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Os conceitos e teorias Morais de uma determinada época em geral refletem especificamente a realidade desta mesma época. Eles expressam, com graus variados de sucesso, as principais manifestações da cultura coletiva à Moralidade vigente. A crise atual da Moralidade não é uma crise total, profunda e duradoura, mas uma tempestade incompleta e transitória.
A Teoria Ética da Virtude de Aristóteles ofereceu uma visão coerente da Moralidade que aguentou bem até o Iluminismo. Os séculos XVIII e XIX desconstruíram essas certezas, mas falharam em oferecer fundamentações alternativas para um novo código moral homogêneo e amplamente aceitável. Quando o Iluminismo removeu a supervisão de deus da Moralidade, fomos deixados à mercê de tendências Utilitárias e intuições de Objetivismo. A crise Moral que atravessamos agora parece oferecer apenas duas opções: ou aceitamos o Niilismo de Nietzsche ou criarmos uma versão editada da Virtude Aristoteliana.
Os pós-modernistas – essa raça alienígena que parece ter descido de um disco voador após a queda do Muro de Berlim em 1989 – negam qualquer meta-narrativa para o mundo: todos viemos de e vivemos em uma perspectiva flexível moldada pela cultura, de pequenas histórias enviesadas que habitamos e que habitam em nós, dizem eles. Embriagados com as concepções de filósofos como Jean-François Lyotard e Jean Baudrillard, os representantes dessa geração estão tão afundados em olhar para si mesmos, em seu próprio situacionismo, que ninguém mais é capaz de defender objetivamente qualquer valor objetivo.
Esta é a diferença mais óbvia entre o pós-modernismo e a maioria das outras épocas da humanidade: enquanto em outros tempos a preocupação era desvendar o mundo como ele realmente é, o foco agora mudou para como percebemos o mundo e como descrevemos o que estamos vendo. Tudo se tornou contingência, nada mais está fixo no lugar – e esta visão da realidade tem várias implicações.
Primeiro: sim, a realidade é inescrutável. Schopenhauer já havia dito isso em seu longo e cansativo tratado O Mundo como Vontade e Representação. Nosso situacionismo nos impede de acessar a realidade ou ter um conhecido da Verdade substantiva oculta nele. Isso não significa dizer que o mundo real não existe, mas que nunca conseguiremos nos livrar completamente de nossos vieses humanos para alcançá-lo por inteiro.
Segundo, a Verdade e o Conhecimento – e, por conseguinte, a Moralidade – são construções da linguagem. Eles refletem os prismas de quem os enuncia e não devem ser confundidos com uma declaração factual da realidade em si. Não acessamos os fatos, apenas nossa interpretação deles – e isso elimina a possibilidade de absolutismo de qualquer Verdade captada.
É importante observar que o pós-modernismo não afirma necessariamente que cada pessoa possui sua própria verdade. O que está implícito é que nossas versões da Verdade são profundamente moldadas pela comunidade e pela cultura onde estamos inseridos. Como Jacque Derrida sugeriu, não existe um sentido fixo em qualquer texto – apenas a ótica do autor. E cada leitor desenvolverá sua própria concepção, muitas vezes diversa da intenção original do autor. Nesse ponto, os Relativistas infelizmente saíram na frente.
Uma terceira implicação do pós-modernismo é que o progresso da Moralidade torna-se uma ilusão. O otimismo da modernidade, que se baseava em uma imensa confiança na objetividade e na capacidade de certeza humana, foi executado em uma guilhotina. “Avanço” e “Conquista” são construtos sociais, são bagagens, restos da modernidade que utilizávamos para explicar o mundo com metanarrativas. Estas expressões de nosso situacionismo não podem ser empregadas para avaliar outras culturas ou outros tempos.
Sem um conceito claro de progresso, o que significa agora dizer que uma sociedade está avançando? Nesta colisão de abstrações, fatalmente emergirá um novo modo de trabalhar e de pensar – ou pelo menos é o que se espera…
PÓS-MODERNISMO VERSUS RAZÃO
O fato é que muitas pessoas, frustradas com a insuficiência emocional das ferramentas da modernidade, aderiram à liquidez do pós-modernismo como uma forma de vingança por sua decepção. O peso dessa multidão de desiludidos provocou uma fratura mental que pode ser bem percebida em nossas manifestações artísticas atuais. Existe uma pressão para que os não-conceitos da pós-modernidade sejam aceitos como válidos. Na mesma medida, vem se formando uma poderosa corrente contra essa pressão. E essa sopa de atmosferas é o prato principal da Moral que vivenciamos.
Será que a Moralidade pós-modernista em desenvolvimento – qualquer que seja ela – se sustenta? Em uma olhada de relance, utilizando a Razão como ferramenta de escrutínio, o pós-modernismo se apresenta cheio de contradições. Ele nega a possibilidade de qualquer norma Moral que possa ser aplicada a todas as pessoas em todos os tempos. Sua metanarrativa é de que não existem metanarrativas. A Moral pós-moderna afirma que não existe Moral.
Além disso, os pós-modernistas – como aplicados Niilistas – sugerem que deveríamos rejeitar toda e qualquer noção de Moralidade, pois estamos aprisionados em nossa cultura e somos, portanto, incapazes de expressar qualquer outra coisa além de nossas apreciações limitadas. Mas, quando eles afirmam que “não existe Verdade, apenas interpretação”, isso não seria também uma interpretação?
Ao negar a existência de metanarrativas, o pós-modernismo também nega a existência de uma Verdade substantiva e veste a fantasia de um Relativista Descritivo que anseia tornar-se um Realista Normativo: “não existe verdade absoluta, existem apenas verdades” não é uma proposta objetiva, normativa e absoluta? Se toda verdade é socialmente contingente, não seria esta afirmação uma amostra da mesma contingência?
Os pós-modernistas são mestres em ignorar as regras que eles mesmos enunciam. Culpá-los de covardia intelectual – ou preguiça intelectual – seria o mínimo razoável. Na sequência, deveríamos deixá-los brincando à vontade em seu cercadinho de incongruências e esperar que atinjam a puberdade para um papo de adultos. Sejamos pacientes.