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É possível dividir a responsabilidade dos pais com relação aos seus filhos em duas dimensões distintas: Físico-Orgânico e Cognitivo-Emocional.
A primeira dimensão diz respeito ao bom desenvolvimento corporal da criança e está relacionada à segurança, abrigo, alimentação, vacinas e monitoramento e correção de alguns problemas de saúde como baixo peso, crescimento insuficiente em estatura, disfunções da tireóide, da visão, da audição e da dentição, e atrasos no desenvolvimento da fala ou da puberdade, entre uma infinidade de outros.
Zelar pela dimensão Físico-Orgânica de um filho não é apenas uma obrigação Moral, mas é também um dever previsto em Lei: seja negligente com a alimentação, deixe sua cria desnutrida, ou comece a torturá-la, punindo-a com requintes de crueldade, e a violação do “contrato” dos cuidados Físico-Orgânicos implícitos à família trarão conseqüências como denúncias no Conselho Tutelar ou até mesmo a perda da guarda da criança.
Por tudo isso, a dimensão Físico-Orgânica em geral não sofre com o descaso dos pais. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito com relação à dimensão Cognitivo-Emocional.
Esta segunda esfera está relacionada aos estímulos necessários para o bom desenvolvimento do Intelecto da criança. Seria um preceito Deontológico dos pais tutelar o ambiente e os estímulos externos para que a criança desenvolvesse a plenitude de sua Inteligência.
Enquanto o âmbito Físico-Orgânico responde bem à intuição e pode ser relativamente bem conduzido bastando um pouco de bom senso, o terreno Cognitivo-Emocional requer um empenho maior. Em um mundo com tantas opções, ingerências e cobranças, ser capaz de instigar o Intelecto de uma criança não é uma função do instinto ou de palpites sortudos: uma tarefa desta magnitude solicita empenho, disciplina, consistência e, acima de tudo, criatividade.
Por exemplo: hoje atendi uma mãe trazendo seu filho, um menino de 10 anos de idade, com um pouco de sobrepeso. Ela desejava alguns exames de rotina e orientações para colocá-lo em alguma atividade física. Conversamos um pouco e – como é de praxe nas consultas com crianças desta faixa etária – recebi a informação de que “O problema dele é que ele vive pendurado no celular, doutor!”.
– E a senhora acha isso ruim? – perguntei.
– Acho péssimo. Essa geração só quer saber de celular, celular, celular. Esse aparelhinho está estragando a infância de hoje! – ela respondeu.
– Certo. Diga uma coisa: uma faca é um instrumento útil ou perigoso?
– Hum… perigoso, né?
– Depende. Se você estiver picotando verduras e legumes para uma salada, ela é um instrumento útil.
– Verdade.
– E uma chave de fenda? É um instrumento útil?
– Lógico que é.
– Depende novamente. Se eu lhe entregar uma chave de fenda para picotar verduras e legumes para uma salada, ela não terá exatamente uma boa serventia.
– Hum.
– E se você espetar alguém com uma chave de fenda, ela deixará de ser uma ferramenta potencialmente útil e se transformará em uma arma potencialmente letal.
– E daí?
– E daí que a faca e a chave de fenda não são essencialmente boas ou ruins, úteis ou inúteis. Bom ou ruim, útil ou inútil, seguro ou perigoso é o USO que nós fazemos delas. Acontece o mesmo com o celular: ele pode ser um aparelho miserável ou um dispositivo válido e construtivo. Tudo depende do uso que você der para ele.
E ofereci a ela algumas sugestões de como transformar o celular em um agente positivo para o desenvolvimento Cognitivo-Emocional de seu filho:
1. Liderança. Você é o (ou a) líder do bando. O uso do celular não é um direito inato da criança: é uma regalia concedida. E ele deve ser subordinado a algumas disposições: a criança não deve ter autonomia para instalar o que quiser no celular. Os jogos, por exemplo, devem ser instalados pelos pais. A criança pode jogar qualquer um desses jogos, mas não pode instalar novos – sob pena de perder acesso ao aparelho.
