“Grandes homens quase sempre se mostraram tão prontos para obedecer quanto mais tarde se mostraram prontos para comandar” (Lord Mahon)
Na antiga sociedade romana, existia um conceito do qual possuímos apenas um análogo parcial atualmente: empresários ou políticos bem sucedidos ou até mesmo playboys ricos subsidiavam escritores, pensadores, músicos e artesãos. Mais do que serem pagos apenas para produzir arte, estes cidadãos desempenhavam uma infinidade de outras tarefas em troca de proteção, comida, presentes, favores e remuneração. Uma dessas tarefas era a de ser um Anteâmbulo – literalmente, “aquele que abre o caminho”.
O Anteâmbulo caminhava à frente de seu patrono sempre que este se deslocava em Roma, desobstruindo o caminho, comunicando mensagens e fazendo a vida de seu mecenas um pouco mais fácil.
O famoso epigramatista latino Marcial atuou como Anteâmbulo durante vários anos sob o patrono Mela, um bem sucedido homem de negócios e irmão do filósofo estoico e conselheiro político Sêneca.
Nascido em uma família sem grandes posses, Marcial também serviu como Anteâmbulo de outro empresário chamado Petilius. Como um escritor jovem, ele passava a maior parte de seu dia indo da casa de um patrono rico para a casa de outro patrono rico, oferecendo seus serviços e recebendo pequenos pagamentos e benesses em retorno.
A RAIZ DE UM PROBLEMA
Assim como a maioria de nós em nossos estágios profissionais e posições de entrada no mercado de trabalho, Marcial simplesmente odiava cada minuto de seus afazeres. Ele acreditava que este sistema de trabalho fazia dele um escravo, enquanto suas aspirações eram a de ter algum dinheiro e um pedaço de terra para chamar de seu, onde pudesse escrever em paz e com independência. Consequentemente, seus textos eram repletos de ressentimento contra a casta superior de Roma, que ele acreditava tê-lo posto cruelmente de lado.
Perdido no meio de sua ira impotente, Marcial não foi capaz de ver a singularidade de sua posição: justamente por ser um fora de série na sociedade romana ele pode ter uma visão fascinante daquela cultura – e escrever sobre isso. Sua obra, que chegou quase na totalidade aos nossos dias, influenciou diversos autores, tais como Francisco de Quevedo, Bocage e Gregório de Matos.
E se, ao invés de se torturar com o sistema e deixar-se consumir por dentro por causa disso, Marcial tivesse feito as pazes com ele, aproveitando melhor as oportunidades que surgiam?
Esta é uma atitude comum que transcende gerações e sociedades: o gênio incompreendido e exasperado é forçado a fazer coisas que não gosta para pessoas que não respeita, e só assim vai conseguindo desembaraçar sua trajetória pelo mundo – mas não sem afligir-se com lamentos sem fim por causa disso. “Como ousam me forçar a trabalhar com isso? Que injustiça! Que desperdício!”, repete o gênio para si o tempo todo.
Este é o típico comportamento de muitos funcionários que processam suas empresas e dos eternos adolescentes de 20 e tantos anos que mostram uma enorme disposição para continuar morando com seus pais ao invés de se submeterem a um trabalho para o qual se acham “superqualificados”.
Essa pirraça também é percebida nos indivíduos que se recusam a dar um passo para trás antes de dar um salto para frente. “Não vou deixar ninguém mandar em mim: prefiro ser nada a ser um pau mandado pelo sistema. Para trás nem para tomar impulso!”, dizem os rebeldes que têm as roupas lavadas por suas mães. E por aí vai.
Todavia, vale à pena dar uma olhada nas supostas “indignidades” de trabalhar a serviço de outra pessoa. Na realidade, o modelo de aprendiz não é apenas responsável por algumas das maiores obras primas do mundo – até Michelângelo e Leonardo da Vinci foram aprendizes um dia -, mas, se você está a caminho de ser o fodão que acha que será, então trabalhar a serviço de outra pessoa é apenas uma imposição temporária, certo?
Quando alguém consegue o primeiro emprego ou é admitido em um emprego novo, em geral recebe um conselho do tipo: “Mantenha a cabeça baixa, não levante poeira, não cause alvoroços: por aqui, manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Obviamente, não é este tipo de conselho que aquele sujeito, que cresceu como uma criança mimada com todos os prêmios possíveis apenas por tentar fazer o que era seu dever entregar pronto, quer ouvir. Ademais, ele fez faculdade, MBA, PNL e duas pós-graduações em coaching justamente para não ter que escutar esse tipo de ladainha indecorosa.
PURA BALELA
Vamos falar com todas as palavras para economizar tempo: sim, sucesso tem bastante a ver com sua capacidade de puxar sacos e engolir sapos. Se trata de fazer o outro sair bem na foto e oferecer o suporte necessário para que todos deem o melhor de si. É agir como se você fosse uma tela em branco onde alguém pode desenhar um belo quadro. Sua tarefa é ser um Anteâmbulo, abrir o caminho para as pessoas acima de você na hierarquia, pois assim você pode eventualmente criar um caminho para si mesmo.
Quando você está começando, é recomendável estar ciente dessas 3 realidades:
1 – Você não é tão importante, tampouco tão bom, quanto pensa que é.
