DOMINANDO A TIMIDEZ – CAPÍTULO II

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Se você foi capaz de conectar os pontos do que foi exposto no capítulo anterior, então consegue entender que você levou vários anos desenvolvendo essas milhares de concepções equivocadas sobre sociabilização. Portanto, não espere resolver seus conflitos da noite para o dia. A transformação é possível, mas será gradual e nada tem a ver com passes de mágica.

AS FERRAMENTAS PSICOLÓGICAS

Existem várias maneiras de reduzir seu nível de timidez. A seguir, selecionamos dez ferramentas comportamentais que podem ser úteis para você:

  1. FORTALEÇA SUAS FUNDAÇÕES.

Que tal começar pelas coisas mais fáceis ao seu alcance? Higiene e roupas são acessíveis e podem produzir milagres na sua autoconfiança. Cuide-se bem, vista-se bem; atualize seu guarda-roupa com peças práticas e de bom gosto, dê-se de presente um novo corte de cabelo. Você se surpreenderá com a intensidade de autoconfiança que um visual melhor pode produzir.

A maioria dos tímidos parte do pressuposto que sua timidez é um problema incomum, e isso leva ao pensamento de que “deve haver algo muito errado comigo…!”. A realidade é bem o contrário: a timidez é extremamente comum. Artistas, atletas, figuras públicas… a timidez morde todo mundo, uma hora ou outra. Aceitar que esta é uma emoção comum torna seu fardo bem menos debilitante.

Estude, dedique-se e domine um determinado assunto ou habilidade. Leia sobre resiliência física e mental, e adote algumas das mudanças comportamentais sugeridas. Em muitos casos, a timidez pode surgir por você não identificar um valor específico que pode ser adicionado às suas interações. Tornar-se um expert em alguma área ajuda a abrandar essa insegurança.

  1. UM PEQUENO CONSTRANGIMENTO NÃO É UMA GRANDE AMEAÇA Á SUA VIDA.

A ansiedade social foi o modo que a natureza encontrou para garantir que você andará sempre junto do bando. Isso é mais seguro para você – e agrega força à manada, no final das contas. Mas passar uma vergonha aqui e outra acolá dificilmente significará sua expulsão da tribo. Está tudo bem. Seu cérebro pode estar tenso, porque ele segue funcionando segundo um condicionamento impresso há 10.000 anos. Mas você não está mais no paleolítico. Você não está exposto na savana. Nenhum tigre ou leão irá devorar você durante a festa ou no happy hour. Relaxe.

De repente, seu constrangimento tem origem no receio que você tem de que algumas pessoas talvez não gostem de você. E daí? Você não gosta de todas as pessoas, qual o problema nisso? Algumas pessoas não irão achar você legal, sofisticado, educado ou agradável; outras não.

As pessoas – e suas personalidades – não surgiram para o alinhamento, mas para o encontro. Não leve tudo para o lado pessoal.

  1. TESTE SUAS HABILIDADES EM CAMPO.

Essa era digital tem nos tornado preguiçosos quando falamos de encontros casuais não-virtuais e de jogar uma conversa fora com alguém que não conhecemos bem. Você pode estar lendo sobre como ser uma pessoa mais extrovertida e despachada há meses, mas, se não começar a praticar isso no mundo real, jamais irá progredir.

Não precisa ir à festa mais badalada do ano e tentar puxar conversa com a maior celebridade do lugar: pelo contrário, comece pequeno. Que tal passar a fazer contato visual com as pessoas? Quando o(a) atendente da padaria lhe der o troco, faça contato visual enquanto agradece. Um passo seguinte seria fazer uma pergunta trivial para alguém desconhecido na fila do cinema ou no seu trabalho. Peça ajuda ao vendedor quando estiver na loja – ainda que você não precise disso. Depois de uma aula, interpele seu professor e peça a opinião dele sobre o tema exposto.

Trate suas interações sociais diárias como pequenos experimentos. Veja o que acontece quando você procura interagir com as pessoas ao invés de evitá-las. Você se surpreenderá ao perceber que sociabilizar não é algo tão terrível quanto supunha e não levará você a algum tipo de aniquilação existencial.

  1. TOME UM BANHO FRIO.

Não consegue dar um pequeno passo inicial? Seu problema certamente é mais profundo que apenas timidez: é uma crise de autoconfiança. Pode ser uma crise momentânea, transitória, mas é uma crise e sua autoconfiança está em cheque. Que tal instigá-la com algo que está dentro de suas capacidades físicas? Desafie sua coragem: tome um banho frio! Uma prova de coragem física é uma das melhores vitaminas que existem para reanimar sua coragem emocional.

