COMO LIDAR COM UMA CRIANÇA PIRRACENTA?

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Anualmente, no dia 22 de setembro, comemora-se o Dia Mundial Sem Carro. Sempre que vejo os anúncios desta data fico imaginando que que todos os automóveis serão enviados para Netuno e só voltarão ao planeta no dia seguinte. Para minha decepção, nunca ocorre nada disso.

Enfim, zapeando na Internet, descobri que existem mais de 1 bilhão de automóveis no mundo. Para cada um destes automóveis, existe um adulto responsável, devidamente treinado e habilitado para sua condução. E então veio um “estalo”.

Existem 2,2 bilhões de crianças no mundo. Mais de 2 crianças para cada automóvel. Responda rápido: qual você acredita ser a proporção de adultos responsáveis, devidamente treinados e habilitados para conduzir estas crianças?

Não conheço escolas ou faculdades que formem pais responsáveis. Também não existem cursos rápidos sobre como criar filhos. Isto continua sendo uma experiência individual na maioria dos casos, baseada na velhíssima fórmula de tentativa e erro.

Uma das queixas mais freqüentes dos pais despreparados é que “a criança que faz pirraça demais”. Ora, no começo da infância, tudo que o bebê quer é chamar sua atenção. Para isso, ele irá falar, chorar, bater, jogar coisas no chão e perturbar todo mundo. Ele não se importa muito se está sendo agradável ou chato, desde que você olhe para ele. Isso não tem coisa alguma a ver com pirraça.

Além disso, a pirraça ou birra não deve ser confundida com desobediência. O conceito de pirraça começa no momento em que a criança sabe a diferença entre certo e errado, mas ainda não tem maturidade suficiente para se controlar e fazer a coisa certa. Esta fase começa por volta dos 2 anos de idade. Raramente, a criança pirracenta quer um confronto. Ela quer apenas atenção e descobrir seus limites.

Por outro lado, a desobediência significa que a criança faz questão de se impor firmemente contra a sua autoridade. Nestes casos, ela quer de toda forma um confronto.

Para enfrentar uma crise de pirraça com garbo e estilo, recomendo que você faça o seguinte:

– Inicialmente, mantenha um comportamento sereno. Tente ignorar a birra, falando com a criança de modo calmo e pausado, porém firme. Procure entender e explicar a situação. Se isto não funcionar, a criança deve ser castigada.

– Quando digo “castigada” não estou falando “surrada até a morte exsanguinante”. Punir a criança com tapas e beliscões pode ser uma solução rápida, mas certamente é pouco duradoura. Além disso, você estabelece um ciclo de agressões e truculências que não leva a nada. Um excelente exemplo de castigo é proibir a criança de brincar com os coleguinhas ou de assistir ao programa preferido de TV durante uma semana.

– Se a criança não ceder, ela deve ser subordinada. Novamente, isso pode ser feito sem violência. Como? Mostre-se fora de controle, faça a criança perceber que, se é para perder a cabeça, você pode ser mais perigosa que ela. Mas nunca subordine fazendo ameaças ou gritando em público: a audiência só faz a criança aumentar o teatro. No final da subordinação, aplique um castigo.

– Se a pirraça estiver relacionada a uma situação onde não existe possibilidade de negociação (p.ex.: a criança não quer tomar banho, ou se joga no chão para não atravessar a rua, etc), pegue a criança com firmeza pelos braços, sempre dizendo o que você está fazendo e porquê. Não bata nem discuta. Quando terminar de fazer o que precisava ser feito, avalie se é ainda necessário aplicar alguma forma de castigo.

– É óbvio que para tudo existe um limite. Desde a quantidade de carros em circulação até o número de crises de pirraça que uma criança pode ter em um dia. Se a criança começar a machucar a si própria ou a outras, tiver mais de 5 crises de pirraça por dia, ou se as birras estiverem associadas a outros problemas de comportamento (p.ex.: dificuldade para se expressar, para fazer amigos, para aprender na escola, etc), é recomendável visitar o médico para uma avaliação mais específica.

E lembre-se sempre: a obediência da criança depende da sua capacidade de mostrar autoridade com inteligência. Ouça e converse com seu filho. Explique o que você acredita que ele fez de errado, escute os motivos dele e deixe-o de castigo se for preciso, mas jamais apele para surras. A violência é o argumento da ignorância. E a ignorância é o caminho mais curto para o fracasso.

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