Imagine uma pequena planta em um vaso. Lá está ela, triste, amarelada, desnutrida, os galhos retorcidos, as folhas minguadas. Enternecido, você despeja um copo d´água na terra e a planta se anima um pouco, surge um broto tímido de flor aqui, uma ameaça de verdes acolá, mas, no geral, o pobre vegetal continua com uma aparência lastimável.
Alguém sugere “ponha adubo e regue todo dia!”, e você adiciona nitrogênio, fósforo, potássio e alguns dejetos vegetais à mistura no regador, irriga a terra periodicamente nas semanas seguintes, e a planta responde vicejando saudável, vigorosa, revitalizada, extraordinária.
Visualizou o quadro? Ótimo.
Mantendo na sua cabeça as imagens acima, da planta de “antes” e “depois”, como você diria que a sua vida vai neste exato momento? Ela está mais parecida com a planta desolada ou com a planta robusta?
Sejamos sinceros: o mais provável é você que fique com a impressão de que o quadro completo carece, sim, de algumas melhoras. Mas você não é uma planta. Revigorar-se não é tão simples quanto adicionar duas colheres de fertilizante e um pouco de água todo dia no terreno à sua volta. “A vida é mais complicada que isso”, você dirá.
Será que é mesmo?
VEGETAIS HUMANOS, DEMASIADO HUMANOS
A existência humana é complexa e sofisticada, mas provavelmente não da forma como você a contempla. No quesito “satisfação & felicidade”, somos todos muito semelhantes, e restaurar as matizes de seus dias é uma incumbência razoavelmente descomplicada.
Todavia, como não existe um almoço grátis nesse mundo, essa restauração tem algumas pegadinhas: os nutrientes que você demanda não são metabólicos, orgânicos ou fisiológicos; eles são mais amplos e impositivos que isto. Os nutrientes dos quais falamos atendem pelo nome de Necessidades Humanas Fundamentais.
A ideia é a seguinte: se elaborássemos uma lista daquilo que os humanos necessitam para florescer, seria possível descobrir exatamente qual composto está faltando – e supri-lo. Examinando e determinando as exatas necessidades da planta, resolvê-las torna-se uma tarefa inteligível.
É óbvio que a capacidade de algo ou alguém atender às suas necessidades dependerá diretamente de quais necessidades são essas – alguns “nutrientes” são mais fáceis de serem encontrados que outros. Não obstante, nas últimas décadas, vários pesquisadores investiram um bocado de neurônios para descobrir o que as pessoas necessitam. E chegaram a algumas conclusões práticas.
QUEM IRÁ LHE DIZER DO QUE VOCÊ PRECISA?
Abraham Harold Maslow (1908-1970) foi um dos primeiros a estudar e elaborar uma lista embasada das Necessidades Humanas Fundamentais. Ele as dividiu em 5 grupos: fisiológicas (p.ex.: comida e abrigo), de segurança, de afeto, de estima e de autorrealização.
A lista de Abraham ficou conhecida como Pirâmide ou Hierarquia de Necessidades de Maslow. Observando os componentes de cada nível dessa pirâmide, rapidamente sentimos falta de uma coisa: Sexo. Onde entraria o Sexo no esquema de Maslow? Se a evolução tem alguma coisa para contar a respeito de nossa espécie é que ela adora se reproduzir. Nossa espécie adora fazer sexo.
A partir dos conceitos de Maslow, e utilizando técnicas matemáticas sofisticadas e entrevistas com cerca de 6.000 pessoas, o psicólogo Steven Reiss expandiu a tabela das Necessidades Humanas Fundamentais para 320 interesses e desejos menores, divididos em 16 categorias: Poder, Independência, Curiosidade, Aceitação, Ordem, Poupança, Honra, Idealismo, Contato social, Família, Status, Vingança, Romance, Comida, Atividades físicas e Tranquilidade.
Outros especialistas tentaram resolver o problema da Pirâmide de Maslow deletando o item “autorrealização” e enumerando as Necessidades em fisiológicas imediatas, segurança pessoal, afiliação, status/estima, aquisição de um par, manutenção de um par e reprodução.
Como quem conta um conto aumenta um ponto, houve quem questionasse as listas de Maslow e Reiss pela falta de termos como competência, conhecimento e propósitos. Outros ainda perguntaram: “onde estão o dinheiro, o poder e a fama? Afinal, essas coisas são consideradas essenciais por muitas pessoas também!”.
Neste ponto, vale uma observação. Recomendar que todo mundo corra atrás de riqueza, poder e fama se torna problemático, pois estes itens são relativos e rivais: podem perseguidos por todos, mas não serão alcançados por todos. Além disso, eles polarizam os seres humanos em uma competição antissocial e invejosa.
Ao incluir riqueza, poder e fama entre as Necessidades Humanas Fundamentais, corre-se o risco de condenar a maioria das pessoas do planeta à miséria – e a outra parte a uma sociopatia crônica.
Ainda assim, se a oportunidade lhe fosse oferecida, você deixaria passar a chance de ter riqueza, ou poder, ou fama? Se a pergunta fosse “quais opções desta lista você deixaria de marcar?”, você deixaria dinheiro, poder e fama em branco?
Por outro lado, se a pergunta fosse “quais opções desta lista você marcaria para fazer-nos todos felizes?”, então teríamos uma história diferente em mãos.
