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Não é raro vermos alguns poucos indivíduos se beneficiando dos esforços das ações de uma coletividade.
Por exemplo: quando todos são obrigados a pagar multas por ações que poluem o meio ambiente, cada um dos indivíduos naquela comunidade – mesmo aqueles contra estas medidas – termina se beneficiando com a promoção de uma vida mais saudável.
Uma pessoa pode pensar: “se eu jogar meu lixo naquele terreno baldio e ninguém ver, eu me livro dessa tralha e escapo da multa”, e ela vai lá e despeja os entulhos sem qualquer peso na consciência – ou no bolso. Ainda assim, esse indivíduo se beneficiará da conscientização coletiva e do medo que todos os demais têm em ganhar multas. O ambiente se tornará mais limpo por causa de muitas pessoas, mas nunca por causa dele. Ele não é um agente da mudança: ele está apenas usufruindo dela, como um carona desfruta da viagem na janelinha do carro.
O Problema do Caronista é um dilema reconhecido há milhares de anos.
Em A República, Platão discursou sobre a lógica da desobediência: sozinho, em geral você não tem força suficiente para modificar o curso dos acontecimentos, e, não se envolvendo neles, poupa de gastar sua energia ao mesmo tempo em que seu bem-estar é subvencionado pelos demais.
Esta lógica também foi deduzida pelo filósofo escocês David Hume, no século 18, e pelo cientista político italiano Vilfredo Pareto no começo do século 20. O Caronista é um subproduto daquilo que nós chamamos de Falácia da Composição, que consiste no equívoco de assumir que o todo possui a mesma propriedade de uma parte.
Entenda: todo sistema político nasce de uma concepção Coletivista. Ainda que a Direita associe de maneira axiomática o termo Coletivismo às ideologias de Esquerda, o fato é que a noção de Coletividade e de Coletivismo está intrínseca na natureza da Política.
A própria Democracia é um sistema Consequencialista e fundamentalmente Coletivista. A principal diferença entre a Democracia e os regimes Ditatoriais Comunistas está em que a “vontade” prevalente na Democracia não é a de um tirano, mas pertence à representação da maioria. Esta, inclusive, foi a argumentação feita por Aristóteles em A Política, quando ele discorre sobre o a função da pólis em perseguir o Bem Comum.
Talvez nenhum sistema esteja tão sujeito à Falácia da Composição e ao Problema do Caronista quanto os sistemas Democráticos. Veja o caso do Brasil na atualidade, por exemplo: nós tmeos cerca de 147 milhões de eleitores. No Segundo Turno das eleições presidenciais de 2018, aproximadamente 58 milhões de pessoas votaram no então candidato Jair Bolsonaro. Isso significa que, em termos friamente matemáticos, o presidente eleito contou com 39% dos votos do universo total do eleitorado. Não interessa o quanto você concorda com este processo, mas é assim que ele funciona. Se você acha isso injusto, então funde seu próprio país e estabeleça suas próprias eleições nele…
Considerada a totalidade dos brasileiros votantes, temos que 61% dos eleitores embarcaram nesta viagem Conservadora “de carona”. O maior desafio para aqueles que votaram em Bolsonaro, e torcem para que este governo nos tire do buraco socialista que a Era Petista nos colocou, está em aceitar a Falácia da Composição e resignar em carregar os Caronistas a tira-colo.
Bolsonaro conquistou a presidência apoiado por uma parte da sociedade, mas o todo da população não possui a mesma propriedade desta parte. E com as tecnologias de hoje, os habitantes da Falácia da Composição e os limpinhos sentados no banco do carona produzem um ruído de fundo quase ensurdercedor e imobilizante.
Para o gênio Thomas Hobbes, o argumento para a existência do Estado era o argumento da Vantagem Mútua: nós constituímos um Estado para aumentar nossas chances de sobrevivência.
Todos nos beneficiaríamos de um bom Estado, e igualmente poderíamos ser massacrados por um Mal Estado. Como um Mal Estado eventualmente sucumbe às massas, o Estado deve tentar ser Bom. Havendo vantagens recíprocas na relação entre Estado e Povo, o casamento tende a se sustentar e produzir bons frutos. É óbvio que esta interação não é uma jogo entre iguais: a Soberania do Estado é necessária para a governança, e o Estado frequentemente se permite ações que são proibidas para o povo.
Mais uma vez, se você se opõe a isso, fuja para um local desabitado e funde seu próprio país. Mas eu já aviso: com o tempo, você acabará no mesmo barco do Leviatã de Thomas Hobbes… E acabará também tendo que enfrentar o mesmo problema que nos aflige agora: algumas pessoas irão querer usufruir das benesses, da proteção e dos direitos ofertados pelo seu Estado, mas elas tentarão a todo custo escapar dos deveres associados a estes direitos.
Os Caronistas são uma inevitabilidade estatística, e a Falácia da Composição pode ser uma realidade incômoda, mas ainda assim ela é uma realidade. Muito mais que um sintoma da “diversidade da moderna sociedade brasileira”, a Falácia da Composição representa a carniça maldita que nós herdamos do socialismo petista. E os Caronistas, como moscas ingratas, são uma lembrança permanente do tipo de covardia parasita que habita a isentosfera.
Apenas com Inteligência, temperança, disciplina e persistência nós conseguiremos produzir e entregar um país melhor para todos. Até mesmo para esses aí.