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A tendência atual por debates acalorados sobre identidade e ideologia de gênero tem sacudido nossas convenções sobre o que consideramos modos caracteristicamente masculinos e femininos.
Apesar de uma parcela considerável desses padrões realmente estar relacionada a construtos sociais, as evidências científicas fornecem munição para atestar o óbvio: sim, homens e mulheres são diferentes. Bastaria chamar um alienígena, colocar um espécime humano de cada sexo lado a lado – ao natural e desprovidos de artimanhas cirúrgicas ou recursos químicos artificiais – e solicitar ao extraterrestre uma avaliação rápida. Ele certamente diria se tratarem de animais de uma mesma espécie, mas com diferenças anatômicas óbvias.
Se por acaso nosso E.T. dispusesse de um aparelho para estudo de imagens – algo equivalente a um tomógrafo ou um equipamento de ressonância nuclear magnética (algo que para um E.T. vindo de uma galáxia distante seria como ter um par de óculos escuros ou um celular no bolso) -, também relataria que, além das particularidades externas, existem diferenças internas evidentes e suficientes para separar o espécime masculino do espécime feminino: “Eles são bem parecidos, quase iguais, mas percebo que não são exatamente a mesma coisa…”, diria nosso alienígena politicamente correto.
CORPOS DIFERENTES, CÉREBROS TAMBÉM
Sim, existem diferenças entre homens e mulheres. Isso não deveria ser surpresa alguma a esta altura de nossa evolução tecnológica – ainda que, surpreendentemente, este assunto tenha virado pauta de debates insólitos na sociedade atual.
Não somos amebas ou estrelas do mar. Não nos reproduzimos por brotamento ou gemiparidade. Somos descendentes de seres eucariotas pluricelulares que, em algum momento entre 1 e 1,5 bilhão de anos atrás, descobriram que a reprodução sexuada era uma excelente maneira de garantir variabilidade genética e otimizar a capacidade de adaptação às mudanças no meio. Sem saber, esses antepassados produziram o Dimorfismo Sexual que se transformaria em substrato para as discussões que temos hoje.
Este dimorfismo produziu peculiaridades familiares a todos nós: homens adultos são, em geral, 18% mais pesados e 9% mais altos que as mulheres. Os meninos também tendem a ser maiores e mais pesados ao nascimento e ao longo de todo o desenvolvimento, exceto entre os 7 e 11 anos de idade – as meninas experimentam seu estirão de crescimento pré-puberal antes dos meninos.
Cerebralmente falando, as diferenças sexuais são um produto tanto de influências biológicas quanto de fatores ambientais sobre o desenvolvimento humano usual. Estudos em animais mostraram que os perfis hormonais pré-natais, os cromossomos sexuais e o sistema imune participam precocemente do desenvolvimento da diferenciação neural entre homens em mulheres.
A influência hormonal, em especial, possui um papel importante na diferenciação cerebral: em uma experiência com ratos, a castração neonatal, por exemplo, resulta em uma alteração permanente no tamanho dos núcleos no hipotálamo. E esta influência não é exclusiva dos Homo sapiens: em fetos de canários, os núcleos cerebrais responsáveis pelo canto são bem maiores em machos que em fêmeas. Como consequência, a maioria dos canários machos canta, e a maioria dos canários fêmeas não (estas, quando cantam, em geral o fazem de modo mais baixo e enrolado).
Estudos em animais mostraram que o testículo fetal expõe bem cedo o cérebro masculino a altos níveis de gonadotrofinas. A aromatase – enzima responsável pela conversão de testosterona em estradiol – desempenha um papel crucial no desenvolvimento do dimorfismo cerebral antes do nascimento. Além disso, estudos genéticos mostraram que os genes associados aos cromossomos sexuais afetam diretamente a diferenciação cerebral, sugerindo que a influência genética no desenvolvimento cerebral precoce precede ou se sobrepõe à ação epigenética dos hormônios gonadais.
Os hormônios sexuais não estão apenas envolvidos na formação dos órgãos reprodutores e na aparência geral dos humanos, mas também induzem um dimorfismo no desenvolvimento, na organização e no funcionamento do cérebro. Entretanto, apesar dessas discrepâncias serem reais e clinicamente importantes, elas frequentemente são abordadas de modo distorcido pela mídia de massa.
