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Esta semana, atendi um paciente típico. Jovem, sem filhos, veio queixando palpitações, insônia, dores musculares e um profundo desânimo. A fonte de tudo, segundo o querelante, era o bendito casamento. O namoro e o noivado haviam sido 99% fantásticos e ele esperava que o 1% restante viesse com a troca de alianças. O que aconteceu foi exatamente o inverso, e ambos entraram em uma rotina de troca de tiros sem fim.
O que ele foi fazer no consultório? Queria alguns remédios para acabar com o estresse. Mas a causa do estresse não era a esposa. Nem o casamento. Eram as expectativas que ele havia construído para sua vida.
Como todo homem no entorno dos seus 30 anos e com um relativo sucesso na carreira profissional, ele trazia um enredo detalhadamente resolvido do seu futuro. Neste roteiro, a esposa constava como um personagem, não como uma pessoa. Poderia dizer que a diferença entre ela e o boneco sobre o bolo era de apenas alguns quilos de cera. A instituição do casamento em si tinha menos importância que a geladeira de última geração vazia decorando a cozinha.
Terminei liberando-o com a receita de antidepressivos que tanto queria – ele estava a caminho de uma reunião urgente e não podia se atrasar nem mais um minuto. Uma pena. Se tivesse mais tempo, teria apresentado algumas diretrizes que todo jovem cônjuge deveria conhecer e que eu chamo de As Sete Leis do Combate:
- O quartel general só vem em dois tamanhos: grande demais e pequeno demais. Acostume-se. Ninguém chegará perfeito e acabado para suas necessidades. Sua alma gêmea precisará sempre de alguma reforma. Ela deverá ser medida, esticada, remendada, adubada, podada, etc. Boa parte das pessoas que sofrem com seus relacionamentos – e com a própria vida – sofre porque não querem fazer o que sabem que têm que fazer. Ponha mãos à obra: aceite a mudança!
- Se tudo está bem, atenção! O inimigo invariavelmente ataca em duas situações: quando você está preparado e quando você não está preparado. O mesmo ocorre com as crises: elas virão quando você estiver em pé de guerra, mas também e surpreendentemente quando tudo estiver um mar de rosas. Manter as antenas ligadas para o menor sinal de turbulência representa metade da solução dos problemas.
- Se você estiver em dúvida, atire. Se continuar em dúvida, atire até ficar sem balas. Qualquer coisa que você fizer – inclusive nada – poderá tornar você mais uma vítima do fogo inimigo. Isso não quer dizer que você terá razão absoluta todas as vezes que o bicho estiver pegando. Significa que, se perceber que o relacionamento não está sendo uma fonte de alegria para ambos, algo deve ser feito ainda hoje. Uma boa conversa costuma ser um bom começo.
- Se as ordens puderem ser confundidas, elas serão. A sensibilidade masculina estagnou logo após o Pleistoceno superior, tornando nosso córtex cerebral pouco especializado para a compreensão de indiretas. Por isso, peça que ela seja clara e específica ao expor o que está incomodando. Mantenha seus ouvidos abertos e guarde os julgamentos numa gaveta. Pelo menos por enquanto.
- O alcance de uma granada é sempre maior que a distância que você é capaz de pular. Muito cuidado ao jogar ultimatos sobre a mesa. Pessoas são como navios: elas podem até mudar de curso, mas costumam fazer isso bem devagar. Assim, se você estiver sem paciência e pensando em implodir o relacionamento, pense duas vezes: será que você estará longe o suficiente para escapar dos estilhaços? Algumas cicatrizes emocionais podem durar tempo demais.
- Se o inimigo tiver muita dificuldade para entrar, provavelmente você também terá dificuldade para fugir. Construir um relacionamento apenas para sustentar um padrão de comportamento para seus pais ou para a sociedade é como viver em uma prisão de tijolos de ouro. Faça com que sua felicidade – e a de quem você ama – seja como uma porta aberta para o mundo. Nada de falsas amarras ou grilhões de chantagens.
- Existe sempre um caminho, mas lembre-se: o caminho mais fácil quase sempre está minado. Cuidado extra com as soluções práticas. Em alguns casos, elas podem estar apenas escondendo sua própria imaturidade disfarçada de conveniência, não levando a crescimento pessoal algum. Vocês não nasceram juntos e não precisam morrer juntos, mas não permita que algumas pequenas diferenças negociáveis do princípio inviabilizem as infinitas possibilidades do futuro.
Perfeito. Muito dificil estarmos reparados para os desafios da vida a dois. Expectar as atitudes do outro em detrimento da aceitação resiliente é um grande percalço enfrentado pelos casais modernos.