POR QUE OS HOMENS ACHAM DIFÍCIL ENCONTRAR UM AMIGO?

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Conheço um monte de homens que afirmam que têm conhecidos no trabalho, aliados, colegas de trabalho e até mesmo inimigos, mas conheço pouquíssimos homens que podem afirmar “eu tenho um Amigo”. Este é fato tão lamentável quanto fácil de ser comprovado – tão fácil e tão comum que poucos homens encaram isto como algo “fora do normal” ou se esforçam a fazer algo a respeito.

Curiosamente, não era assim na infância, era? Quando éramos crianças, formávamos laços verdadeiros com outro “homens”. Isso também ocorreu durante a adolescência e talvez até um pouco mais tarde, durante a universidade ou o serviço militar. E então, tão misteriosamente quanto surgiu em nós, a capacidade de formar amigos desapareceu no vácuo. Nos fechamos em conchas para “nos proteger”. Proteger de quê?

A resposta é dura e simples: a esmagadora maioria dos homens simplesmente não confia um no outro. Um bando de homens juntos se parece bastante com um bando de leões famintos trancados em uma mesma jaula: eles rosnam ou ficam em um silêncio ameaçador avaliando os “adversários”, e permanecem sempre em guarda. Os poucos dentre eles que aceitam a importância de ter amigos encara esta necessidade com uma boa dose de constrangimento, como se isso fosse algum tipo de vulnerabilidade, homossexualidade ou regressão à infância.

Assim, para fugir da vergonha, os homens procuram pretextos para “formar amigos” como, por exemplo, jogar cartas, jogar bola, assistir uma partida de futebol ou tomar cerveja. Arrisco dizer que “Bora lá tomar umas” virou a principal maneira de os homens dizerem “Sinto falta de passarmos algum tempo juntos como amigos”. E a cerveja permite ir além disso: além de ser a “palavra-chave”, ela também oferece a desculpa perfeita para que os homens baixem um pouco suas defesas – uma peculiaridade que é muito mais que psicológica: é algo fisiológico.

O álcool reduz a atividade no lobo pré-frontal, justamente a área do cérebro responsável por controlar comportamentos que podem nos colocar em risco. Uma vez com o lobo pré-frontal “sedado” pela cevada borbulhante, o sujeito se sente mais à vontade para assumir o risco de expor como se sente. Fico imaginando quantas serenatas e poemas foram feitos com este tipo de circunstância… Mas, como hoje não se fazem mais serenatas, tampouco poemas são declamados debaixo das sacadas das senhoritas, sobrou para a cerveja a oportunidade de conectar homens. E os fabricantes de cerveja sabem disso – e como sabem! Em Portugal, o consumo per capita de cerveja é de 53 litros/ano. Na Inglaterra, 71 litros/ano. Na Islândia, 75 litros/ano. Na Espanha, 84 litros/ano. Na Irlanda, 98 litros/ano. Na Alemanha, 106 litros/ano. Na República Checa – a campeã – o consumo médio é de 143 litros/ano. Os brasileiros consomem em média 62 litros de cerveja per capita anualmente.

Com ou sem cerveja – ou vinho, ou uísque, ou cachaça e similares –, na profundidade de seus anseios mais íntimos os homens anseiam pela amizade com outros homens, mas querem que alguma desculpa torne esta busca “segura” para suas identidades masculinas. Se não acham uma desculpa boa o suficiente, fogem das oportunidades – e está é uma tolice indesculpável! Qualquer um que já teve um Amigo de verdade sabe o quanto este tipo de relacionamento pode enriquecer nossas vidas. Amigos diminuem nossa dependência das mulheres (e são auxiliares valiosíssimos nos períodos de crises com elas), nos protegem contra diversas pressões da vida, amenizam a solidão e, acima de tudo, reafirmam o valor que sentimos por estarmos vivos.

Valorize seus amigos, compartilhe com eles a parte mais especial de si mesmo – qualquer que ela seja. E ouça com grande empatia as conquistas e dificuldades dele. Caso não possua um círculo de amigos próximos, torne isso uma prioridade em sua vida, tendo sempre em mente as palavras de Ralph Waldo Emerson: “A única maneira de se ter um Amigo é sendo um”.

 

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Referências:

. Ken Druck e James C. Simmons. Os Segredos dos Homens – conhecendo a face oculta masculina. Editora Saraiva, 1989.

. Abernathy K, Chandler LJ, Woodward JJ. ALCOHOL AND THE PREFRONTAL CORTEX. Int Rev Neurobiol. 2010; 91: 289–320. doi: 10.1016/S0074-7742(10)91009-X

. World Population Review. “Beer Consumption By Country 2021”. Acessado em https://worldpopulationreview.com/country-rankings/beer-consumption-by-country

. Statisa. Volume of beer consumed per capita in Europe in 2019, by country. Acessado em https://www.statista.com/statistics/444589/european-beer-consumption-per-capita-by-country/

. G1 Economia. Consumo de cerveja ‘migra’ para dentro de casa e volume de vendas no Brasil é o maior desde 2014. Acessado em https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/05/23/consumo-de-cerveja-migra-para-dentro-de-casa-e-volume-de-vendas-no-brasil-e-o-maior-desde-2014.ghtml

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