CONFIE, MAS MODIFIQUE
A psique humana é como o quarto de uma criança hiperativa: uma profusão de bagunças e brinquedos espalhados pelo chão afora. Quando observamos nossas Necessidades de perto, encontramos centenas de micro-motivações embaralhadas umas às outras, puxando e empurrando para todos os lados.
Pesquisadores como Maslow e Reiss tentaram organizar essa zona, colocando cada coisa em sua devida prateleira. Um trabalho bastante útil, pois ter o nome apropriado para cada Necessidade facilita sobremaneira determinar a direção correta dos passos seguintes.
O mapa das Necessidades oferece um índice minucioso sobre o quê você deve prestar atenção e onde deve direcionar seu empenho. Contudo, vale lembrar que os catálogos elaborados pelos especialistas devem ser levados em consideração apenas até certo ponto. É essencial que você confie nas orientações deles, mas também é essencial que realize suas próprias adaptações.
Por exemplo: se você é muito jovem, o item “aquisição de um par” pode parecer atraente e significativo, mas o item “reprodução” nem tanto. Portanto, quando estiver passeando pela lista das Necessidades Humanas, é crucial que defina quem você é e o quê deseja se tornar. E controle sua ansiedade caso esteja vivendo o intervalo entre um item e o seguinte: para tudo existe um tempo. Saiba viver cada tempo no seu devido tempo.
UM DIAGNÓSTICO INSTANTÂNEO
Considerando todas as listagens elaboradas até aqui, podemos dividir as Necessidades Humanas Fundamentais em 15 categorias:
- Comida & Abrigo
- Segurança
- Afiliação
- Estima
- Status
- Aquisição de um par
- Manutenção de um par
- Paternidade & Maternidade
- Autonomia
- Competência
- Propósito
- Tranquilidade
- Poder
- Independência
- Conhecimento
Você sente falta de algum desses itens em sua vida? Consulte seus sentimentos:
Se falta comida, você sente fome ou exasperação.
Se falta segurança, você sente medo ou cisma.
Se falta afiliação ou contato social, você sente solidão ou vulnerabilidade.
Se falta estima por si mesmo ou por outras pessoas, você sente vergonha, culpa, inadequação ou constrangimento.
Se falta status, você sente inveja ou ambição.
Se falta um par, você sente saudade ou carência.
Se falta segurança quanto à manutenção do seu par, você sente dúvida, ciúme, apreensão.
Se um filho está doente, você sente raiva, sobrecarga ou tristeza.
Se falta autonomia, você sente opressão, uma corda no pescoço ou injustiça.
Se falta competência, você sente desespero, aversão, agonia.
Se falta propósito, você sente angústia, confusão, incerteza, depressão.
Se falta tranquilidade, você sente nervosismo ou irritabilidade.
Se falta poder, você sente fragilidade ou instabilidade.
Se falta independência, você sente preocupação, limitações, censuras.
Se falta conhecimento, você sente curiosidade, desarmonia ou incoerência.
Estes são apenas alguns exemplos de sentimentos associados às Necessidades Humanas Fundamentais. Talvez você identifique outros sentimentos. Ou outras necessidades. Mas este é um bom ponto de partida para seu autoexame.
FAZENDO AS PERGUNTAS PARA SI MESMO
Navegando pela lista resumida acima, você é capaz de identificar a principal Necessidade Fundamental que ainda falta em sua vida neste exato momento?
Dê uma atenção especial aos itens autonomia, competência, afiliação, estima e propósito. Estes tópicos estão diretamente relacionados ao bem-estar e muitas pesquisas mostram que são ingredientes bastante difíceis de serem encontrados na atualidade.
Se a Necessidade que você identificou estiver relacionada à competitividade (p.ex.: status ou poder), possivelmente sua verdadeira necessidade é alguma outra. Retorne a lista e repense.
Uma vez identificada a Necessidade que não está sendo adequadamente suprida em sua vida, quais medidas você deveria efetivar para resolver este vácuo? Ponha sua criatividade para trabalhar e enumere, em 1 minuto, o maior número possível de opções que for capaz. Indo um pouco mais fundo, responda: que conversas você deveria ter com as pessoas que conhece e quais pontes deveria criar para atender a Necessidade que você assinalou?
Na sua lista de diálogos e soluções, existem obstáculos ou efeitos colaterais? Por exemplo: se você busca autonomia e decidiu virar empreendedor, largando seu emprego fixo, será que enfrentará problemas para conseguir comida e abrigo? Se positivo, que tal procurar uma solução alternativa, um meio termo, que não lhe exponha tanto assim? Descobrir um santo para cobrir outro não faz sentido… E quando e onde você começará a agir para resolver a Necessidade que identificou?
Que tal e criar seu sistema pessoal de Necessidades? Faça seu próprio inventário. Refine-o com o tempo. Existe algo que você deseja que não está na lista apresentada acima? Você tem necessidade por aventura? Por uma consciência limpa? Paz de espírito?
O importante é mapear suas entranhas, observar sua vida de uma distância suficiente para traçar cursos adaptáveis para ela.
Não existe garantia alguma de que suas Necessidades serão todas atendidas e seus projetos, realizados; mas certamente é melhor viver lucidamente em uma plantação de planos vistosos que passar pela vida como uma folha ressequida vagando sem destino ao sabor dos ventos.
Vá além das expectativas. Medite, pense, planeje, aja – e surpreenda-se!