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Sempre pensamos no Amor como o clímax da compreensão nos relacionamentos românticos, mas esse conceito não oferece um panorama claro e completo desse sentimento. O Amor se estende para além da cultura e das pressões sociais para reprodução.
Em termos simples, podemos defini-lo como um conjunto refinado de emoções, comportamentos e crenças associados a fortes sentimentos de afeto, proteção e respeito por outra pessoa.
Todavia, uma vez que as pessoas compreendem o que é o Amor de maneiras diferentes, muitos casais frequentemente caem na armadilha de achar que estão falando a mesma língua. Como definimos o Amor segundo características individuais, demonstramos esse sentimento de maneiras diferentes e temos expectativas diferentes sobre como ele deveria se parecer e se manifestar. Boa parte das tempestades conjugais deriva dessa comunicação malograda e da criação de dogmas fantasiosos sobre a conexão amorosa.
A BIOLOGIA DO AMOR
Já está bem determinado que os laços entre duas pessoas são patrocinados por um conjunto de hormônios e neurotransmissores, incluindo ocitocina, vasopressina, prolactina, testosterona, dopamina e outros. Esta química funciona praticamente da mesma forma, desde o vínculo mãe-filho até as afinidades sexuais entre pessoas adultas.
O sistema fisiológico do Amor é desencadeado pelo toque físico, pelo contato social intenso e pelas interações sociais positivas. Os seres humanos evoluíram dentro desse sistema que utiliza interações sociais, hormônios e o cérebro como um todo para comunicar ao corpo que é bom sentir-se mais próximo e mais ligado a outra pessoa.
O antropologista Walter Goldschmidt chamou este sistema de “Fome por Afeto” e sugeriu que esta dinâmica é compartilhada por todos os mamíferos. A “fome” permite que os humanos construam e experimentem diversos tipos de laços sociais com uma ampla gama de indivíduos, mais intensamente que qualquer outro animal – mais intensamente até mesmo que outros primatas. Talvez a capacidade de construir elos tão poderosos tenha sido exatamente o que tornou nossa espécie bem sucedida na colonização dos mais diversos ecossistemas deste planeta.
Portanto, umas das respostas para “o que é o amor” está na biologia subjacente à fome por afeto, na habilidade de formar múltiplos laços sociais fortes e na capacidade adaptativa evolucionária típica do Homo sapiens.
Alguns antropologistas argumentam que o amor romântico não seria exatamente uma emoção, tampouco um sentimento. Ele seria um impulso. Em parte, estão certos: esta forma de paixão está associada à ativação de neurônios secretores de dopamina no mesencéfalo, uma região bem mais rudimentar que o cérebro emocional e o córtex cerebral.
Nascemos programados com sistemas de reações e recompensas químicas, e o amor – assim como a surpresa, o medo, a raiva, o desgosto, a tristeza e a alegria – seria apenas mais uma das consequências desse sistema primitivo.
Mas a maioria das pessoas deseja que o Amor envolva romance, flores e sorrisos cúmplices, e não apenas sistemas endócrinos e teorias antropológicas. Culturalmente, consideramos o amor romântico como algo à parte do amor pela família ou o amor pelas amizades. Infelizmente, à parte de pequenas variações nos padrões de alguns hormônios específicos – decorrentes da atividade sexual -, não existem grandes diferenças entre esses tipos de amor. Biologicamente, é assim que seu corpo funciona.
É óbvio que, no amor romântico, existem vários outros elementos psicológicos e sociais envolvidos, algumas vezes até influências religiosas. Entretanto, o mito de que o amor romântico é essencialmente diferente de todos os demais é nada mais que isso – um mito, uma noção criada por credos culturais, não pela biologia.
Na verdade, quando as pessoas procuram explicar o amor romântico, elas estão em busca de uma resposta que descreva o laço particularmente vívido que criaram com outra pessoa. E isto nos leva a outra esfera da análise do amo: a esfera filosófica.
A FILOSOFIA DO AMOR
Casais heterossexuais são a unidade básica para perpetuação da espécie humana e, quando observados por uma lupa estritamente biológica, é aí que o amor se encaixa.
