Em A Riqueza e a Pobreza das Nações, David Landes argumenta que, embora os recursos naturais e a geografia sejam importantes para explicar por que alguns países são capazes de dar um salto para a industrialização e outros não, o fator-chave na verdade é a base cultural do país, especialmente o grau de internalização de valores como trabalho árduo, prosperidade, honestidade, paciência e tenacidade, assim como até que ponto o país está aberto à mudança, às novas tecnologias e à igualdade para as mulheres. A boa notícia é que a cultura não é apenas importante, mas pode mudar.
As culturas não fazem parte de nosso DNA: são produto do contexto de qualquer sociedade, incluindo fatores como geografia, nível de educação, liderança e experiência histórica. Quando esses fatores mudam, a cultura também pode mudar.
Em pouco mais de meio século, o Japão e a Alemanha passaram de sociedades altamente militarizadas a sociedades altamente pacifistas e democráticas. Durante a Revolução Cultural, a China parecia estar dominada por uma loucura ideológica; hoje a China é sinônimo de pragmatismo, competitividade e meritocracia. A cidade-estado árabe de Dubai usou seus petrodólares para construir o maior centro cultural, turísticos, de serviços e de computação do Golfo da Arábia. Ao mesmo tempo, tornou-se um dos lugares mais tolerantes e cosmopolitas do mundo – e os turistas nem sequer precisam de visto. Portanto, é claro que a cultura é importante, mas a cultura se assenta em contextos, não em genes.
Uma nação consegue organizar-se para este salto a partir de duas qualidades primordiais:
1) a disposição e a capacidade de unir-se e sacrificar-se em prol do desenvolvimento econômico, e
2) a presença de líderes com suficiente visão para perceber o que precisa ser feito e disposição para usar o poder na promoção das mudanças necessárias, em vez de enriquecer e preservar o status quo ou se deixar distrair pela ideologia e pelas rivalidades locais.
Todos querem desenvolvimento econômico, mas, para isso, é preciso desejar mudanças.
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*Adaptado de Thomas L. Friedman. O Mundo é Plano – uma breve história do século XXI. Ed. Objetiva (2005).