As pesquisas atuais – como veremos adiante – não são mais capazes de negar que existem variações masculinas e femininas com respeito à anatomia, à fisiologia e a neuroquímica cerebral, especialmente quando consideramos as diferentes prevalências de muitos transtornos psiquiátricos entre homens e mulheres.
Compreender a influência do gênero sobre o desenvolvimento cerebral é essencial para determinar o que leva à assimetria dos transtornos psicopatológicos, além de compreender e aceitar o modo como as influências naturais e culturais do meio externo agem para produzir aprendizados, conhecimentos, condutas e valores diferentes entre homens e mulheres.
A ANATOMIA DO DIMORFISMO
Desde o popular livro de 1992, Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus, o discurso público tem sido saturado com factoides que, infelizmente, se assentaram profundamente na compreensão coletiva sobre a identificação de gênero. As grandes descobertas científicas terminaram sendo utilizadas para validar crenças estereotipadas, nocivas e discriminatórias para ambos os gêneros.
O estudo das diferenças entre cérebros de homens e mulheres remonta à metade do século XIX, quando Arnold Berthold observou que galos se tornavam menos agressivos e perdiam o interesse nas galinhas quando tinham seus testículos removidos. Ele concluiu que “os testículos agem sobre o sangue, e o sangue age sobre o organismo como um todo”.
Se homens e mulheres são iguais – conforme a pregação corrente dos arautos da igualdade messiânica entre os gêneros -, alguém poderia explicar porque a o predomínio, a idade de início, a sintomatologia e a resposta ao tratamento de várias doenças neurológicas e psiquiátricas diferem substancialmente entre os sexos?
Autismo, transtornos de conduta, dificuldade no desenvolvimento da linguagem, síndrome de Tourette e dislexia são mais comuns em homens; depressão, transtornos da ansiedade e anorexia nervosa são mais comuns em mulheres.
Em termos gerais, o cérebro masculino é 11% maior e mais pesado que o feminino e apresenta uma massa cinzenta 6 vezes maior. Por outro lado, um cérebro feminino possui uma massa branca 10 vezes maior.
O cérebro masculino possui maior volume e maior densidade tecidual na amígdala esquerda, no hipocampo, no córtex insular, no putamen, no lobo VI direito do cerebelo, no giro para-hipocampal anterior, no giro do cíngulo posterior e nos polos temporais, entre outras áreas.
O cérebro feminino apresenta maior densidade no polo frontal esquerdo, e maior volume no polo frontal direito, nos giros frontais médio e inferior, no opérculo temporo-parietal (zonas que cobrem a ínsula), no giro do cíngulo anterior, no córtex da ínsula, no tálamo, no giro para-hipocampal esquerdo e no córtex occipital lateral.
Em comparação aos homens, as mulheres apresentam volumes maiores em áreas do hemisfério cerebral direito relacionadas à linguagem, ao passo que os homens apresentam volumes maiores em regiões do sistema límbico. Vários estudos mostraram que o cérebro feminino, em comparação ao cérebro masculino, possui uma densidade celular maior na Área de Broca – a região neuronal responsável pela fala. Além disso, os neurópilos (áreas formadas por dendritos compactados, células da glia e ramos de axônios) possuem volume significativamente maior nas mulheres que nos homens – e isto poderia explicar as vantagens no uso da linguagem e a tendência para padrões de ativação cerebral bilateral entre elas.
Como resultado, as mulheres são melhores em tarefas verbais tais como fluência verbal, memória verbal, velocidade de articulação das palavras e produção da fala. Não admira que bebês do sexo feminino, em média, desenvolvam a fala mais cedo que bebês do sexo masculino, ganhando em velocidade na aquisição de vocabulário, na elaboração de linguagem espontânea e na produção de frases mais longas.
A fluência verbal é menor em mulheres que sofrem de hiperplasia adrenal congênita, sugerindo que níveis aumentados de andrógenos afetam negativamente o desempenho nas tarefas verbais. A associação inversa entre o desenvolvimento da fala e os níveis de testosterona é apoiada por outras pesquisas, que mostraram que a administração de altas doses de testosterona em transexuais femininos levava a uma diminuição no volume da massa cinzenta na área de Broca.