Se você é capaz de domar sua tendência para evitar o desconforto, então você é capaz de dominar o medo da dor emocional. Um banho frio, uma corrida de longa distância, um jejum de 12 horas… escolha seu desafio. Isso não lhe tornará instantaneamente alguém mais sociável, mas certamente passará uma mensagem poderosa para seu cérebro: tudo na vida, da sua saúde física ao seu progresso social, é determinado pela habilidade de esquecer o medo e o desconforto imediatos em nome de uma recompensa no longo prazo. Fortalecer sua vontade é um pré-requisito para qualquer avanço nesse sentido.

  1. PROCURE CENÁRIOS QUE OFERECEM UM PAPEL SOCIAL PRÉ-DETERMINADO.

Uma das causas mais comuns de fobia social está em não saber o que você deve falar ou como deve agir em certas situações. É o sentimento de incerteza que dispara a resposta de ansiedade.

É mais fácil você esquecer-se de sua timidez ao se envolver com atividades que são úteis para outras pessoas e que lhe oferecem um papel pré-determinado. Por exemplo: muitas pessoas tímidas não têm crises de timidez quando conversar com outras pessoas faz parte de seu trabalho.

Se está procurando uma maneira de vencer sua timidez e fazer novos amigos, que tal trabalhar como voluntário em alguma organização alinhada aos seus interesses e valores? Uma fundação cultural, seu centro comunitário, alguma atividade de sua igreja ou grupo de caridade… todos estes são cenários que possuem uma grande chance de interação social, onde você terá a oportunidade de conversar com várias pessoas, mas sempre dentro de um foco bem definido de ação.

  1. OLHE PARA ALÉM DO SEU UMBIGO.

A autoconsciência excessiva é o combustível que mantém a máquina de timidez funcionando dentro da sua mente. Ela é o maior obstáculo no seu caminho para a sociabilização. Portanto, se está procurando por um único conselho para superar sua timidez, é o seguinte: pare de pensar tanto em si mesmo.

Quando começar a sentir aqueles sintomas de ansiedade – as mãos suando, o frio na barriga -, não se concentre neles. Reconheça-os pelo que eles são: uma reação a alguma coisa que você percebeu como ameaça. E então acione sua mente racional para encarar o fato de que não existe uma ameaça real, dobrando o foco na pessoa que está ao seu lado ou na sua frente. Ouça de verdade o que ela está falando, faça perguntas dentro do contexto, cultive uma curiosidade genuína sobre o assunto que está sendo abordado.

O mundo não é um tribunal aguardando sua chegada para emitir um veredicto condenando seu comportamento. Provavelmente, ninguém está pensando nisso ou prestando tanta atenção no seu nervosismo. Se estiver em um encontro social e começar a se sentir um pouco ansioso, elogie seu interlocutor ou diga algo que possa fazê-lo sentir-se mais à vontade. Que tal perguntar: “Quer beber ou comer algo?”. Ao mudar educadamente o foco da sua atenção para a outra pessoa, você e ela irão se sentir mais relaxados, e todos saem ganhando.

Quanto mais você procurar ajudar outras pessoas, menor será o foco sobre si mesmo e suas preocupações, e menos tímido você se sentirá.

  1. SEJA VOCÊ MESMO…

Em geral, esta é uma péssima coisa para se dizer a alguém que sofre de timidez. Mas este conselho traz um grande desafio: afinal de contas, quem é “você mesmo”? Descontadas a carga genética que você recebeu, a sua criação e os valores que seus pais e sua família embutiram em você, e todas as colagens comportamentais que você absorveu por influência do ambiente e da mídia, o que sobra aí dentro que é essencialmente você mesmo?

O que enxerga como inerente à sua personalidade? Força, honra, coragem, sabedoria, disciplina, gentileza, altruísmo…? Decida quem você quer ser. Encontre um ideal e aja em concordância com ele, conduzindo-o até o nível da excelência.

O segredo é que, quando começa a trabalhar para vencer sua timidez, o melhor a fazer é ser você mesmo, agir do modo que lhe parecer mais natural. Qualquer dia desses, você pode ir trabalhar tentando fazer uma voz mais firme, ou vestir uma atitude mais calorosa e extrovertida, projetando poder e autoconfiança. Mas, por enquanto, apenas exercite fazer contato visual e tecer algumas perguntas sem murmurar as palavras para dentro. Você tem muito em quê pensar sem ter que se preocupar em ser incrivelmente charmoso. Pensar demais irá apenas colocar tudo de volta onde estava antes – e o excesso de preocupação não ajuda, lembra?

