Existe uma máxima da Era Vitoriana que diz: “Nunca Se Explique, Nunca Se Queixe”. O aforismo é creditado a Benjamin Disraeli, aristocrata e duas vezes Primeiro Ministro Britânico no Século XIX.
Este é o tipo de filosofia que vale à pena refletir. Existe uma masculinidade atrevida aí, quase ao ponto do incomodamente agressivo.
“Nunca Se Explique, Nunca Se Queixe” traduz confiança e assertividade, mas também indolência e uma dose de misantropia encapsulada – todas essas coisas que não se veem mais nos homens de hoje, em sua maioria Peter Pans aglomerados em tribos de molengas sob cânticos de autopiedade.
De modo algum esses “Nuncas” têm um caráter inexorável e certamente não devem ser aplicados a todas as situações possíveis. E, mesmo quando devemos aplicá-los, pode ser extremamente difícil colocar-se à altura deles. Mas compreendê-los e onde e por que aplicá-los deveria ser crucial para qualquer Homo sapiens XY aspirante ao título de Homem.
Em um espaço muito curto, essas seis palavras encerram um bocado de verdades. Então comecemos a dissecção pela primeira metade:
NUNCA SE EXPLIQUE
O filósofo e anarquista americano Elbert Hubbard sentenciou: “Nunca se explique: seus amigos não precisam e seus inimigos não acreditarão”.
Fico pensando se Hubbard teria nervos para citar os “Nuncas” enquanto o Lusitania, torpedeado por um submarino nazista, naufragava na costa da Irlanda em 1915, levando consigo as vidas do prezado Elbert, sua esposa e mais outras tantas almas…
De qualquer forma, a frase de Hubbard serviria como uma luva em outro contexto: quando Winston Churchill era um jovem oficial da cavalaria, ele estava sempre procurando uma maneira de chegar à frente de batalha para experimentar o combate em primeira mão.
O velho buldogue tinha mesmo umas manias estranhas, além de inteligência e persistência. E foi utilizando essas duas últimas que ele conseguiu sua posição no front em algum lugar onde hoje é o Paquistão. No começo, Churchill foi tratado pelo staff de alta patente como apenas mais um jovem oficial bobo com boas habilidades em polo.
Entretanto, um dia Churchill viu sua oportunidade de brilhar. O alto comissariado estava reunido e discutindo o texto que um jornalista correspondente de guerra e dispensado pela força expedicionária, havia publicado ao retornar à Inglaterra. O artigo tecia críticas ácidas sobre as atividades militares na Índia. Os oficiais estavam enfurecidos e tramavam qual seria a melhor reação contra aquele ultraje. Uma longa carta-resposta já havia inclusive sido escrita e seria enviada em breve.
Durante o debate, Winston interveio explicando que a carta deveria ser destruída o quanto antes. E completou:
“Seria absolutamente indigno e até mesmo impróprio para um alto oficial das Forças Armadas participar das controvérsias de um jornal, debatendo estratégias operacionais com um correspondente dispensado de suas atividades. Estou certo que o Governo se surpreenderia e o Comitê de Guerra se enfureceria com isso. As Forças Armadas devem deixar sua defesa para seus superiores ou para os políticos: não importa quão bom seja nosso argumento, o simples fato de discutir garante à contraparte mais pertinência que lhe cabe, ao mesmo tempo em que enfraquece nossa autoridade”.
Isso é Hubbard puro.
Explicar-se dá força ao outro. Se alguém lhe ofende, insulta ou questiona suas decisões por um motivo qualquer, é natural tentar explicar seu ponto de vista, especialmente quando a confusão ameaça manchar sua integridade. E, em alguns casos, algum tipo de resposta é mandatório mesmo, fazer o quê… Mas antes de revidar um “ataque”, considere este algoritmo de 4 passos:
1 – Se o Questionante é alguém que você conhece e respeita como um igual, alguém que você considera dentro do seu “Círculo de Honra & Confiança”, e essa pessoa disse algo inteligente e interessante, você pode até explicar-se para fomentar um debate proveitoso sobre o tema. Isso é Construtivo.
2 – Se o Questionante é seu chefe ou um cliente, explicar-se pode ser a diferença entre receber o pagamento no final do mês ou ir para o olho da rua. Isso é Sabedoria.