2. Pesquisa. Negociados estes termos, instale no celular aplicativos que estimulam o aperfeiçoamento cognitivo da criança. Fuçando pela internet afora, você encontrará várias opções em sites como TechTudo, GooglePlay e similares. Algumas recomendações de aplicativos seguem abaixo:
3. Xadrez. Os benefícios do xadrez jamais poderão ser louvados o suficiente e o jogo pode ser ensinado para crianças a partir dos 4 anos de idade. Exemplos: Chess Free, Xadrez Grátis, Chess Live, Xadrez Jogar & Aprender, Aprenda Xadrez, etc.
4. Jogos de perguntas e respostas. São divertidos e agregam conhecimento. Exemplos: QuizUp, Gênio Quiz, Super Quiz Brasil, Eu Sei, Trivia 360, etc.
5. Aplicativos de Memória. Exemplos: iMemory Jogatina, Monster High Memory, Matching Monkeyz, Mini Memory, Simon Advanced, etc.
6. Aplicativos de Tabuada. Exemplos: LJ Studio, Taabuu, Jims Applay, Alzeta, DSmart Apps, etc.
7. Aplicativos de palavras cruzadas. Exemplos: Berni Mobile, Cody Cross, Mobi4Good, Curado Mobile, etc.
8. Aplicativos de Alfabetização, Ortografia e Idiomas. Exemplos: Ortografa!, ABC do Bitta, Palma Kids, Duolingo, Silabando, etc.
9. Combos. Existem aplicativos que oferecem um pacote com várias atividades educativas misturadas. Exemplos: Meu Celular Educativo e Ler e Contar, da Bergman; e pacotes de jogos educativos da pescAPPS, da AppQuiz e da Choloepus Apps.
10. Acesso. Obviamente, a senha do celular deve ser SEMPRE de seu conhecimento e o acesso ao aparelho deve ser fornecido NO MOMENTO que VOCÊ decidir – e não quando a criança permitir. Lembre-se: o celular não é um direito da criança, é uma concessão da sua boa vontade. Estes termos devem ser colocados do modo mais explícito possível no instante em que você decidir entregar um celular para o seu filho. Caso já tenha entregado o aparelho, nada tema: simplesmente pegue o celular e comunique que as cláusulas que regem o uso do equipamento acabaram de ser modificadas – e pronto.
Além de utilizar o celular como uma ferramenta a seu favor, existem outras atividades que auxiliam a dimensão Cognitivo-Emocional da criança, tais como:
– Jogos de peças de montar (p.ex.: lego) e massinhas. São bastante eficientes para estimular a criatividade e o raciocínio lógico-espacial. Tintas (com um local apropriado para pintar) e quadros-negros também são interessantes.
– Quebra-cabeças. Excelentes para treinar a memória.
– Jogos de tabuleiro com dados. Ótimos para treinar a capacidade de cálculo.
– Revistas em quadrinhos. Não subestime o poder que uma coleção de revista em quadrinhos pode ter sobre o desenvolvimento do gosto pela leitura. Simplesmente entre em um site como MercadoLivre ou EstanteVirtual ou similares e procure por coleções usadas vendidas a preços módicos. Compre e coloque em uma estante no quarto do seu filho ou filha. Cedo ou tarde, a curiosidade irá bater. Quando a criança vier falar com você sobre alguma história que leu nas revistas, ofereça o máximo de reforço positivo que puder: elogie, abrace e beije seu pequeno explorador literário.
– Atividade física. Práticas desportivas são capazes de unir o melhor dos dois universos: são simultaneamente funcionais como recursos Físico-Orgânicos e Cognitivo-Emocionais. O esporte ensina disciplina, trabalho em equipe, superação, apresenta frustrações, canaliza a raiva, força o controle da ansiedade e, quando bem escolhido, é insuperável para estimular a auto-estima da criança.
No caso do meu paciente do dia, por exemplo, recomendei à mãe que colocasse o menino em uma aula de Judô. Dado o tamanho dele para a idade (grande), e a personalidade (tímida e introvertida), ele certamente terá um bom desempenho na luta e o esporte o ajudará na questão da socialização e do amor-próprio.
E você? Tem filhos ou filhas? Como anda cuidando do lado Cognitivo-Emocional deles?
Quer saber mais sobre o assunto? leia “INTELIGÊNCIA – UMA BREVE VIAGEM PELA CARACTERÍSTICA MAIS INCRÍVEL DO COSMO”.
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