Conhecida pelos romanos como Ceres, Deméter era a deusa grega dos grãos e das colheitas. Irmã e quarta-esposa de Zeus, Deméter teve uma filha com o deus dos deuses, chamada Perséfone, que mais tarde seria sequestrada por Hades, deus do submundo.
Deméter representa o instinto maternal, concretizado por meio da gravidez e do cuidado físico, psicológico e espiritual com os outros. Mães-Deméter são pacientes, perseverantes e lutam até suas últimas forças pelo bem estar de seus filhos.
Este arquétipo pode ditar todo o curso da existência de uma mulher, tendo um impacto significativo na vida daqueles ao seu redor, além de predispô-la à depressão quando sua natureza nutriz é rejeitada ou se torna dispensável.
DEMÉTER: A DEUSA MATERNA
Uma mulher-Deméter anseia por ser mãe. A maternidade é certamente um evento que a realiza e completa, é a sua programação vital, e esta força pode ser tão poderosa a ponto de, inconscientemente, ela se deixar engravidar “por acidente”. Quando isso acontece, a mulher-Deméter abraça a gestação e rejeita qualquer opção além de levar a gravidez a termo e cuidar de seu filho.
Aborto e doação para adoção são impensáveis para ela. Contudo, quando o aborto acontece ou é imperativo por algum motivo externo – a gravidez foi fruto de um relacionamento ilícito, por exemplo, ou se tornou medicamente inviável e coloca sua vida em risco -, a mulher-Deméter passa por um período intenso de luto, logo seguido por uma vontade ainda maior de engravidar.
O instinto maternal da mulher-Deméter não se restringe ao papel de mãe biológica ou de nutriz de seus próprios filhos. Ela pode ser uma babá ou uma tia que exterioriza sua maternalidade intensamente para outras crianças.
Alimentar os outros é outra grande satisfação na vida de uma mulher-Deméter. O aleitamento materno é profundamente gratificante, e ela também encontra grande prazer em preparar refeições para sua família, amigos e visitantes. Quando sua comida é apreciada, ela se alegra por ser uma boa mãe (ao contrário de uma mulher-Atena, que se sentiria orgulhosa por ser uma grande chef gourmet).
Em seu trabalho, ela gosta de levar café para outras pessoas – em contraste com uma mulher-Ártemis, que só aceitaria isso se os homens também fizessem o mesmo.
DILEMAS, RELACIONAMENTO E SEXO
Quando o arquétipo Deméter é o prevalente em uma mulher e ela não consegue completá-lo por meio da maternidade, quase sempre sobrevém uma típica depressão conhecida como “síndrome do ninho vazio”. Isto pode ocorrer tanto pela incapacidade de engravidar quanto pela morte de um filho ou pela saída dos filhos de casa como parte do processo natural de crescimento destes.
A perda do papel de supermãe cuidadora-nutridora as deixa sem chão. Elas se tornam obcecadas com o senso de perda e inutilidade, e seu crescimento psicológico cessa.
Uma criança necessita da validação materna para desenvolver autoconfiança, mas Deméter sabe instintivamente que esta mesma autoconfiança fará com que os filhos deixem a casa um dia, então passa a sabotar a autonomia psicológica dos filhos sonegando sua validação. Ela anseia por sentir-se necessária. Quando essa noção lhe é negada, se torna deprimida e raivosa.
Em seus relacionamentos, a mulher-Deméter é apoiadora, solícita, prática, leal, generosa e prestativa. Ela acorda de madrugada para preparar uma sopa para os filhos, faz empréstimos para seus amigos, é sólida e confiável quase ao ponto da teimosia.
A mulher-Deméter não considera a sexualidade especialmente importante. Ela é feminina e afetuosa, mas prefere ficar abraçada após o sexo mais do que aprecia o sexo em si.
Sua atitude em relação ao sexo chega a ser puritana: a atividade sexual é uma ferramenta para reprodução, não para o prazer. É algo que ela deve oferecer ao marido como uma forma de cuidar das necessidades dele, não para satisfazer sua própria libido. Para uma mulher-Deméter, a atividade física mais sensual consiste em amamentar seus filhos – não em fazer amor com seu homem.
