OS ATRIBUTOS DE UM HOMEM EDUCADO

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O que define um homem educado? A quantidade de títulos que ele tem? A extensão de seu vocabulário? Quantos livros ele leu? As qualidades que constituem um Homem Educado poderiam ser debatidas e discutidas por uma eternidade…

No livro “How to Live the Good Life”, o comandante da marinha inglesa Edward Whitehead ofereceu algumas pistas: “O homem educado pode ser definido como aquele capaz de entreter-se consigo mesmo, com outras pessoas e com novas ideias”. Vamos então dar uma olhada em cada uma dessas características citadas pelo comandante:

1. CAPAZ DE ENTRETER-SE A SI MESMO

Billy Graham, um pregador batista americano de meados do século XX, disse que “apenas aqueles que querem que tudo seja feito para eles mesmos são capazes de se entediar”.

“Isso aqui está chato!” é uma das frases mais comum que as crianças costumam dizer. Elas sempre esperam que seus pais surjam com alguma atividade divertida que as livre do tédio. Lamentavelmente, muitos homens nunca crescem para além dessa necessidade de serem entretidos por outras pessoas e não desenvolvem iniciativas próprias.

Diferente de uma criança que enjoa rapidamente de um brinquedo ou atividade, o Homem Educado é capaz de mergulhar de cabeça em suas tarefas, hobbies, livros ou conversas – ele desenvolveu o poder do foco e da concentração.

Pessoas entediadas em geral estão entediadas consigo mesmas. É óbvio que, com todas as amenidades de hoje (DVDs, TV a cabo, internet, smartphones, redes sociais, whatsapp, etc), entreter-se sozinho não é algo muito difícil. Neste mundo moderno, o VERDADEIRO teste para o Homem Educado consiste na capacidade que ele tem de entreter-se quando NENHUMA tecnologia está ao seu alcance ou quando não é socialmente correto fugir de uma determinada situação.

Você é capaz de produzir entretenimento para você mesmo em um jantar chato? Ou em um acampamento, ou tendo uma conversa em uma balada? O Homem Educado é, e ele faz isso – ironicamente – utilizando uma característica que todos tínhamos na infância: a CURIOSIDADE.

O Homem Educado tem uma curiosidade insaciável sobre o mundo à sua volta. Em qualquer evento, ele vê algo que pode aprender, estudar e observar. Se ele se vê preso em algum lugar – sozinho em um engarrafamento e sem celular à mão, por exemplo -, ele utiliza seu tempo para desembaraçar algum questionamento filosófico em sua cabeça.

A mente do Homem Educado é um imenso depósito de ideias que ele pode sacar e examinar a qualquer hora, em qualquer lugar.

2. CAPAZ DE ENTRETER SEUS AMIGOS

Sem forçar a barra, o Homem Educado torna-se a alma de qualquer evento. Ele é capaz de iniciar ou participar de conversas de um modo vivo e inteligente. Isso é possível devido à amplitude de suas leituras e vivências. Ele tem um arsenal pronto de histórias interessantes sobre suas viagens e experiências, mantendo-se atualizado sobre notícias e pontos de vista pertinentes.

Não importam as características demográficas do grupo onde está, ele sempre oferece algo do interesse de todos – ainda que seja uma boa e velha piada.

Machado de Assis e Abraham Lincoln são dois bons exemplos de Homens Educados que eram capazes de entreter outras pessoas. A despeito de ambos terem uma formação muito básica – Lincoln tinha fez apenas 1 ano de educação formal e Assis, de família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou uma universidade -, eles eram leitores vorazes e dedicaram suas vidas a um aprendizado constante. Como resultado, tornaram-se capazes de conversar sobre praticamente qualquer coisa com qualquer pessoa.

É óbvio que, por ser um estudioso do comportamento e da psicologia humana, o Homem Educado sabe que uma das coisas que mais encantam as pessoas é quando alguém parece genuinamente interessado nelas. O Homem Educado é, antes de tudo, um excelente ouvinte.

3. CAPAZ DE ENTRETER-SE COM NOVAS IDEIAS

Essa característica parece ser a mais fácil das 3. Não é muito difícil ter uma mente aberta, certo? Errado.

Incontáveis pesquisas analisando como nossas mentes funcionam mostraram que, longe de sermos os seres racionais que tanto nos orgulhamos de dizer que somos, o inconsciente está constantemente dando forma às nossas ideias, valores, verdades e motivações – de um modo irracional.

Por exemplo: o “comportamento de autodefesa” embutido no seu inconsciente faz com que você, quando apresentado a evidências que contradizem suas crenças, ao invés de mudar de ideia, se entrincheire nelas ainda mais.

Outro exemplo: o “viés de confirmação” nos faz prestar atenção apenas às informações que confirmam nossas convicções pré-existentes, classificando como irrelevantes todas as outras.

Um último exemplo: a “falácia do custo investido”. Esta arapuca nos faz empacar em opções ruins ao invés de seguir em frente porque já investimos tanto tempo, dinheiro ou emoções ali que aquilo “tem que dar certo agora!”.

Existe uma obra excelente que aponta estas e outras armadilhas do inconsciente, chamada “A Arte de Pensar Claramente”, de Rolf Dobelli. Recomendo que você o coloque na sua lista de livros para ler.

O fato é que seu inconsciente vê suas ideias pessoais como um grande tesouro – e rotula todo o resto como ameaça. Quando ideias conflituosas são detectadas pelo Serviço de Segurança do inconsciente, ele solta os cães em cima delas e tranca a porta.

Agora você compreende que a capacidade de entreter-se com novas ideias não é algo que ocorre natural e espontaneamente? Sua mente consciente deve, de modo deliberado, desligar o serviço de segurança inconsciente e dizer: “Ok, eu sei porque estou agindo assim na defensiva. Vou me policiar para não ser hostil. Ainda não sei se essa é uma ideia valiosa ou uma completa imbecilidade – vamos lá ver qual é”.

Entreter-se com uma nova ideia não significa que você deve aceitá-la ou combatê-la de imediato, ou mudar todo seu sistema de crenças e verdades toda vez que alguém lhe apresentar um modo novo de ver as coisas. Mantenha sua cabeça aberta, mas não tão aberta que seu cérebro caia dela.

Entretenha-se com a ideia da mesma maneira que você faria com um convidado em sua casa. Inicialmente, converse com ela em público, mantendo uma certa distância. Se ficar intrigado com aquilo, faça um convite mais pessoal para um papo. Invista um pouco do seu tempo matutando a ideia. Se ela for uma idiotice, não a convide mais para sua mente. Mas algumas vezes, aquela pessoa com quem você achava que não tinha qualquer coisa em comum pode terminar se tornando alguém do seu círculo mais próximo de amizades.

O Homem Educado enxerga esse contexto. Suas várias experiências e estudos lhe deram incontáveis oportunidades de ver como a informação que ele acumulou foi capaz de mudar sua opinião sobre algo. O sujeito raso, entrincheirado em seus conceitos, interage apenas com pessoas similares e só lê coisas que confirmam suas convicções. Para esse homem limitado, toda e qualquer ideia diferente é uma ameaça ao seu ego frágil e delicado.

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