ROTHBARD, O FUNCIONÁRIO PÚBLICO LIBERTÁRIO

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Com ares de revolucionário anarquista e sem papas na língua, Murray Rothbard pode ser considerado o criador do libertarianismo moderno. Para Rothbard, o governo e o Estado sempre tendem para a destruição dos Direitos Naturais individuais e por isso deveriam ser mantidos extremamente reduzidos ou abolidos – de preferência, abolidos, e o mais rápido possível, sem reduções graduais. Rothbard não concedia ao Estado qualquer sanção Moral e o atacava como se ele fosse um bando de assaltantes, um grupo oligárquico de predadores ou um enorme parasita que drena energias da sociedade sem oferecer coisa alguma em troca.

 
Segundo Rothbard, “os Estados sempre precisam de intelectuais formadores de opinião para enganar o público, e fazê-lo acreditar que seu governo é sábio, bom e inevitável”. Curiosamente, foi exatamente este o papel que ele cumpriu louvando o Libertarianismo por anos e anos enquanto era financiado pelo dinheiro produzido por outras pessoas: entre 1953, o recém-casado Rothbard começou a pagar suas contas com repasses periódicos do William Wolker Fund, uma fundação inicialmente voltada para obras de caridade em Kansas City e programas de bem-estar social. Quando de sua fundação, a instituição tinha como objetivos cuidar dos enfermos, dos idosos e dos desfavorecidos, fornecer educação e melhorar as condições de vida e de trabalho.
 
Contratado para ser algo como um think tank pela William Wolker, o trabalho de Rothbard consistia em adaptar Ação Humana: Um Tratado sobre Economia (1940), a magnum opus de Ludwig Mises, para uma linguagem mais acessível ao público mediano, além de escrever textos que promovessem ideologias de direita. Tudo correu bem até 1962, quando o Fundo colapsou após uma série problemas internos de gerenciamento. Desempregado, Rothbard distribuiu alguns currículos e, em 1966, aos 40 anos de idade, foi admitido como professor de Economia no Instituto Politécnico do Brooklyn, a segunda escola particular de engenharia e tecnologia mais antiga do EUA.
 
Entre 1969 e 1975, o Instituto Politécnico atravessou um período de enormes dificuldades econômicas e sobreviveu apenas e graças aos repasses feitos pelo Estado de Nova Iorque. O apoio foi fornecido após o governo entender que o fechamento do Instituto poderia provocar uma onda de aperto econômico na localidade. Graças a esse auxílio, Rothbard recebeu seus proventos durante cerca de 20 anos, ministrando aulas dois dias na semana. O tempo livre permitiu que fundasse o Centro de Estudos Libertarianos em 1976 e o Instituto Ludwig von Mises em 1982. Em 1986, aos 60 anos de idade, Rothbard transferiu-se para a Lee Business School, na Universidade (pública) de Nevada, onde lecionou até ser vitimado por um ataque cardíaco, em 7 de janeiro de 1995, aos 68 anos de idade. Ou seja, durante quase metade de sua vida, entre 1962 e 1995, Rothbard, o grande ativista libertariano anarquista revolucionário e inimigo do “Estado” viveu às custas do… Estado.
 
Em Por Uma Nova Liberdade (1973), Rothbard salienta – entre outras coisas – a importância do auto-pertencimento, e nega que a sociedade seja um “organismo vivo à parte”, mas apenas uma abstração que não existe de fato. Todavia, ele sistematicamente transfere a responsabilidade dos problemas na “sociedade” – desde o congestionamento no tráfego aos crimes nas ruas, a poluição dos rios, a qualidade dos programas de TV e a eficiência da educação – para o Estado, saltando a etapa que deveria caber ao autopertencimento.
 
Uma vez depois da outra, Rothbard exime o indivíduo do encargo e das consequências de suas próprias escolhas – inclusive da escolha de viver sob um governo – e coloca toda desordem e imprestabilidade na conta do Estado. Eu conheço essa mania de culpar o Estado ou outras pessoas pelos nossos próprios infortúnios. Não obstante, jamais poderia imaginar encontrar algo assim sendo defendido por um ideólogo que se diz à Direita do espectro político. Sempre acreditei que esta era uma prática mais usual da Esquerda, mas confesso que fui surpreendido ao deparar com as ideias singelas do guru de Nevada.
 
 
 

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