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Quantas vezes você já ouviu conselhos incongruentes do tipo “Não julgue um livro pela capa” e “A primeira impressão é a que fica”?
Afinal de contas, qual dos dois é o mais sábio? Qual esconde a verdade?
Com esta dúvida em mente, parti em uma aventura por dezenas de bases de dados e revisões sistemáticas da literatura científica para desvendar o índice de acertos das primeiras impressões. O que descobri foi uma grata surpresa!
O MÉRITO DOS JULGAMENTOS ANTECIPADOS
A habilidade de julgar outro ser humano está intimamente ligada ao instinto de sobrevivência: precisamos decidir em uma fração de segundos se o sujeito com quem você está interagindo representa um amigo ou um inimigo em potencial.
Antes mesmo que você tenha tempo para tecer qualquer consideração mais intelectual sobre a pessoa na sua frente, seus instintos – armados das percepções rústicas colhidas a partir do cheiro, da postura e do tom de voz da pessoa – já decidiram se ela é atraente ou repulsiva, amigável ou hostil. E sua opinião se desenvolverá a partir da emoção que surge neste primeiro encontro.
Primeiras impressões costumam apresentar tanto uma boa dose de exatidão quanto de equívoco. Mas será que você sabe identificar quando a primeira impressão que teve de alguém está correta? De acordo com uma pesquisa canadense de 2011, sim, você sabe.
No estudo, conduzido pelo psicólogo Jeremy Biesanz na Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), 100 indivíduos foram colocados em uma sessão de encontros-rápidos: uma pessoa interagia com a outra por 3 minutos e então os pares trocavam – mas, antes de fazerem o rodízio, registravam sua impressão sobre a personalidade um do outro e classificavam qual acreditavam ser chance de suas impressões instantâneas sobre aquele indivíduo serem iguais às impressões de alguém que o conhecia intimamente há mais tempo.
Para determinar como cada um dos participantes realmente era, os pesquisadores fizeram com que eles preenchessem seus próprios relatórios de personalidade, que foram então aprimorados com pareceres de seus pais, amigos e familiares.
Incontáveis estudos mostram que nossas primeiras impressões podem ser bem acuradas, e os participantes do experimento de Biesanz fizeram um excelente trabalho nesse sentido: quanto mais certos se sentiam de suas opiniões sobre alguém, mais suas avaliações se aproximavam daquelas fornecidas por amigos e parentes (ainda que esta correlação não tenha sido 100% perfeita).
BIESANZ E O EFEITO FORER
O estudo de Biesanz mostrou que existem duas maneiras para acertar a personalidade de uma pessoa: somos diferentes uns dos outras, mas um bom julgador sabe que a maioria das pessoas é bem parecida. Por exemplo: quase todo mundo prefere ser amigável do que ser antipático. Por isso, quando mais as pessoas associavam a personalidade de seu interlocutor a traços comuns a todos nós, mais acurada percebiam ser sua avaliação.
Parte da pesquisa de Biesanz pode ser explicada por algo que conhecemos como Efeito Forer. Este fenômeno, também conhecido como Validação Subjetiva, explica porque as pessoas acreditam em horóscopos, cartomantes, ilusionistas e em vendedores de restauradores capilares.
Em 1948 o psicólogo Bertram Forer deu a cada um de seus alunos um teste de personalidade. Depois, disse que cada aluno receberia uma análise única e individual baseada nos resultados dos testes, e que eles deveriam avaliar a precisão da análise em uma escala de 0 (muito ruim) a 5 (muito boa). Na verdade, todos os alunos receberam o mesmo texto, que dizia o seguinte:
“Você tem uma necessidade de ser querido e admirado por outros, e mesmo assim você faz críticas a si mesmo. Você possui certas fraquezas de personalidade, mas, no geral, consegue compensá-las. Você tem uma capacidade não utilizada que ainda não a tomou em seu favor. Disciplinado e com auto-controle, você tende a se preocupar e ser inseguro por dentro. Às vezes tem dúvidas se tomou a decisão certa ou se fez a coisa certa. Você prefere certas mudanças e variedade, e fica insatisfeito com restrições e limitações. Você tem orgulho por ser um pensador independente, e não aceita as opiniões dos outros sem uma comprovação satisfatória. Mas você descobriu que é melhor não ser tão franco ao falar de si para os outros. Você é extrovertido e sociável, mas há momentos em que você é introvertido e reservado. Por fim, algumas de suas aspirações tendem a fugir da realidade.”
