A IMPORTÂNCIA DO ÍNDICE DE LIBERDADE ECONÔMICA E A LENDA DOS PAÍSES ESCANDINAVOS SOCIALISTAS

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O Índice de Liberdade Econômica foi idealizado em 1995 por uma parceria entre o Wall Street Journal e a Heritage Foundation para avaliar, como o próprio nome já diz, o grau de liberdade de cada país.

O problema é que quando se fala em liberdade econômica, o senso comum associa isso exclusivamente à capacidade comercial, como se fosse um termômetro da capacidade de comprar e vender.

Só que não é assim que funciona.

O ILE, na verdade, é uma avaliação complexa e extensa, não pontual. A real utilidade dessa ferramenta é muito mais profunda do que aparenta, mas para compreender isso é preciso, primeiro, conhecer os critérios utilizados para chegar a tal classificação.

Observe a descrição:

“No Índice de Liberdade Econômica, os países são avaliados em quatro categorias principais, e cada uma contém três subcategorias:

Estado de Direito – Direitos de propriedade, integridade de governo, eficiência judicial.

Tamanho do governo – Gastos do governo, carga tributária, saúde fiscal.

Eficiência regulatória – Liberdade comercial, liberdade de trabalho, liberdade monetária.

Mercados abertos – Liberdade de comércio exterior, liberdade de investimento, liberdade financeira.

Todos os critérios têm o mesmo peso no cálculo final do índice, que considera uma escala de 0 a 100. Com base nesse resultado, a Heritage divide os países em cinco categorias principais: Livres (acima de 80 pontos), Majoritariamente Livres (de 70 a 79,9 pontos), Moderadamente Livres (de 60 a 69,9 pontos), Majoritariamente Não-Livres (de 50 a 59,9 pontos) e Reprimidos (menos de 49,9 pontos).”

Como percebe-se a pronta vista, o comércio não é o único critério utilizado pelo índice, apenas compõe seu portfólio de avaliação, que engloba desde a eficiência jurídica até as condições de trabalho e os gastos e tributos do governo. Em outras palavras: passeia por toda a área de abrangência que compõe a esfera governamental.

É importante ter essa noção por um motivo muito simples: nos dias atuais, não dá para classificar um país simplesmente como liberal ou não-liberal. Os governos são uma colcha de retalhos, montada de acordo com contextos históricos particulares e hipercomplexos, e estão situados em um borrão entre essas duas pontas, só podendo ser avaliados de forma conjuntural.

Os motivos disso são históricos.

Quando o movimento iluminista, no século XVII, inspirou revoluções que derrubaram a maioria dos regimes absolutistas e monárquicos vigentes, as idéias liberais de pensadores como John Locke e Adam Smith com relação à limitação dos governos e à liberdade individual se tornaram ponto central na formação da maioria das nações do mundo. Tais idéias podem ser consideradas, sem dúvidas também, as sementes da Revolução Industrial, que despontaram Inglaterra e EUA como potências mundiais.

O triunfo do capitalismo como condutor da história humana moderna, contudo, explicitou também suas nuances negativas, trazendo novos questionamentos e fazendo emergir outras vertentes de pensamento que defendiam a maior atuação do Estado como solução ao bem estar social.

Assim, pólos opostos se formaram. E desde então, não há um único país no mundo que não tenha pendulado entre essas duas idéias antagonistas em algum momento de sua história, montando seu próprio Frankenstein governamental, hora mais voltado à liberdade, hora mais voltado ao intervencionismo. O ponto central é: não existem países totalmente liberais, nem vice-versa. Existem países mais ou menos liberais, a partir da análise de uma série de características que cada governo apresenta individualmente.

E é justamente isso que o Índice de Liberdade Econômica procura quantificar. Ele fatia o Frankenstein e, analisando-o em partes, tenta chegar a um veredicto aproximado se o conjunto da obra pende mais para o lado da liberdade ou para o lado interventor.

Pois bem.

Entendendo que o índice é uma sintetização conjuntural, é possível entender também em qual lado da balança está o peso do sucesso. Os países de conjuntura mais liberal mostram melhor desempenho em praticamente todas as áreas que impactam a qualidade de vida de seus indivíduos, enquanto os menos liberais fazem o caminho inverso. Isso não elimina discussões pontuais, obviamente, mas norteia o pensamento.

A maior dificuldade de se discutir assuntos complexos como esse é a incapacidade da maioria das pessoas em lidar com informações conflitantes. Estão cheios de certezas onde elas de fato não existem. A eterna polêmicas dos países escandinavos como sendo socialistas é um exemplo clássico disso. Apesar de estarem todos na primeira prateleira da escala de liberdade, ainda são vistos por muita gente instruída como modelo de socialismo moderno. Essa certeza, obviamente, não corresponde à realidade, mas o descompromisso com os fatos deixou há muito de ser empecilho para a formação de certezas que, de certas, não têm nada.

É preciso resgatar o apreço à verdade e aprender a conviver com informações conflituosas. Abandonar a prepotência das respostas fáceis que permeiam todos os assuntos da vida cotidiana e intelectual. Fazer concessões de nossas convicções, quando necessário. E, mais do que tudo, urge a necessidade de substituir a visão pontual pela conjuntural. Tentar enxergar o todo. Quem enxerga a colcha, enxerga os retalhos. Mas quem só enxerga os retalhos, não enxerga a colcha.

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