Ao avaliar as diferenças cerebrais entre homens e mulheres, um time de pesquisadores utilizou imagens de ressonância nuclear magnética em uma amostragem de 48 adultos normais. Os Homens e mulheres selecionados foram pareados em idade, educação, etnia, nível sócio-econômico, inteligência geral e mão dominante. Após avaliarem 45 regiões cerebrais, os pesquisadores observaram que as mulheres possuíam volumes maiores no córtex frontal e paralímbico medial, e os homens, no córtex frontomedial, nas amígdalas e no hipotálamo. Quando comparados aos achados em outros animais, estes dimorfismos cerebrais mostraram-se homólogos àqueles relacionados à ação de esteróides sexuais durante períodos críticos do desenvolvimento cerebral.
O formado do núcleo supraquiasmático – uma estrutura envolvida na regulação do ritmo circadiano e dos ciclos reprodutivos – é mais alongada nas mulheres, e mais esférica nos homens.
Na região do bulbo olfatório, as mulheres possuem uma densidade celular 40% a 50% maior que os homens.
O corpo caloso e a comissura anterior são maiores entre as mulheres, ao passo que alguns núcleos hipotalâmicos e estruturas associadas a eles são maiores em homens.
A área pré-óptica também apresenta um dimorfismo acentuado: o volume médio e a densidade celular é duas vezes maior em homens que em mulheres. Não surpreende que o cérebro masculino se saia melhor em tarefas viso-espaciais.
O córtex cerebral apresenta um dimorfismo considerável: apesar da não haver diferença quanto à sua espessura, os homens apresentam uma densidade neuronal significativamente maior que as mulheres. Mas é importantíssimo salientar que não existem associações convincentes entre QI e o tamanho cerebral.
Curiosamente, as diferenças supramencionadas não foram observadas entre homens heterossexuais e homossexuais, contradizendo a visão de que homossexuais masculinos possuam um hipotálamo feminino.
DA ANATOMIA AO COMPORTAMENTO
A era moderna da endocrinologia comportamental iniciou com os trabalhos pioneiros de Frank A. Beach nos anos 1940 e com o lendário trabalho de Phoenix, Goy, Gerall e Young in 1959, que articulou a hipótese organizacional de ativação da ação hormonal. Segundo esta teoria, os hormônios esteróides produzidos pelas gônadas durante as fases iniciais do desenvolvimento organizam o substrato que regula o comportamento sexual na idade adulta, criando diferenças sexuais permanentes nos circuitos cerebrais. Estas observações desencadearam uma série de pesquisas sobre o controle da fisiologia e do comportamento reprodutivo, que por sua vez revelaram inúmeras diferenças sexuais em cada um dos níveis de organização do cérebro.
O modo como o cérebro masculino transmite, regula e processa suas biomoléculas é diferente da maneira como o cérebro feminino lida com estes mesmos processos – e isto é particularmente perceptível nos sistemas monoaminérgicos, que incluem substâncias como dopamina, adrenalina e serotonina.
Vários testes psicométricos confirmaram que as diferenças anatômicas observadas nos cérebro de homens e mulheres produzem resultados diferentes: devido a estas particularidades anatômicas, quando avaliamos o desempenho de tarefas envolvendo matemática e orientação espacial, os homens se saem melhor.
E é justamente devido às diferenças estruturais que observamos uma maior incidência de problemas de aprendizado entre os homens, e uma maior incidência e prevalência de demência entre as mulheres: os cérebros femininos estão melhor programados para agilidade verbal, capacidade de entendimento da linguagem corporal e formação de vínculos emocionais profundos.
Problemas neurológicos como dislexia e gagueira são 3 a 4 vezes mais frequentes em meninos que em meninas. Em contrapartida, os homens são mais resistentes à sensação de dor que as mulheres e apresentam uma incidência bem menor de depressão, ansiedade e transtornos do pânico. A bulimia é 3 vezes mais prevalente entre as mulheres e a anorexia nervosa, 13 vezes.
Outra prova de que os cérebros funcionam de modo diferente pode ser observada no fato de que o uso de drogas é menos comum entre as mulheres, mas elas desenvolvem dependência química mais rapidamente que os homens.
