efeito dominó no modo como as articulações e os músculos se coordenam e são recrutados durante a atividade física – e este dado anatômico-funcional não é abolido com modulações hormonais.

Nas maratonas, a diferença de tempo entre os recordes masculinos e femininos é de 10%. O mesmo vale para outras provas de atletismo, como os 100 metros rasos (tempo de 9,58 segundos para Usain Bolt e 10,49 segundos para Florence Griffith-Joyner) e os 800 metros (tempo de 1:40.91 minutos para David Rudisha e de 1:53.28 minutos para Jarmila Kratochvilova).

Em todas essas situações, o diferencial reside na formatação do esqueleto, maior massa muscular total, maior concentração de fibras musculares Tipo II (de contração rápida), maior capacidade pulmonar e maior altura média, além da ossatura reforçada para suportar a musculatura, presença de ligamentos e articulações mais resistentes e menor gordura corporal média dos homens.

Uma vez que estes fatores físicos e fisiológicos conferem ao sexo masculino uma evidente vantagem esportiva, será que podemos considerar justo – ou mesmo seguro – que homens biológicos enfrentem mulheres biológicas em competições? Deixo as palavras com as adversárias de Fallon Fox…

O DELÍRIO DA SERPENTE

Inspirados na excêntrica luta pela igualdade entre os gêneros, homens biológicos estão invadindo times femininos, detonando recordes e dominando esportes como levantamento de peso, ciclismo, luta livre, futebol, vôlei, handball, golfe, basquete e MMA.

Se homens biológicos podem competir nos esportes contra mulheres biológicas, não demorará muito para que esses homens – especialmente nas categorias de elite – logo comecem a ganhar todas as corridas e estabeleçam todos os recordes. E as mulheres biológicas serão excluídas das competições femininas por não alcançarem os índices necessários por serem… mulheres biológicas! Sem contar que soa como algum tipo de palermice ter de adicionar o termo biológica ou cis-gênero para especificar o tipo de mulher ao qual nos referimos.

A medicina pode mudar algumas coisas no seu organismo, mas ela não pode redefinir complemente seu corpo para que ele se transforme em algo diferente do que é.

Contrapondo o discurso ideológico, estamos tendo acesso a seguidas provas do óbvio: homens e mulheres são diferentes e a igualdade entre os gêneros não existe no mundo esportivo. Fisiologicamente falando, entre homens e mulheres existe um abismo de potência física que não pode ser escondido debaixo do tapete ou simplesmente guardado de volta no armário.

O relativismo pós-moderno não afeta apenas indivíduos e atletas transexuais e transgêneros com seu viés vitimizante (pessoas LGBT são iguais a qualquer outra pessoa e por isso merecem direitos diferentes? Neste caso, seriam direitos ou privilégios?), mas também contribui para uma espécie de alucinação em massa onde somos forçados a aceitar o absurdo de que um homem biologicamente XY, ao declarar-se mulher, deve ser agraciado com as mesmas prerrogativas de uma mulher biologicamente XX – ou cis-gênero, como prefere o frenesi do politicamente correto. Isso não é mais tolerância: é apenas pura e genuína insanidade grotesca. E estes, meu amigo, são os nossos tempos. Esta é a cobra que está mordendo a própria língua.

Gostaria de saber o que o Victor perguntaria sobre ela.

 

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