Há muitos milênios, curandeiros e xamãs anunciavam que misteriosos “humores” produzidos pelo próprio organismo seriam capazes de influenciar as atitudes humanas, determinando estados de ânimo e induzindo comportamentos. Eras se passaram até que estas substâncias mitológicas começassem a receber alguma luz racional – mais precisamente, por volta do Século XIX, a partir dos estudos realizados por pesquisadores como o médico francês Charles Edouard Brown-Sequard e o inglês Ernest Henry Starling.
Dr. Brown-Sequard foi um dos primeiros a postular com seriedade a existência dos “humores”, chegando a defender o emprego de injeções de extratos preparados a partir dos testículos de cães e porquinhos da Índia como um meio de prolongar a vida. Durante um congresso em Paris, em 1889, Brown-Sequard anunciou que há semanas vinha aplicando o extrato em si mesmo, sentindo-se rejuvenescido e animadíssimo aos 72 anos de idade. Um feito tão inusitado que serviria de inspiração para a criação dos personagens Dr. Jekyll e Mr. Hyde – do médico e o monstro.
Mas o termo “hormônio” seria oficialmente cunhado em junho de 1905, pelo fisiologista britânico Ernest H. Starling, então com pouco mais de 30 anos de idade. Starling observou que a administração de ácido no duodeno estimulava a produção de secreções no pâncreas, e propôs a existência de uma substância química, um hormônio, responsável pela transmissão de mensagens de um órgão para outro, ao qual batizou de Secretina.
HORMÔNIOS E EMOÇÕES
Desde estes pioneiros, o papel dos hormônios vem despertando um misto de deslumbramento científico e questionamento filosófico: afinal, até que ponto nossas reações e emoções mais intensas seriam decorrentes de meros estados hormonais?
Há algum tempo, um grupo de pesquisadores europeus fez um teste de odor envolvendo blusas femininas usadas e descobriu que os homens são capazes de identificar fêmeas no período de ovulação, possivelmente através da detecção de traços de odores relacionados a esta fase do ciclo menstrual: sem que soubessem a idade, altura, peso ou qualquer outra informação sobre as usuárias, os entrevistados mostraram maior interesse e teciam comentários mais apimentados às camisetas utilizadas por mulheres no período fértil.
Mais recentemente, um estudo realizado na Universidade do Texas e publicado na revista Biology Letters, mostrou que mulheres com altos níveis de um hormônio chamado estradiol têm mais chances de ter casos extraconjugais. Segundo os pesquisadores, o estradiol elevado acentua a autoestima e o instinto feminino para seleção de parceiros com mais qualidades.
Em um extremo, esta chamada Monogamia Oportunista Serial se transformaria em um tipo de maldição: forçada pelos hormônios a pular de um galho para o seguinte, a mulher super-estradiol se perderia em um ciclo de buscas eternas. Culpa do complexo Cinderela? Não, nada disso. Culpa do estradiol.
E ENTÃO VIERAM OS MUSARANHOS
Muito bem. Agora, os cientistas afirmam terem descoberto substâncias químicas capazes de explicar o comportamento monógamo masculino. A partir da informação de biólogos sobre um certo tipo de musaranho bastante fiel à sua fêmea, neurocientistas do National Institute of Mental Health decidiram invadir a pacata vida do pequeno roedor para desvendar qual segredo fisiológico estaria por trás desta característica.
O que eles descobriram? Que o comportamento daquela espécie de rato campestre estava fortemente associado à maior presença de receptores cerebrais para vasopressina, um hormônio produzido pela hipófise.
No cérebro dos musaranhos machos, a vasopressina desencadeia um comportamento protetor em relação à fêmea e sua cria, tornando estes tímidos animais solitários em guarda-costas agressivos e pais atenciosos. Quanto maior a quantidade de receptores cerebrais para o hormônio, mais intensa a fidelidade e o cuidado com a família.
Obviamente, fazer uma comparação direta entre musaranhos e seres humanos é no mínimo arriscado. Os roedores podem ter seus diminutos cérebros escravizados pela bioquímica, mas os complexos fatores culturais e ambientais que influenciam o comportamento humano sugerem que deve existir algo mais em nós além da manifestação de meia dúzia de humores. Somos inteligentes, sagazes, livres, apaixonados e espontâneos. Somos pessoas, não ratos.
Quer dizer, pelo menos até a próxima pesquisa.
O ser Humano, complexo do jeito que é, constuí-se dessas junções: bioquímica, biosfísica, caráter, escolhas… Mix complexo e fascinante! Portanto, esse, hormonal, é apenas um dos aspectos… Culturalmente os homens são incentivados a poligamia, não as mulheres…