3 – Se o Questionante é alguém que você gosta – um(a) namorado(a) ou amigo(a) -, e você acredita que houve algum problema de comunicação, você pode tentar explicar-se como um esforço para preservar o relacionamento. Isso é Ternura.
4 – ENTRETANTO, se a parte Questionante é alguém que você pessoalmente não conhece, não respeita como um igual e/ou alguém por quem você não nutre sentimentos, então não gaste tempo explicando seu ponto de vista, ou porque você tomou esta ou aquela decisão. Isso é Idiotice.
Demonstrar preocupação sobre o que alguém de fora do seu “Círculo de Honra & Confiança” pensa é expulsar-se a si mesmo desse Círculo.
Explicar-se é uma tentativa de obter compreensão, mostra que você está mordido e deseja recuperar a aprovação do outro. Todavia, quando você dá importância a uma opinião à qual você e as pessoas à sua volta sabem que você deveria estar cagando e andando a respeito, isso revela fraqueza da sua parte. Ao optar pela catarse da discussão ao invés de irrelevar a situação, você demonstra incompetência no seu autocontrole.
Ademais, quando um imbecil obtém uma resposta sua, você está validando a importância desse mesmo imbecil ao presenteá-lo com dois bens muito preciosos: seu Tempo e sua Atenção.
Seguir o “Nunca se explique” não significa jamais responder qualquer coisa ou dirimir qualquer dúvida de qualquer pessoa que se dirija a você, mas tem a ver com limitar suas respostas a um número restrito de pessoas relevantes.
Explicações pormenorizadas se parecem muito com um pedido de desculpas, demonstrando que você provavelmente não tem muita confiança em suas próprias escolhas e princípios.
Ao explicar e explicar e explicar, você está procurando convencer tanto o outro quanto a si mesmo. Isso é coisa de criança, não de Homem.
NUNCA SE QUEIXE
Apesar de “Nunca se Explique” e “Nunca se Queixe” serem duas frases diferentes, ambas compartilham ideias similares de Autonomia e Responsabilidade.
Uma vez entendido o porquê de você raramente dever explicar-se, logo em seguida cai a ficha do porquê de você raramente dever se queixar.
Se alguém fez ou disse algo que lhe incomoda, não se perca em longas e emocionadas queixas sobre a infelicidade acumulada em seu umbigo. Fale pouco ou quase nada e dê o passo seguinte na direção daquilo que irá resolver a situação.
Pessoas que se queixam não são pessoas que realizam. No desconforto, o bom senso recomenda que você permaneça em silêncio, sempre, escolhendo a ação focada ao invés do lacrimejamento estático.
Muitas vezes, a pessoa ou a situação sobre a qual estamos nos queixando possuem um propósito que vai além dos nossos próprios desejos e necessidades. Quer um exemplo? O colégio / faculdade.
Muitos estudantes se queixam que tal “professor quer me ferrar desse jeito”, que a matéria é muito difícil e que as provas são de matar. Bem, o professor tem um conjunto de metas e, ainda que você discorde e decida abandonar a escola por causa disso, de que adianta queixar-se que as prioridades dele não são as mesmas que as suas?
A Realidade não existe para corresponder às suas expectativas. O Mundo não foi colocado aí porque você tem o “direito de ser feliz”. “Direito de ser feliz” o caralho! – dá pra ser mais ridículo que isso?
Esqueça o choramingo carente pela alucinação que você habituou chamar “Seus Direitos”. A fase de aleitamento materno terminou quando você tinha 6 meses – ou pelo menos deveria ter terminado. Largue essa teta. Você não tem direitos.
Você é um adulto com Forças, Vontades e Confianças – ou pelo menos deveria ser a essa altura -, e, se as coisas não saíram como você queria, você tem duas escolhas:
1 – Deixe aquilo de lado e parta para a próxima tentativa, ou
2 – Continue ali e dê um jeito de fazer uma boa limonada com seus limões.
Mas em hipótese alguma perca seu tempo se explicando ou se queixando. Ou Soma ou Some. Ou Age ou Sai. Ou Faz ou Vai Embora. Simples assim.
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