É simultaneamente de uma alegria e uma tristeza sem tamanho perceber que umas das vozes mais lúcidas a falar sobre o sexo masculino seja de… uma mulher. Em um debate realizado em 2015, Camille Paglia expôs suas ideias sobre Homens e Masculinidade de um modo muito lúcido e enfático. Infelizmente, seu ponto de vista não encontrou grande apoio do auditório.
Afinal, qual o papel do Homem na sociedade moderna e qual a importância da Masculinidade? Talvez os homens achem que este não é um assunto para eles, que colocar-se de pé contra os absurdos paranoico-esquizofrênicos propagandeados pelas manifestações do feminismo radical seja uma tarefa menor. “Ficar batendo boca com mulher não é coisa de Homem”, eles pensam. E deixamos que falem e gritem os impropérios que bem entendem enquanto seguimos fazendo nosso trabalho. Mas, se você observar com cuidado, verá que privar-se deste debate é um equívoco imperdoável.
No excelente A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, as pessoas que representavam o sustentáculo da produção econômica desabam uma a uma por pressões do meio político.
Ao longo das mais de 1000 páginas do livro, é interessante observar como os empreendedores tornavam-se tão absorvidos pelo processo produtivo que deixavam de participar e influenciar os meandros políticos que regulamentavam o mercado. Obviamente, a lama que subiu da política de normas e leis com interesses escusos terminou afundando a produção – o prejuízo tornou-se responsabilidade de ambos, políticos e empresários.
A Revolta de Atlas mostra que o trabalho silencioso constrói, mas também informa que a corrosão da propaganda barulhenta avança mais rápido que o trabalho é capaz de recuperar-se. Com o tempo, a propaganda convence que o trabalho não tem valor e as pessoas de valor se cansam de trabalhar. A emasculação promovida pelo feminismo dentro da sociedade segue este mesmo rumo: ela está convencendo os homens de que ser Homem é ruim e que eles não são mais necessários.
Recusar o debate, permitindo sua polarização unilateral, ou execrá-lo com frases de ódio ou menosprezando-o com arrogância, significa concordar que apenas as vozes de um lado serão ouvidas. Se você é um Homem, isso certamente não está de acordo com seus valores.
Homens de verdade têm os pés fincados em princípios sólidos de Dignidade, Honra, Estoicismo e Bravura. E o discurso feminista tem como foco danificar, poluir e denegrir estes mesmos princípios. O ataque de um lado é tão nocivo quanto o silêncio do outro.
OS DEBATES MUNK
Nascido em Budapeste, Peter Munk tinha 17 anos quando escapou dos nazistas em um trem com sua família e centenas de outros judeus. Munk fez do Canadá seu segundo lar no Canadá, formando-se em Engenharia Elétrica em 1952. Com a participação de alguns sócios, abriu a Clairtone em 1959, uma fábrica de televisores na Nova Escócia. Problemas com a mão de obra pouco qualificada levariam a Clairtone à falência poucos anos depois, resultando em um processo milionário do governo local contra Munk e seus sócios.
Desconcertado com o insucesso da Clairtone, Peter mudou-se com a esposa para Fiji e iniciou um novo projeto em um hotel local. Este investimento se tornaria a Southern Pacific Hotel Corporation, uma rede de resorts que cresceria para mais de 54 unidades espalhadas em todo Pacífico Sul. Mas Munk parecia querer uma espécie de redenção no Canadá. Algo coisa que o tornasse novamente bem-visto e admirado na pátria que o havia recebido tão bem nos difíceis anos pós-Segunda Guerra Mundial. Ele vendeu sua participação na Southern Pacific e retornou a Toronto em 1979, onde fundou a Barrick Gold. Atualmente, a Barrick é simplesmente a maior mineradora de ouro do mundo – o que tornou Peter um sujeito muito, muito rico.
Em 1992, o megaempresário abriu uma frente de trabalho voltada à filantropia, a Peter Munk Charitable Foundation, que se desdobrou em investimentos na área de saúde e educação. Em parceria com a Universidade de Toronto, a Fundação criou a MunkSchool of Global Affairs, responsável pela realização dos Debates Munk desde 2008.
Estes debates ocorrem em Toronto frente a uma audiência de 3.000 pessoas no magnífico Roy Thomson Hall. O evento tem duração de aproximadamente duas horas, ao longo das quais quatro prestigiados debatedores abordam alguma questão polêmica – dois na defesa, dois no ataque. Após as exposições, o auditório vota e um parecer consensual é emitido sobre o tema.
Em 2015, o debate abordou o papel dos gêneros no Século XXI. Foi exatamente neste evento que Camille Paglia expôs sua opinião de modo memorável. Transcrevo abaixo o painel de seu discurso. Leia com atenção.
“Se os homens são obsoletos, então as mulheres em breve estarão extintas, a menos que elas dominem técnicas de auto-clonagem como no Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley.
O rancor rabugento e invejoso contra os homens tem sido um dos aspectos mais indigestos e injustos da segunda e da terceira onda do feminismo. Os erros, os excessos e os pontos fracos dos homens foram ampliados para servirem de munição a uma prestação macabra de contas. Em nossas escolas e universidades, professores cheios de ideologias têm influenciando os estudantes com teorias tendenciosas e sem embasamento, alegando que a divisão da sociedade por gêneros é uma ficção arbitrária, opressiva e sem qualquer fundamento biológico.