O Efeito Forer pode ter sido um viés dos pareceres fornecidos pelas cobaias de Biesanz: toda análise generalizada baseada em leitura fria apresenta uma boa margem de acerto. Pessoas não são tão diferentes assim umas das outras, lembra-se?
Contudo, isso não elimina o fato de que muitas decisões extremamente relevantes são tomadas a partir de encontros rápidos: as primeiras impressões influenciam profundamente nossa decisão sobre qual candidato deve ser contratado, qual pessoa queremos encontrar de novo, qual estudante deve receber uma bolsa, qual babá é mais confiável para vigiar seus filhos, ou quem é o criminoso e quem é a vítima em uma cena de conflito.
COMO TORNAR-SE UM JUIZ MAIS EFICIENTE?
Algumas pessoas são Juízes melhores e fazem isso porque tendem – consciente ou inconscientemente – a emitir sua avaliação após um julgamento mais integral da imagem do outro. Elas não analisam apenas o rosto, mas o corpo por inteiro: o modo como o outro anda, como se senta, como segura um objeto ou coloca objetos entre ele e seu interlocutor… Mas estas impressões podem ser acuradas apenas para aquele determinado momento.
Certas características exibidas pelo alvo tais como independência, simpatia, coragem, senso de humor, experiência com a natureza humana, maturidade, inteligência, habilidades sociais e similaridade com você, facilitam a emissão de julgamentos mais acertados. Entretanto, alguém em um estado de tensão ou ansiedade pode vestir uma máscara protetora inconsciente e agir de um modo que revele esta mesma tensão – que não necessariamente corresponde à natureza global daquele indivíduo.
De sua parte como Juiz, sua habilidade em emitir um bom julgamento está diretamente relacionada ao sexo (mulheres emitem juízos mais acurados que homens), inteligência, sensibilidade, comunicabilidade, estabilidade emocional, autoconhecimento e habilidade para formação de vínculos sociais.
Juízes que estimulam seu alvo a falar sobre idéias e sentimentos possuem uma chance maior de emitir julgamentos mais corretos sobre a personalidade do outro. Para que isso ocorra, é preciso deixar o alvo relaxado e desarmado. Um diálogo-questionário hostil e manipulador dispara na mesma hora mecanismos de defesa que afetam diretamente a exatidão julgamento.
AFINANDO SUA SINTONIA
De acordo com o teórico da finança comportamental Daniel Kahneman, ganhador do Nobel de Economia em 2002 e autor de Rápido de Devagar – duas formas de pensar, as primeiras impressões são surpreendentemente acuradas, mas não são perfeitas – e isso pode ter conseqüências.
Para detectar uma ameaça com maior rapidez, utilizamos uma heurística que geralmente sacrifica a acurácia em nome da velocidade. Segundo a Teoria do Sistema de Análise de Erro, nos momentos de incerteza, seres humanos pecam pelo excesso de cautela, escolhendo os erros menos custosos e mais adaptativos. Identificamos uma situação segura como potencialmente arriscada com uma freqüência bem maior do que identificamos uma situação arriscada como sendo potencialmente segura.
A despeito do contexto, costumamos ser resistentes a mudar uma primeira impressão, mesmo quando nos deparamos com evidências que a contradizem (vide a Teoria da Díade Moral, um assunto que cobrimos em outro post).
Se a sua primeira impressão for um equívoco, pode ser necessário um tempo até dar-se conta disso, uma vez que nossas expectativas em geral criam um efeito de profecias auto-realizáveis: se você acorda com a impressão de que aquele será um dia alegre, iluminado e triunfante, pode estar chovendo cântaros lá fora e você pode até ser demitido de seu emprego, e tudo lhe parecerá uma conspiração do universo para tornar sua vida mais plena de desafios construtivos e aprendizados.