O casamento também não é uma prioridade. A menos que ela tenha uma pitada de Afrodite ou Hera, a mulher-Deméter verá o matrimônio apenas como um lugar seguro para ter filhos. O papel de mãe adotiva ou madrasta não é suficiente.
Uma mulher-Deméter está sempre preocupada de que algo terrível pode acontecer às suas crianças e age como se fosse capaz de prever qualquer tragédia. Quando alguma coisa de ruim acontece com um filho, mesmo que seja algo fora de sua responsabilidade, ela sente uma culpa avassaladora e se torna ainda mais controladora e super-protetora.
Deméter deseja ser a mãe perfeita, onisciente e toda-poderosa, protegendo seus rebentos de todo e qualquer sofrimento. Esse cordão umbilical perpétuo pode tornar os filhos psicologicamente dependentes, sempre orbitando o universo materno. Alguns nunca se casam ou, quando casam, seus vínculos com a mãe são absurdamente mais fortes que os vínculos que mantém com seus cônjuges. Por exemplo: o filho de uma mulher-Deméter sempre coloca os interesses de sua esposa em segundo plano. A filha de uma mulher-Deméter jamais concorda em passar férias longas muito distante da mãe.
Em um esforço para levar suas próprias vidas, o filho ou a filha de uma mulher-Deméter pode sair de casa e ir morar longe, criando um distanciamento geográfico e emocional da mãe.
Outra chaga da mulher-Deméter pode ser encontrada na mãe que é incapaz de dizer não aos seus filhos. Ela quer que seus filhos tenham tudo que desejaram. Se isso for algo além de sua capacidade, irá se sacrificar para obter o que foi pedido, ou se sentirá culpada por não conseguir. Ela não coloca limites no comportamento das crianças, que crescem demandantes, egoístas e sem qualquer respeito pela autoridade. Em sua angústia em ser uma “boa mãe”, a mulher-Deméter termina se tornando exatamente o oposto disso.
Algumas mulheres-Deméter podem se tornar figuras-chave em organizações que privilegiem e valorizem suas qualidades maternas. Ela poderá fundar uma organização não-governamental para ajudar pessoas necessitadas e dedicará uma grande quantidade de energia para fazer o empreendimento decolar – o que em geral funciona. Mas os conflitos internos logo surgem: ela se vê – e é vista pelos seus subordinados – não apenas como uma figura de autoridade, mas como uma nutridora, e isso dificulta sua performance na hora de despedir ou confrontar um empregado incompetente.
A mulher-Deméter é compreensiva, mas pode demonstrar inveja de outras mulheres com respeito à prole. Uma Deméter sem filhos sempre se enxerga inferior a outras mulheres da mesma idade que já foram mães. Se ela for infértil, sua amargura será ainda maior, especialmente com mulheres que engravidam fácil e/ou abortam. Mais tarde, quando seus próprios filhos tiverem atingido a idade adulta, ela sentirá ciúme da mãe com filhos pequenos ou daquelas que já são avós. Uma mulher-Deméter sempre cobrará de seus filhos que lhe deem netos o mais rápido possível.
A mulher-Deméter tem uma relação conflituosa com o feminismo: elas se ressentem do fato de uma parcela deste movimento diminuir o valor da maternidade. Elas querem ser mães em tempo integral e não querem ser empurradas para fora de suas casas. Por outro lado, uma Deméter sempre apoiará as causas femininas relacionadas à proteção de crianças e de mulheres vítimas de abusos domésticos.
Mulheres-Deméter costumam ter amizades extremamente sólidas com outras mulheres-Deméter. Em famílias onde o arquétipo Deméter é prevalente, estes círculos dentro de círculos formam verdadeiras castas matriarcais.
Com o passar do tempo, a mulher-Deméter tende a cair em uma de duas categorias: ou ela evoluiu psicologicamente e se mantem ativa e ocupada em transmitir seus ensinamentos de vida às gerações mais novas; ou se investe do papel de vítima, tecendo discursos amargurados contra o mundo cruel que levou seus filhos para longe de si.
A MULHER-DEMÉTER E SEUS PAIS
Algumas meninas mostram seu lado Deméter desde muito novas: equanto as meninas-Hera gostam de Barbies e Kens, e as meninas-Atena apreciam organizar suas bonecas como troféus em uma estante, as meninas-Deméter ninam suas bonecas como bebês e, por volta dos 9 ou 10 anos de idade, adoram se fazer de babás das crianças mais novas na família.