Tabela – Diferenças sexuais nos traços comportamentais dos seres humanos:
Traço | Viés Sexual | Viés hormonal | Viés genético | Outros fatores que afetam as diferenças sexuais no comportamento |
Cognição | Homens se saem melhor em tarefas especiais e na solução de problemas matemáticos. Mulheres são melhores em fluência e articulação verbal, e em testes de memória verbal. | Efeitos dos hormônios pré-natais a partir de estudos com pacientes com Hiperplasia Adrenal Congênita, Síndrome de Turner e Síndromes de Insensibilidade Androgênica. | Não foram encontradas evidências confiáveis relacionando cromossomos genéticos e inteligência.
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Maior assimetria cerebral nos homens tanto para tarefas verbais quanto não-verbais. |
Jogos e
brincadeiras |
Existem diferenças de gênero na escolha por brinquedos, gênero do parceiro de brincadeira, jogos sociais e padrão de movimentação.
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A testosterona influencia a escolha pelo tipo de brincadeira e o padrão de movimentação corporal. | A genética parece afetar o comportamento nas brincadeiras mais que a exposição hormonal pré-natal. | Pais, família e outros agentes sociabilizantes (amigos, colegas, comunidade e os próprios processos cognitivos da criança). A experiência de desenvolvimento e a informação visual podem afetar o padrão de movimentação. |
Linguagem | Mulheres se saem melhor em tarefas de memória episódica e fluência verbal, e possuem uma maior dependência da memória declarativa.
Homens são melhores no processamento de dados visuais e espaciais, e possuem uma maior dependência da memória procedural. |
O estrogênio influencia a memória semântica e a memória declarativa em mulheres.
A testosterona influencia a memória semântica em homens. |
O polimorfismo de nucleotídeo único e o fator neurotrófico derivado do cérebro parecem responder pela maior dependência da memória declarativa entre as mulheres e as diferenças observadas entre os sexos durante tarefas relacionadas à linguagem.
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Maior lateralização hemisférica esquerda para linguagem entre os homens, e processamento bilateral da linguagem entre as mulheres.
Desenvolvimento mais rápido das regiões do hipocampo em meninas.
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Agressão | Uso de linguagem vulgar, imitação de modelos de agressividade, violência e agressão física são mais comuns entre homens.
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Estradiol e progesterona influenciam o sistema serotoninérgico.
Existe uma associação fraca entre testosterona e agressão em ambos os sexos. Altos níveis de testosterona levam a um aumento da agressão verbal e da impulsividade em mulheres.
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Existe uma associação entre polimorfismos no gene que codifica o transporte de serotonina e maior impulsividade em homens, porém não em mulheres.
Polimorfismos no gene da Monoamino-oxidase A (MAO) estão associados a transtorno de personalidade antissocial e comportamento agressivo em homens. |
Menor autocontrole, alta impulsividade e maior repressão de emoções entre homens devido disparidades nos circuitos neuronais responsáveis pelo controle de impulsos e regulação das emoções, bem como dos sistemas serotoninérgicos.
Mulheres possuem um córtex pré-frontal maior.
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DETERMINAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO
O desenvolvimento sexual dos mamíferos pode ser dividido em dois componentes principais: a determinação sexual e a diferenciação sexual. A determinação é o processo pelo qual a gônada bipotencial se desenvolve na forma de testículos ou ovários – algo que depende exclusivamente da genética. A diferenciação, por outro lado, consiste no desenvolvimento de outras estruturas reprodutoras internas, da genitália externa e das diferenças sexuais não-gonadais.
Diferentemente da determinação, a diferenciação depende tanto dos hormônios sexuais quanto do fator genético: recentemente, foram identificados genes presentes nos cromossomos sexuais que agem diretamente sobre o cérebro, influenciando o desenvolvimento neural e o surgimento de comportamentos sexuais específicos. Um bom exemplo disso pode ser encontrado no septo lateral, uma parte do sistema límbico envolvido em reações ao estresse: este núcleo é mais denso nos cérebros masculinos em relação aos cérebros femininos.
A importância das ocorrências hormonais nas fases de desenvolvimento pode ser bem exemplificada pelo profundo impacto dos hormônios no cérebro em formação: estas substâncias organizam ou programam o cérebro como masculino ou feminino para a vida a adulta. Muitas diferenças sexuais são organizadas durante a fase de desenvolvimento e então ativadas – ou reveladas – pela ação dos esteróides sexuais, mas este nem sempre é o caso. Ademais, não é possível presumir que exista um momento exato onde não haja qualquer diferença sexual: até mesmo culturas de células neuronais apresentam diferenças sexuais.
