Tomás de Aquino (1225-1274) foi um dos mais importantes teóricos do cristianismo. Devemos a ele o sincretismo da religião Cristã com as ideias de Aristóteles.
Em uma de suas obras mais conhecidas, “Suma Teológica” – escrita entre 1265 e 1273 –, Aquino descreveu a doutrina que se constitui numa das principais bases dogmáticas do catolicismo (1).
Na obra imensa de 2669 capítulos, Tomás diz explicitamente: “É errôneo dizer que não é lícito ao homem possuir bens como próprios. Relativamente às coisas exteriores tem o homem dois poderes. Um é o de administrá-las e distribuí-las. E, quanto a esse, é lhe lícito possuir coisas como próprias. O que é mesmo necessário à vida humana por três razões: a primeira é que cada um é mais solícito em administrar o que a si só lhe pertence, do que o comum a todos ou a muitos. Porque, neste caso, cada qual, fugindo do trabalho, abandona a outrem o pertencente ao bem comum, como se dá quando há muitos criados. Segundo, porque as coisas humanas são melhores tratadas, se cada um emprega os seus cuidados em administrar uma coisa determinada; pois, se ao contrário, cada qual administrasse indeterminadamente qualquer coisa, haveria confusão. Terceiro, porque, assim, cada um, estando contente com o seu, melhor se conserva a paz entre os homens. Por isso, vemos nascerem constantemente rixas entre os possuidores de uma coisa em comum e indivisamente”.
Na sequência, Aquino completa discorrendo sobre o “segundo poder do homem sobre as coisas exteriores, afirmando: “O outro poder que tem o homem sobre as coisas exteriores é o uso delas. E, quanto a este, o homem não deve ter as coisas exteriores como próprias, mas, como comuns, de modo que cada um as comunique facilmente aos outros, quando delas tiverem necessidade. Por isso diz o Apóstolo: manda aos ricos deste mundo que deem, que repartam francamente”.
Aquino encara a Propriedade Privada como nossa Constituição Federal: ela é válida, DESDE QUE cumpra uma função social. E o mesmo vale para qualquer riqueza, seja ela derivada de herança ou acumulada por esforços próprios.
Nenhuma doutrina religiosa parece mais comunista em suas raízes que Cristianismo.
Agora faça as contas: em um ranking de 65 países classificados segundo o índice de religiosidade, o Brasil ocupa a 23ª posição (2). Entre os 20 países da América Latina, somos os 4º mais religioso (3). Dos 208 milhões de brasileiros, 86%– ou 178 milhões de pessoas – são cristãos (4), o que sugere uma mentalidade fortemente alinhada aos preceitos de Tomás de Aquino, incluindo a vilanização da prosperidade e a relativização da propriedade privada.
Consegue entender o tamanho da sinuca de bico que este país é?
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Fontes:
(1) Tomás de Aquino. Suma Teológica. https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-teolc3b3gica.pdf
(2) https://exame.abril.com.br/mundo/os-20-paises-mais-religiosos-do-mundo-e-os-20-menos/
(3) https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150414_religiao_gallup_cc
(4) https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/o-ibge-e-a-religiao-cristaos-sao-86-8-do-brasil-catolicos-caem-para-64-6-evangelicos-ja-sao-22-2/