Apesar de todo mundo admitir que temos muito mais que precisamos, e apesar da intenção genuína de muitos em tentar simplificar suas vidas, a verdade é que continuamos a acumular coisas demais.
Parte desse acúmulo é preguiça, mesmo. “Ah, faço isso mais tarde…”, etc e tal. Mas na verdade, a grande força que está por trás do acúmulo é o MEDO. É o medo que nos faz comprar e guardar coisas que não precisamos.
Considere o seguinte:
- Quando vai viajar, sua mala parece que vai explodir de tão estufada. Você compra tranqueiras e tem um armário ou um depósito cheio delas. Você não se desfaz de itens que não usa mais. “Paguei os olhos da cara por isso e posso precisar um dia”. Provavelmente, não irá precisar, mas a incerteza lhe consome. Essa previsão de necessidade raramente é precaução racional, mas apenas manifestação do medo de não ter segurança no futuro.
- Você guarda livros que já leu (ou que nunca irá ler), um violão que nunca aprendeu a tocar, uma bicicleta ergométrica que virou cabideiro… além disso, você tem um monte de roupas (ou similares), muito mais do que necessita. Elas representam quem você é. Livrar-se delas seria como limitar as possibilidades de expressão da sua personalidade. Quando pensa em se desfazer destas coisas, sente-se como se estivesse saltando no vazio. Isso é uma manifestação do medo de não ser tão bom quanto você gostaria de ser.
- Você acumula itens sentimentais porque não quer se desfazer daquelas memórias que lhe são queridas. Esses objetos representam o afeto de cada uma das pessoas aos quais eles se relacionam, então você os mantem por perto, nem que seja em uma caixa empoeirada sobre o armário. Esta é uma manifestação do medo de que talvez o amor que você tem agora não seja bom o bastante.
Praticamente todas as suas posses que não são necessidades absolutas (p.ex.: um abrigo, uma cama, itens de higiene básica, comida frugal, vestimentas simples para cobrir sua nudez, etc) são compradas e mantidas por Medo.
Queremos estes itens para que eles nos confortem, para ajudar a diminuir nossas ansiedades, dar a sensação de que estamos bem preparados e de que o futuro é uma certeza. Obviamente, a despeito da esperança que tão diligentemente nutrimos, objetos não são capazes de realizar todas essas mágicas.
Nunca teremos certeza alguma acerca do futuro e continuaremos a acumular mais e mais coisas tentando diminuir o medo de não sentirmos segurança o bastante, ou sermos bons o bastante, ou termos amor suficiente para suprir nossas carências. E todo o ciclo se repete de novo e de novo.
A Solução Existe!
Se pudéssemos encontrar uma maneira diferente para lidar com o Medo, não precisaríamos de tantas coisas. Poderíamos refrear o impulso de comprar sem necessidade. Avançando um pouco mais, se finalmente aceitássemos nos desfazer DOS acúmulos inúteis, pouparíamos uma quantidade enorme de espaço e energia mental.
Ao invés de permitir que o medo se transforme em acúmulo, que tal tentar uma abordagem diferente? Eu sugiro que você tente a seguinte técnica de 4 passos simples:
- Perceba o medo. Aceite que você está sendo motivado pelo medo, não pelo desejo de conquista ou por um planejamento racional. Não existe lógica no seu comportamento, mas ansiedade, preocupação e insegurança.
- Não fuja dele. É a velha reação de fuga ou luta. “Se você não pode vencer o medo, saia correndo!”, certo? Mas neste caso, nenhuma dessas opções – nem a luta, tampouco a fuga – irá lhe trazer conforto. Então sente-se, respire fundo, acalme-se e encare seu medo.
- Sorria. Seu medo é como uma criança assustada dentro de você. Ele é natural, faz parte da programação mais primitiva do seu cérebro, mas você não é apenas seu cérebro primitivo. Aceite o medo e sorria para ele, como você faria com um velho amigo. Sorria de verdade, ache graça da ansiedade, dê uma risada! Uma atitude simples dessas é capaz de dissipar boa parte do poder que o medo teria sobre você.
- Faça amizade. Desenvolva uma atitude de curiosidade com seu medo. Quais reações ele provoca no seu corpo? Você sente vontade de comer doces ou roer as unhas? Qual a intensidade dele? Torne seu medo alguém conhecido, faça um café, sente-se com ele e chame-o pelo apelido de infância. Você perceberá que ele é inofensivo e fútil. Eventualmente, ele irá se desfazer como uma nuvem passageira no céu da sua mente.
Estabelecendo esse tipo de relacionamento com o Medo, você adquire liberdade para agir sem a pressão de aliviá-lo com compras ou acúmulos. No final, perceberá que você vai muito bem, obrigado. Que o futuro é uma incógnita e isso é extraordinário! Que você pode ser tão bom quanto sempre quis ser. Que o amor por si mesmo é infinito e não depende de forças ou fardos. E essas noções valerão mais que todas as posses do mundo.