Contudo, muitos casais e muitos relacionamentos humanos não nasceram formatados para a procriação. Seres humanos procuram companhia e essas interações sociais nem sempre envolvem sexo, casamento ou exclusividade – mas elas quase sempre envolvem alguma intensidade de amor.
Para a maioria das pessoas, a ideia de que o amor é uma emoção é tão óbvia que ultrapassa a banalidade. Todavia, esta visão sempre foi considerada limitada por filósofos e cientistas. Dizem que Aristóteles afirmava que “O Amor é formado de uma só alma, habitando em dois corpos”. Muitos pensadores modernos concordam com isso, defendendo que o amor não é apenas um sentimento direcionado para com outras pessoas, mas um novelo complexo de emoções criadoras de múltiplas interdependências recíprocas.
Essa visão da reciprocidade como pré-requisito para o amor é bacana, mas traz embutida em si um calcanhar de Aquiles: isso significaria dizer que não podemos amar entes queridos que se foram, por exemplo. Um viúvo não poderia mais ter sentimentos de amor por sua falecida esposa – ou estes sentimentos deveriam ser chamados de tristeza, saudade, qualquer outra coisa, mas nunca de amor.
Os defensores da reciprocidade como pré-requisito se defendem alegando que o amor é a celebração da união entre os amantes, ou a antecipação, ou o desejo, de uma união. Isso não ajuda muito… Você pode amar alguém sem antecipar ou almejar a concretização de uma união, porque – lamentavelmente – o amor nem sempre é suficiente para iniciar ou dar seguimento a uma relação. “Seguir cegamente o coração é um ofício para os tolos”, escreveu o filósofo Aaron Smuts.
Para além da teoria da reciprocidade, poderíamos considerar o amor como uma preocupação pelo bem estar de outra pessoa acima de seu próprio bem estar. Novamente, esbarramos em um reducionismo: eu posso me preocupar com o bem estar de outra pessoa sem necessariamente amá-la – e você pode amar alguém sem preocupar-se profundamente com o bem estar dessa pessoa. Presume-se que um médico ou uma enfermeira preocupem-se com o bem estar de seus pacientes, mas você não espera que eles os amem, espera?
SENDO OBJETIVO
A despeito do amor ser uma das mais intensas emoções humanas, apenas recentemente ele deixou o terreno das escritas doces e melodramáticas e se tornou um objeto de interesse científico sério. A biologia e a filosofia são capazes de fornecer bases sólidas para sua compreensão, mas é a psicologia quem se encarrega de estabelecer seus padrões gerais de reconhecimento.
Por isso, juntando a salada de legumes fisiológicos e antropológicos, podemos determinar algumas características do Amor. Ele é:
– Uma escolha voluntária pelo respeito e pelo compromisso.
– Uma dedicação em priorizar o bem estar de outra pessoa.
– Uma sensação profunda de afeto e necessidade.
Partindo dos critérios acima, o psicólogo social Zick Rubin elaborou em 1970 uma abordagem métrica para avaliar a escala do Amor. De acordo com Rubin, o amor romântico é constituído de 3 elementos:
- Vínculo: envolve o compromisso e o desejo de contato físico.
- Cuidado: envolve a valorização da felicidade do outro.
- Intimidade: envolve o compartilhamento de ideias, sentimentos e desejos.
Em teoria, a quantidade de pontos na escala de Rubin auxiliaria a definir se o que você sente é apenas um “gostar” ou se é “amor de verdade”. Apesar do tratamento calculado para algo que lhe é tão querido, o trabalho de Rubin mostrou que sabemos muito pouco sobre como nossas emoções são processadas. Tendemos a sair comprando gato por lebre, acreditando em palavras doces ao invés de aferir atitudes, e terminamos decepcionados por obra de nossa própria incompetência.
Estudar objetivamente o Amor não é retirar-lhe a aura mágica. Pelo contrário: é capacitar-se para viver com plenitude uma das experiências mais formidáveis à nossa disposição aqui neste planeta.
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