O potencial da contribuição genética no dimorfismo cerebral é um campo de pesquisa relativamente recente. A antiga hegemonia dos hormônios neste cenário resultou da dificuldade em separar as influências hormonais das genéticas. Com as ferramentas disponíveis atualmente, os pesquisadores confirmaram a supremacia dos hormônios com relação aos dimorfismos sexuais relevantes para a reprodução, mas descobriram fortes bases genéticas para os comportamentos e os hábitos sexuais.
Não há dúvida alguma de que o ambiente social – além dos genes e dos hormônios – é responsável por algumas das diferenças que observamos entre homens e mulheres. Estratificações sociais e convenções (costumes e tradições) podem afetar a capacidade de alguém acessar fontes de educação ou estimular certas posturas. Contudo, os fatores sociais isoladamente não contribuem para todas as diferenças entre homens e mulheres – especialmente aquelas com respeito à sua biologia.
E AFINAL: QUAL O SIGNIFICADO DESTAS DISTÂNCIAS?
O dimorfismo sexual do cérebro humano já está bem estabelecido, variando desde diferenças globais no tamanho da massa encefálica até diferenças locais no volume de certas áreas e estruturas. Uma das diferenças mais sedimentadas diz respeito à substância cinzenta, frequentemente maior entre as mulheres que entre os homens.
Parece sensato considerar que a maioria das diferenças cerebrais é causada pelos hormônios sexuais, agindo na fase adulta (diferentes efeitos dos hormônios testiculares e ovarianos) ou nas fases iniciais do desenvolvimento (especialmente válido para os hormônios testiculares). Não obstante, costumeiramente ignorada como um fator relevante, a diferença sexual mais óbvia no cérebro é o fato de que cada neurônio, célula glial ou qualquer outro tipo de célula carrega em si um marcador masculino (XY) ou feminino (XX), mas não ambos.
Para qualquer observador leigo, é fácil perceber que homens e mulheres apresentam atributos psico-fisiológicos diferentes. E não é necessário um grande exercício de Lógica para deduzir que as estruturas cerebrais correlacionam-se significativamente com seu funcionamento, de modo que alterações estruturais resultam derradeiramente em mudanças nos padrões cognitivos: tanto machos quanto fêmeas possuem a capacidade de exibir atitudes tradicionalmente classificadas como masculinos ou femininos – ainda que os níveis de estímulos necessários para desencadear estes comportamentos sejam diferentes.
Homens e mulheres estão relativamente separados em seus fenótipos biológicos e características psicológicas, e parte destas distâncias derivam de fatores ambientais, mas outras têm raízes profundas na biologia. Embora os cérebros de homens e mulheres sejam bastante similares, existem diferenças consistentes que possuem implicações importantes para cada sexo, afetando processos bioquímicos, contribuindo para a susceptibilidade a determinadas doenças e influenciando comportamentos específicos.
As análises genéticas, celulares, anatômicas e funcionais mencionadas até aqui resultam em particularidades na morfologia e na fisiologia cerebral, que por sua vez levam a formas diferentes de interação com o meio. Seria uma ingenuidade negar o valor acumulado destas evidências sobre as idiossincrasias humanas.
Todavia, também é uma forma de ingenuidade pregar que um ou outro cérebro seja melhor ou superior ao seu oposto: se nossos antepassados eucariotas nos ensinaram algo foi que esse mosaico de particularidades é justamente nosso grande trunfo. É desse inacreditável polimorfismo que retiramos nossa força como espécie – e por isso, nossas diferenças biológicas jamais deveriam ser empregadas para justificar qualquer tipo de discriminação ou sexismo.
Antes de sermos homens, mulheres, LGTBs, brancos, negros, orientais, altos, baixos, capitalistas, esquerdistas ou qualquer outra coisa, somos todos humanos – e isto deveria bastar para fazer-nos olhar uns aos outros não como inimigos ou concorrentes, mas como parentes vizinhos de um só planeta nesta extraordinária experiência chamada Vida. Quem sabe, um pouco menos de ignorância e um pouco mais de ciência seja tudo que nos falte para este grande passo.
Quer saber mais sobre o assunto? leia “INTELIGÊNCIA – UMA VIAGEM PELA CARACTERÍSTICA MAIS INCRÍVEL DO COSMO”.
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