COMO O BRASIL AJUDOU A FUNDAR NOVA IORQUE

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Antes de 1500, os Europeus só adoçavam seus alimentos e bebidas com mel. A “descoberta” do açúcar foi uma revolução, e os portugueses se especializaram nisso explorando o potencial de ilhas do Atlântico como Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Quando Martim Afonso de Sousa trouxe as primeiras mudas de cana para o Brasil, em 1532, os portugueses já dominavam a tecnologia para produzir o “Ouro Branco”.

Em 1532, Martim fundaria o primeiro núcleo de povoamento do Brasil: a vila de São Vicente. Lá, instalou o primeiro engenho de açúcar da colônia.

A cana se adaptou muito bem ao clima e ao solo brasileiro, espalhando-se rapidamente para Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Paraíba. Em 1549, Pernambuco já possuía 30 engenhos; a Bahia, 18; e São Vicente, 2.

Em 1550, indígenas destruíram alguns engenhos na Bahia, mas isso não foi suficiente para interromper a marcha do Ciclo do Açúcar. No final da década de 1560, foram instalados os primeiros engenhos em Alagoas. Até o final do século, possuíamos 256 engenhos e éramos o maior produtor e fornecedor mundial de açúcar, produzindo 6 mil toneladas por ano e exportando 90% da produção para Portugal, de onde o açúcar era distribuído para o resto da Europa.

Até o começo do século XVII, a produção açucareira no Brasil não parou de crescer, alcançando o apogeu nas três primeiras décadas desse século. A mão de obra era essencialmente escrava: considerava-se indispensável um mínimo de 40 escravos para que um engenho pudesse funcionar 24 horas por dia. Alguns engenhos possuíam centenas de escravos.

Porém, em 1580, Portugal passou para o domínio da Espanha, e a Espanha estava em guerra com a Holanda, e esta controlava o comércio marítimo dos países europeus. Portugal perdeu para a Holanda a melhor parte de sua colônia: as terras já cultivadas e prósperas de Pernambuco.

Em 1636, o alemão de nascimento João Maurício de Nassau, aceitou o convite da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais para administrar a colônia holandesa no Brasil. Nassau tinha 32 anos de idade quando desembarcou em Recife, em 1637.

O Brasil já era um destino “comum” para os holandeses: em 14 de fevereiro de 1630, 67 navios com 7 mil holandeses apareceram no litoral de Pernambuco e fundaram lá uma colônia. A maior parte deles era composta por judeus que fugiam da perseguição religiosa da Inquisição instalada em Portugal. Em 1636, eles construíram a primeira sinagoga das Américas, em Recife, na Rua Bom Jesus, número 197. A sinagoga Kahal Zur ainda existe lá, no mesmo endereço.

Durante seu governo, Nassau modernizou os engenhos, investiu na produção de fumo, drenou terrenos, permitiu liberdade de culto religioso, realizou importantes reformas administrativas, organizou serviços públicos como o de bombeiros e de coleta de lixo, construiu palácios, espaços de lazer, um jardim botânico, um zoológico, um observatório astronômico e um museu natural. A economia e a cultura floresceram.

A residência oficial de Nassau, o Palácio de Friburgo, foi a primeira obra civil de grande porte realizada no Brasil. A edificação seria demolida no fim do século XVIII.

A Bahia continuava sob domínio português, e batalhas foram travadas entre a colônia holandesa em Pernambuco e os portugueses baianos. Em 1639, uma armada enviada por Portugal chegou a Pernambuco. Eram 87 navios transportando 5 mil soldados. Nassau tinha 41 navios e 2.800 homens embarcados ao largo de Olinda. Quatro batalhas navais se seguiram e os holandeses conseguiram impedir que os portugueses invadissem Recife. Mil e duzentos homens da tropa de Portugal conseguiram desembarcar na baía de Touros (Rio Grande do Norte), e tiveram que retornar à Bahia a pé, atravessando o território holandês em uma caminhada de quase 2000 km.

Em 1640, um complô aristocrático liquidou os 60 anos de domínio espanhol, alçando o Duque de Bragança ao trono como Rei João IV de Portugal. Nassau soube da notícia por meio da Inglaterra. Em 1642, o governo holandês no Brasil começou a desandar.

Os preços da cana-de-açúcar já vinham despencando desde 1638, assim como as receitas da Companhia Holandesa com o empreendimento no Brasil. Em Amsterdã, houve uma epidemia de falências. Em 1643, Nassau foi dispensado de suas funções e a Companhia exigiu que retornasse para a Holanda. Em 1644, uma esquadra de 13 navios o transportou de volta para a Europa. Apenas os pertences que Nassau levou daqui (incluindo toras de jacarandá, 30 cavalos pernambucanos e 100 caixas de frutas) foram suficientes para ocupar 2 navios inteiros.

Quando a experiência holandesa em Pernambuco chegou ao fim, o Brasil já não era importante no mercado mundial de açúcar.

A descoberta de jazidas de ouro e pedras preciosas no interior do país colocaria um ponto final no período da economia açucareira, mas nosso Ciclo do Açúcar e a experiência holandesa no Brasil mudariam o curso da história do mundo:

Com a saída de Nassau, muitos judeus holandeses se mudaram de Recife para os Estados Unidos. Em 1654, os judeus deixaram Recife e, após uma série de entreveros, 23 judeus chegaram a Nova Amsterdã. Em 1664, a cidade mudaria de nome para Nova York.

Benjamim Mendes Seixas, Ephraim Hart e Alexander Zuntz, descendentes dos judeus que saíram de Recife, fundaram a Bolsa de Nova York.

Foi graças a uma das descendentes dos judeus de Recife, Emma Lazarus, que Nova York obteve dinheiro suficiente para finalizar as obras da Estátua da Liberdade.

Parte deste dinheiro veio do leilão de uma obra de Emma, um soneto chamado The New Colossus, escrito em 1883 e inspirado na história de seus antepassados. Em 1903, o soneto foi colocado em uma placa de bronze no pedestal da estátua:

“Não como o gigante de bronze da antiga fama,
Cujos membros subjugam os campos de baixo de si;
Aqui cintilando aos portões do crepúsculo, vê-se
Uma dama robusta com um farol cuja flama
É o relâmpago aprisionado, e ela se chama
Mãe dos Exilados. Da mão que, meiga, se estende
Brilham boas-vindas; o seu olhar compreende
O porto que as nobres cidades gêmeas defendem.
“Segurai, antigas terras, vossa pompa!” diz ela
Com lábios quietos. “Dai-me vossos pobres fatigados,
As multidões que por só respirarem livres zelam,
Resíduos miseráveis dos caminhos fervilhados.
Mandai-os a mim, desabrigados, que a minha vela
Os guiará, calmos, através dos portões dourados!”

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