Um participante da fanpage ManhoodBrasil enviou uma mensagem inbox querendo tirar algumas dúvidas. Disse o cidadão: “Tem tanta coisa absurda circulando na Internet que tem vez que fica difícil separar o joio do trigo…”.
Neste caso específico, ele queria saber o que era sério e o que não passava de pura crendice depois de receber uma notícia bombástica sobre experimentos científicos realizados com o DNA. Estas pesquisas secretas – “pasme!” – comprovavam uma miraculosa capacidade do DNA para transmitir emoções através de campos de energia. Sim, desse nível.
Imediatamente, lembrei-me do maravilhoso filme A Menina e o Porquinho.
Se você não assistiu, permita-me fazer uma breve introdução: na película, uma aranha tenta evitar que um porquinho de excelente índole vá para a panela. Para tanto, ela começa a escrever palavras com sua teia, tentando comunicar aos humanos o valioso caráter do jovem leitão. Logo uma pequena multidão começa a visitar a fazenda e o celeiro, admirada com o “milagre”.
Na mesma fazenda da aranha escritora moram um casal e sua filha, uma menina apaixonada por todos os bichos do local e, em especial, pelo porco. Preocupada com os recentes acontecimentos, a mãe procura o médico da cidade vizinha: seria sua filha a responsável pelas palavras na teia da aranha?
Abre parênteses:
– Só pode ser ela, Doutor. Pense bem: o senhor não acha impossível uma aranha escrever com sua teia? – pergunta a mãe, entre aflita e incrédula. – É um absurdo, não um milagre!
– A senhora não acredita em milagres? – questiona o doutor. – Veja bem, a senhora tricota, não? – diz o médico, antes que a mãe possa se manifestar novamente.
– Sim.
– Isso porque ALGUÉM – frisou – lhe ensinou a tricotar, correto?
– Sim, é verdade.
– Mas quem ensinou a aranha, com aquele cérebro menor que a metade de uma cabeça de alfinete, a tecer algo tão incrível quanto sua teia?
– Eu entendo, eu entendo. Mas daí a escrever? Sinceramente…
– Minha senhora, a senhora ainda não entendeu. A aranha não precisa escrever com a teia para ser um milagre. A simples existência teia É o milagre.
Fecha parênteses.
A natureza milagrosa do DNA não precisa ser validada com pesquisas fantasiosas. O DNA é o PRÓPRIO milagre. E isto apenas já deveria ser explicação suficiente para uma espécie que se diz chamar Homo sapiens.
SAPIENS? MESMO?
Para compreender a extensão da nossa cegueira, vamos um pouco além, ainda na biologia e distante da metafísica. Na noite em que seus pais lhe conceberam, 250 milhões de espermatozoides viajaram para encontrar 1 dos mais de 500 óvulos de sua mãe. Fosse um outro óvulo, ou o vizinho daquele espermatozoide, você não estaria aqui. Tente fazer uma análise combinatória para ver quantas pessoas diferentes poderiam ter surgido naquela noite ao invés de você…
Pois justamente aquele óvulo e aquele espermatozóide se encontraram e, apesar de todos os riscos inerentes à anfimixia e ao processo de gestação, você está aí, completando suas primaveras. Você é uma improbabilidade estatística ambulante. Cada um de nós é.
E entre uma translação da Terra e outra, encontramos com alguém na rua que sofreu os mesmos riscos para se formar em humano. De todas as bilhões de estrelas e planetas, e quem sabe bilhões de universos, você e essa outra pessoa se encontram justamente naquele lugar, naquele momento, rodeados de outros seres vivos, e podem se comunicar e trocar sentimentos.
Faça novamente as contas: quais seriam as chances disso ocorrer?
Cada encontro com uma pessoa é um evento único. Cada dia de nossas vidas é como se dobrássemos as leis da Física e as probabilidades Matemáticas mais absurdas. Estamos caminhando contra todo e qualquer cálculo baseado na lógica. E ainda assim, viver parece ser a coisa mais corriqueira do mundo. Quando é um milagre.
Você não precisa quantificar campos magnéticos em moléculas de DNA ou presenciar fenômenos paranormais para perceber que existe algo de muito especial neste mundo. Tudo que você precisa é de um espelho.
E, com alguma sorte, de um pouquinho de lucidez.