Seria de surpreender que muitas mulheres bem sucedidas, a despeito de toda satisfação que encontram em suas vidas profissionais, se sintam ansiosas ou frustradas quando pensam em uma vida pessoal emocionalmente recompensadora? Quando a educação de uma cultura denigre rotineiramente os Homens e a Masculinidade, então as mulheres estarão fadadas a lidar perpetuamente com meninos. Meninos que nunca receberam incentivos para amadurecer e honrar seus genes. Sem Homens fortes para servir de modelos, e sob toda essa gritante pressão emasculadora, as mulheres jamais serão capazes de alcançar o senso mais profundo e equilibrado da própria feminilidade.
Desde o início de meus estudos como observadora e escritora, que datam de bem antes da revolução sexual dos anos 1960 e 1970, percebo que esta questão continua sendo um problema sério da sociedade. A verdadeira mística feminina, mesclando sucesso profissional com fascinação e glamour sexual, não pode ser ensinada: ela segue um fluxo a partir do reconhecimento instintivo das diferenças sexuais. Na atmosfera atual de propagandas punitivas sobre os gêneros, a imaginação sexual terminou migrando para o mundo alternativo da pornografia online, onde forças rudes da natureza não são contidas pelo moralismo religioso ou feminista.
Sempre foi uma missão do feminismo atacar e reconstruir práticas sociais que levaram à discriminação das mulheres como seres de segunda linha. Mas certamente é possível – e desejável – que este movimento progressivo de reforma seja alcançado sem estereotipar, menosprezar ou demonizar os homens. A História deve ser clara e justa: muitas tradições deletérias surgiram não porque os homens odiavam ou escravizaram suas mulheres, mas da divisão natural do trabalho ao longo de milhares de anos desde a Revolução da Agricultura, que beneficiava e protegia imensamente as mulheres, oferecendo-lhes um lugar seguro para cuidar das crianças e dos bebês indefesos. No último século, foram as ferramentas e os aparelhos econômicos inventados pelos homens – e disseminados pelo capitalismo – que libertaram as mulheres de sua labuta doméstica.
O problema de muitos livros e artigos feministas, mesmo aqueles ditos de esquerda, está em seu louvor aos valores e à cultura burguesa. As habilidades gerenciais da classe média-alta são sempre apresentados como o padrão mais desejável, o ponto máximo de evolução da humanidade. Sim, presenciamos uma transição gradual de uma economia industrial para um mercado de prestação de serviços onde as mulheres, que geralmente preferem um ambiente de trabalho mais seguro, limpo e calmo, prosperaram.
Mas a celebração do triunfo de algumas – como Hanna Rosin comenta em seu livro, The End of Men, ao falar sobre as conquistas femininas – parece ser espantosamente prematura. Por exemplo: sobre a independência feminina e a volatilidade dos relacionamentos amorosos atuais, Rosin diz que “nós atingimos o fim de milhares de anos de história humana e este é o começo de uma nova era, sem direito a retorno”. Tal posicionamento parece esquecer as duras lições que a história tem para ensinar sobre o declínio de várias civilizações. Nosso planeta está apinhado de ruínas de impérios que um dia acharam-se eternos.
Quando o próximo e inevitável apocalipse chegar, precisaremos mais uma vez e desesperadamente de Homens de verdade. Sim, certamente haverá alguma grande guerreira ou imagem feminina inspiradora, mas a maioria das mulheres e crianças estará esperando que os Homens se arrisquem em busca de comida e água, e que lutem para defender seus lares. A maioria de nós estará contando com isso.
Os Homens são absolutamente indispensáveis até mesmo neste exato momento de relativa paz, ainda que isto seja impensável para as feministas, que parecem cegas para a estrutura que torna seu próprio trabalho viável. Quem compõe a esmagadora maioria da força de trabalho que faz o serviço mais sujo, mais pesado, mais arriscado? Que abre estradas, aplaina terrenos, espalha concreto, empilha tijolos, assenta telhados, instala redes elétricas, dedetiza lares e plantações, escava minas de carvão, fura poços de petróleo?
Diariamente, ao longo do rio Delaware, na Filadélfia, observamos enormes cargueiros e navios-tanque saindo e chegando de toda parte do mundo. Esses colossos de aço são soldados, carregados e descarregados principalmente por homens. A economia moderna, e toda sua vasta rede de produção e distribuição, é um épico masculino onde as mulheres encontraram um papel para si. Sim, certamente as mulheres são fortes e merecem crédito, mas não foram as autoras desse épico”.
UM BRINDE ÀS PECULIARIDADES
A retórica de Camille Paglia no Debate Munk pode soar como um elogio nostálgico e simplório às classes trabalhadoras do começo do Séc. XX, mas ela traduz bem as idiossincrasias masculinas e femininas, e como reconhecemos nelas valores instintivos.
São exatamente essas peculiaridades que atraem um macho heterossexual humano para uma fêmea heterossexual humana e vice-versa. Ele: forte, protetor e provedor. Ela: delicada, sensual e materna. Por dezenas de milhares de anos, a natureza nos massacrou em um processo de seleção natural selvagem e brutal dentro desses exatos padrões – como esperar revertê-los com discursos e ideologias em um intervalo de meio século?
A única coisa que a fábula feminista conseguiu produzir com eficácia inquestionável até aqui foi aumentar o nível de hostilidade entre homens e mulheres. Ao atacar a misoginia, o feminismo intensificou o sentimento de raiva e desapontamento mútuo, produzindo homens passivos e inseguros de sua masculinidade, e mulheres irritadas porque os homens não são mais másculos.
É hora de produzir um novo discurso. Um discurso não de vitimização infantil e carente ou de puro ressentimento machista, mas de Verdades Masculinas. Somos Homens, afinal. É hora de nos colocarmos à altura disso.
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