2 – Você possui comportamentos e atitudes que devem ser reajustados.
3 – Boa parte do que você acha que sabe e boa parte do que lhe ensinaram na escola ou que você aprendeu sozinho nos livros, está errado ou ultrapassado.
Mas existe uma maneira extraordinária de usar tudo isso a seu favor: associe-se a pessoas e organizações que já alcançaram o sucesso e mescle sua identidade com a deles, subindo pacientemente um degrau de cada vez.
Existe um glamour incrível em perseguir sua própria glória, mas essa estratégia tortuosa possui uma eficácia limitada. A Obediência, por outro lado, é direta e focada. Além de reduzir seu ego em um momento crítico da sua carreira, ela possibilita que você absorva todo o aprendizado necessário sem os obstáculos aliados à teimosia de fazer tudo apenas do seu jeito – entraves que impedem sua visão e o seu progresso.
Isto não significa que você deve ser tornar um sicofanta. Pelo contrário: o artifício da subserviência prática permite que você examine a máquina de dentro de suas entranhas, descobrindo oportunidades para outras pessoas além de você mesmo. Lembre-se: anteâmbulo significa “abrir o caminho”, encontrar a direção que alguém deseja ir e ajudar esta pessoa a orientar suas forças no rumo de seus objetivos.
Muitos escritores famosos iniciaram suas carreiras sob pseudônimos, escrevendo cartas, textos e artigos fabulosos pelos quais ganharam nenhum reconhecimento – pelo menos não no começo de suas vidas. Esses artistas não estavam se desperdiçando, mas pensando no longo prazo: analisavam como a opinião pública funcionava, geravam debates e calibravam o estilo de sua prosa – enquanto outros usufruíam os créditos de suas ideias.
A vaidade e o senso de superioridade, essas armadilhas corriqueiras do ego, não costumam agir como degraus para suas conquistas, mas embargos. A grandiosidade tem um início humilde; ela nasce da tenacidade, do trabalho duro, daquelas tarefas aborrecidas que as pessoas acham mesquinhas demais para se dedicar. Tornar-se grande significa que você deve se considerar a pessoa menos importante na sala – até chegar a hora em que você seja capaz de mudar drasticamente os resultados.
FALE POUCO, FAÇA MUITO
Imagine se, para cada pessoa que cruzar seu caminho, você pudesse fazer algo para ajudá-la? E você contemplasse o cenário e pautasse suas ações de maneira a beneficiá-la – e não a você, inicialmente. O efeito cumulativo disso seria profundo: você aprenderia uma enormidade sobre como resolver uma miríade incrível de problemas; desenvolveria a reputação de ser indispensável e criaria infinitas novas redes de contatos e relacionamentos.
É isto que a Estratégia do Anteâmbulo oferece: um meio de ajudar a si ajudando aos outros. Fazer um esforço consciente para trocar sua satisfação de curto prazo por uma gratificação de longo prazo. Enquanto todo mundo tira água de pedra para receber os créditos e ser respeitado, que tal pegar uma rua paralela e esquecer os créditos por um tempo? Esqueça tanto a ponto de se sentir genuinamente feliz quando outros o recebem ao invés de você. Deixe que os outros se degolem para receber reconhecimentos fúteis em cima de reconhecimentos banais: mantenha seu interesse no principal.
Infelizmente, a Estratégia do Anteâmbulo é um expediente trabalhoso. É mais fácil se deixar seduzir pela mágoa, como Marcial. É mais confortável odiar qualquer sugestão de subserviência, desprezando com todas as forças aqueles que possuem mais recursos, mais experiência ou mais status que você. É mais tranquilo consolar-se com a ideia de que cada segundo fazendo uma tarefa abaixo dos “níveis de seus dons naturais” é um desperdício de seus talentos. Mas a verdade é que este tipo de comportamento equivale a uma rebeldia absolutamente inútil e infantil.
Uma vez ultrapassada esta barreira egocêntrica, a Estratégia se torna fácil e seus desdobramentos são incontáveis, indo desde levar algumas ideias para seu chefe e deixar que ele as selecione, passando por autor das melhores; encontrar pessoas, criadores e construtores, e apresentá-los uns aos outros; descobrir algo que ninguém quer fazer e cumprir esta missão com maestria; identificar ineficiências, distrações e redundâncias e apresentar soluções para otimizar os recursos disponíveis; ou produzir mais que todos os outros e oferecer de graça sua receita para que todos tirem proveito do método. O segredo está em considerar o contato com cada pessoa um investimento no seu próprio desenvolvimento.
A Estratégia do Anteâmbulo pode ser empregada a qualquer momento. Ela não possui uma data de validade ou limites de faixa etária. Você pode adotá-la em qualquer ciclo de sua carreira – antes de conseguir um emprego, enquanto está no emprego, ou se está começando algo novo -, e logo verá que não existe um motivo sequer para não aplicar esta dinâmica também em outras esferas de sua vida.
Quando compreende a Estratégia do Anteâmbulo e permite que ela se torne algo natural e permanente em sua personalidade, você se torna capaz de enxergar aquilo que o ego das outras pessoas não permite que elas vejam: assim como a tela dá forma à pintura, aquele que abre o caminho é quem derradeiramente lidera e controla a direção de todos os outros.
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