Por isso é importante, ao tecer uma primeira impressão de alguém, tentar gerenciar a influência de suas convicções. É muito simples julgar as pessoas com base no que você sabe, dentro das molduras específicas que você carrega como referências. Somos especialistas em aplicar nossas emoções à percepção que temos do mundo.
Seus sentimentos, seus humores e suas neuroses podem influenciar a impressão que você tem de outras pessoas: devido à irritação ou a um estado de melancolia, você pode se fechar às pistas que a linguagem corporal do outro está transmitindo. Em uma atmosfera mais alegre, você tende a julgar uma pessoa com uma expressão negativa de modo positivo; em contrapartida, em uma atmosfera tensa, uma expressão alegre pode provocar reações negativas.
Traços faciais específicos influenciam bastante a primeira impressão que temos de alguém. Por exemplo: uma maior razão largura/comprimento costuma ser relacionada a uma menor percepção de confiabilidade e uma personalidade mais dominante – talvez devido aos níveis mais elevados de testosterona, que são responsáveis por deixar o rosto mais largo.
Pessoas com faces mais infantis (queixo pequeno, sobrancelhas altas e olhos grandes) costumam ser imediatamente percebidas como afetuosas, submissas e ingênuas. O canto da boca em posição neutra ou voltado para cima resulta em uma impressão imediatamente mais positiva. O contato visual seguro evoca confiabilidade, e olhos maiores conferem um ar mais empático, extrovertido, consciencioso e inteligente. Estes aspectos podem fazer com que você emita um juízo favorável de alguém que é uma verdadeira peste.
É NA DIFERENÇA QUE CRESCEMOS
Pode parecer mesquinho, mas é assim que os primatas humanos funcionam: julgamos um livro pela capa, sempre! E uma capa bonita e atraente suscita uma olhada mais próxima e mais condescendente.
Não admira que indivíduos classificados como bonitos sejam invariavelmente julgados de modo mais positivo e acurado. Reclamar disso é tão inútil quanto infantil: é com esta ferramenta de psicologia evolutiva que a Natureza vem manobrando nossa espécie há mais de 300 mil anos. Seu trabalho, agora, consiste em aprender sobre as curvas no caminho, ao invés de ficar suspirando pelos cantos, frustrado e esperançoso pela vinda de seu mundo de Pollyanna.
Suas convicções pessoais, suas competências e talentos, os traços de sua personalidade, as diferenças culturais – todos estes contaminantes podem reduzir a precisão de seu julgamento. Quando formatamos nosso círculo de confiança, tendemos a selecionar apenas pessoas que se pareçam conosco. Fazemos isso a partir daquele bendito julgamento instantâneo – e esses mecanismos que levam à formação de primeiras impressões continuam relativamente íntegros mesmo após o envelhecimento. Os anos certamente irão aumentar – a sabedoria, não exatamente.
Apesar das manias acumuladas. as interações mais criativas e produtivas em geral são fomentadas pelo convívio com pessoas diferentes de você. A Apple surgiu do casamento entre um engenheiro cdf (Steve Wozniac) e um publicitário carismático (Steve Jobs).
Sua primeira impressão de alguém pode ser negativa, mas se você tentar descobrir o que possuem em comum – ao invés de colocar todo o foco naquilo que não gosta no outro – é provável que obtenha ganhos inesperados desse contato.
Ao construir sua rede de conhecidos e encontrar pessoas com quem deseja ter um relacionamento produtivo de longo prazo, tenha muito cuidado com as primeiras impressões: elas podem ser uma bússola decente e até confiável, mas jamais serão capazes de mostrar o mapa por inteiro.
Quer saber mais sobre o assunto? leia “INTELIGÊNCIA – UMA VIAGEM PELA CARACTERÍSTICA MAIS INCRÍVEL DO COSMO”.
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