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Considero a Filosofia a rainha-mãe de todo o conhecimento humano. Isso porque Filosofia é, na tradução crua do termo grego, o “apreço pelo conhecimento”: Philo = “amor, apreço”, e Sophia = “conhecimento, sabedoria”.
Sempre que falamos do Conhecimento produzido pelos humanos estamos, de alguma maneira, falando de Filosofia.
A Filosofia é, portanto, aquilo que vem antes, durante e após a Ciência. Ela é tanto a progenitora, quanto o presente e a própria vanguarda dos caminhos a serem percorridos pelo entendimento humano da realidade que nos cerca.
Se pudéssemos listar as características de um bom Filósofo, eu diria que ele (ou ela):
1. Demonstra compromisso com a coerência lógica e está sempre alerta para inconsistências e incongruências em seus raciocínios.
2. Demonstra compromisso em identificar crenças não-fundamentadas e/ou que não possuem justificativas no mundo lógico e no mundo “real”.
3. Demonstra compromisso em tentar eliminar, dentro do que lhe for possível, as predisposições de sua própria individualidade das concepções que engendra.
4. Demonstra compromisso em revisar “certezas” científicas e enredos históricos, dissociando-os de vieses político-ideológicos e religiosos temporais.
5. Demonstra compromisso em construir “pontes racionais”, conectando conscientemente os eventos precedentes aos fatos do presente e seus possíveis desdobramentos futuros.
É evidente que este “pentálogo” é uma representação do “mundo mental ideal” de um Filósofo. Como qualquer intenção de perfeição, esta também é uma pretensão inalcançável, pois filósofos humanos são, antes de filósofos, humanos em si, e somos todos limitados, finitos e inerentemente imperfeitos – e o mesmo se aplica aos sistemas cognitivos que amalgamamos ao longo de nossa jornada por esta existência.
Por isso, existem algumas fraquezas que afetam todos os Filósofos e, certamente e de modo ainda mais pertinente, qualquer “aprendiz de filósofo”. Vamos às principais delas:
1. Ao achar que é capaz de interpretar e elaborar uma teia lógica da realidade á nossa volta, o filósofo assume o papel de um Narcisista clínico, construindo em torno de si uma muralha discricionária que tende a incluir “todas as evidências relevantes” que compartilham entre si o fato de serem suficientes para legitimar seus próprios raciocínios.
2. Quando dois sistemas filosóficos entram em conflito, cada um dos autores tende a defender seu próprio sistema, pois ele é baseado em seu próprio senso de self. Abrir mão de seu sistema ideológico seria quase o mesmo que abrir mão de sua própria identidade pessoal – e raras pessoas são voluntariamente capazes de algo assim. Qualquer crítica que desafie nossas crenças soa como uma intimidação, produzindo em nós uma resposta defensiva tão natural quanto instintiva e, muitas vezes, inconsciente.
3. Por causa do descrito no item 2, mesmo os filósofos mais competitivos tendem a se fechar hermeticamente em seu sistema de crenças pessoais, limitando aquilo que um filósofo se dispõe a ver, admitir, pensar, investigar, questionar ou responder.
4. Exatamente pelo exposto, os sistemas filosóficos são excepcionalmente resistentes ao criticismo, seja ele interno ou externo. Qualquer um que ouse questioná-lo ou tente romper com sua “impermeabilidade psicológica” tende a ser imediatamente acusado de “heresia” e colocado de lado.
5. A condenação sumária dos ”hereges” resulta em uma estagnação perigosa: qualquer que seja a extensão daquilo que você sabe e conhece, isto será sempre uma gota frente ao oceano do que há para ser sabido e conhecido. Quando nos fechamos em nossas ideias, interrompemos nossas comunicações genuínas com o Mundo, e aceitamos uma fração muito diminuta do Conhecimento como sendo a Verdade absoluta – algo que viola a própria essência investigativa da Filosofia.
Por todos estes motivos, a Filosofia e os Filósofos sempre resistiram ao desenvolvimento de uma Filosofia Unitária – o que é bastante curioso, visto que, ainda que existam muitos caminhos para a Verdade, a Verdade em si é una e inexorável.
De todas as áreas do conhecimento humano, talvez a Filosofia seja a amante mais sedutora e, ao mesmo tempo, a mais exigente.
Conectar-se a este modo de pensar é colocar-se em um campo de batalha contra o narcisismo inato em nós, aceitando a dura tarefa de vigiar as forças dos mecanismos de defesa psicológica que nos impedem de avançar com honestidade e lucidez na compreensão da “realidade” ao nosso redor.
Não é uma tarefa fácil. Iremos falhar no caminho. Iremos Falhar várias vezes e várias maneiras miseráveis diferentes, uma depois da outra. Mas uma coisa posso lhe garantir: enveredar pelo pensamento Filosófico é algo que vale cada tropeço nessa caminhada. E se meu conselho vale alguma coisa, lhe digo o seguinte: aceite o desafio.