À medida que for se sentindo mais confortável, você pode ir integrando alguns comportamentos novos e ampliando seu carisma, até tornar-se finalmente a melhor versão de si mesmo.

  1. … MAS FINJA ATÉ CONSEGUIR SER REAL.

Ainda que esteja agindo como você mesmo, sem máscaras, é bom tentar representar uma versão não-nervosa sua. Se você não fosse tímido, como se comportaria? Crie esse personagem e encene-o. Essa é uma dica particularmente boa para pessoas que não sofrem de uma timidez tão intensa ou que não se achavam tímidas até pouco tempo, mas que agora vem lutando com um período mais agudo de fobia social.

A execução desse plano é bem simples: quando atingir um ponto onde a sua timidez tiver finalmente torrado sua paciência, chute o balde e diga para si mesmo “Dane-se, agora vou agir como seu eu estivesse transbordando em autoconfiança”. E aja. Solte-se um pouco, relaxe, olhe as pessoas nos olhos, firme seu tom de voz e puxe conversa com elas.

  1. REVISE, APRENDA E APRIMORE.

Toda vez que chegar em casa e sua mente começar a revisar seu comportamento daquele dia, desafie todo e qualquer pensamento negativo que surgir.

Por exemplo: você chegou de um aniversário e começou a confabular enquanto trocava de roupa para dormir. “Cara, o fulano e a beltrana devem ter achado que eu sou um tédio… Ela até saiu da conversa e foi falar com outras pessoas de tão chato que eu estava sendo…”. Desafie isso imediatamente!

Pense: poderia haver alguma outra explicação para a Sra. Beltrana ter que sair do seu lado e ir conversar com mais alguém? Seja honesto consigo mesmo. Se todas as evidências estiverem apontando para “não, ela saiu porque eu estava sendo um saco”, então tudo bem. Mas deixe espaço para explicações alternativas caso a evidência para isso não seja absolutamente incontestável.

Você pode ir um passo além e escrever como se sente. Coloque na ponta da caneta suas observações sobre a área da sua vida que está lhe causando problema. Escrever é um exercício consciente deliberado e lhe forçará a analisar suas emoções do ponto de vista de seu Córtex Pré-Frontal – a área mais racional da sua cabeça. Escrever tornará você mais objetivo sobre suas ansiedades, colocando tudo em uma perspectiva registrada que poderá ser utilizada para revisar suas crenças limitantes mais tarde.

Vamos então repensar sobre o encontro social mais recente que você participou e onde se sentiu constrangido ou ansioso. Anote as respostas das cinco reflexões a seguir com o máximo de honestidade:

– Por que você acha que ficou tenso? Você tem alguma evidência real para apoiar sua opinião de que as interações foram um desastre? Ou só o ponto de vista da sua imaginação?

– Qual era a pior coisa que poderia ter acontecido lá? E isso aconteceu de fato?

– Você tentou dar uma de telepata e passou o tempo todo tentando adivinhar o que as pessoas estavam pensando a seu respeito? Você tem alguma evidência real de que elas estavam prestando tanta atenção assim no seu comportamento?

– Você não acha que pode estar fazendo uma tempestade em um copo d´água?

– Na próxima vez, o que poderia fazer para controlar o estresse e a fobia social? Quais exemplos de boas interações você tem na memória? O que pode aprender a partir delas?

Faça esse exercício – anotando suas respostas – com alguma frequência. Você ficará surpreso como sua percepção de si mesmo e de sua timidez irá mudar após apenas algumas sessões.

  1. TENHA PACIÊNCIA E PEGUE LEVE.

Você não precisa ser tímido a vida inteira: é possível mudar! Mas isso levará tempo. Não fique esperando se transformar no rei do autocontrole depois de alguns dias ou mesmo semanas. Podem ser necessários meses – e até anos – de prática até dominar completamente sua fobia social.

Todavia, grão por grão, gota a gota, você gradualmente irá se tornando menos e menos ansioso, e passará a extrair mais prazer das interações sociais. Trate cada um de seus encontros como uma experiência de aprendizado. Quando as coisas não correrem do jeito que você planejou, tudo bem: não se martirize. Coloque tudo sobre a mesa, observe o que saiu do seu controle e o que não saiu, e pense friamente sobre o quê deve ser melhorado na próxima aula. Sacuda a poeira e vá em frente, um degrau e um dia de cada vez. É assim que as coisas funcionam. E é assim que a vida é.

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