A típica menina-Deméter possui uma grande identificação com sua mãe e suas avós, mas tende a crescer desconectada da figura paterna. Seu pai a trata com desinteresse e ressentimento, podendo ser até abusivo quando percebe que a menina compete com ele pela atenção da mãe. Em um ambiente assim, a autoestima da pequena Deméter sofre bastante e ela começa a desenvolver a atitude de vitimização típica do aspecto mais negativo deste arquétipo.
Em um contexto um pouco diferente, onde seus pais são incompetentes ou imaturos, as qualidades maternas menina-Deméter resultam em uma inversão de papéis. Assim que cresce o suficiente, é ela quem passa a tomar conta de seus pais, dos irmãos e das tarefas domésticas.
Se a jovem Deméter possuir um pai afetuoso, que aprova e incentiva o desenvolvimento pleno de sua personalidade, ela terá uma visão mais positiva dos homens – e, consequentemente, desenvolverá uma atitude extremamente terna com seu futuro marido.
Com a chegada da puberdade, a mulher-Deméter sente urgência em engravidar, mas curiosamente ela não se sente motivada para o sexo. Na ausência de uma gravidez precoce, ela se dedicará aos estudos e ao trabalho em áreas profissionais relacionadas ao cuidado com outras pessoas e que não envolvam grande competitividade ou desempenho intelectual ambicioso. Elas serão professoras dedicadas, enfermeiras, fisioterapeutas, pediatras ou assistentes sociais, por exemplo.
DEMÉTER E OS HOMENS
A mulher-Deméter atrairá homens que possuem afinidade por mulheres maternas. Ela não costuma tomar a frente das decisões, impondo firmemente sua vontade, mas prefere agir correspondendo às necessidades de seu homem, pois se sente compelida a cuidar dele. Ela acha que “os homens são eternos meninos” e não nutre grandes expectativas em relação a isso.
O homem de uma mulher-Deméter em geral tem um perfil sensível, imaturo e egocentrado. Ele se sente incompreendido e pouco querido pelos seus amigos, que não valorizam seus talentos (como ela valoriza) e tampouco irrelevam sua irresponsabilidade (como ela irreleva). Do ponto de vista dela, o mundo não é suficientemente gentil com seu homem e deveria fazer uma exceção e tratá-lo com mais carinho – como ela trata.
Algumas vezes ele pode ser rude e ela se ressente bastante com isso. Mas basta que ele diga como ela é especial, ou como ela é a única pessoa que realmente se importa com ele, e tudo será perdoado. A dificuldade em dizer “não” torna a mulher-Deméter bastante vulnerável aos sociopatas – outra variedade de homem comumente visto ao seu lado.
De todos os tipos masculinos que podem ser atraídos pelas qualidades de uma mulher-Deméter, o “Pai de Família” é único com capacidade para ser maduro e generoso. Ele considera a mulher-Deméter o par ideal para compartilhar seus sonhos. Ele irá ser um bom pai e também oferecerá proteção. Se ela tiver dificuldade em dizer “não” para alguém, ele estará lá para ajudá-la nessa tarefa.
Provavelmente, a principal chaga de Deméter está na vitimização, que pode limitar sua capacidade de demonstrar desgosto e controlar seu próprio destino. Ela se acha uma fonte inesgotável de cuidados para com as outras pessoas, mas ela não é. Sua energia nutridora tem limites e, caso não aceite o confronto com este fato, seu futuro será penoso: sua vida conjugal jamais será satisfatória e seus filhos jamais se tornarão adultos seguros.
Ela deve reconhecer a força do arquétipo e aprender a escolher o momento para engravidar ao invés de simplesmente deixar-se levar pelos instintos. Deve desenvolver sua autoconfiança, desistindo de buscar e gerar co-dependências. Deve vencer a passividade, aprender a dizer “não” e expressar seus sentimentos sem medo, assumindo a raiva que sente até mesmo daqueles que mais ama. Se não fizer este dever de casa, ela sofrerá com crises recorrentes de fadiga, enxaquecas, cólicas menstruais, gastrite, pressão alta, dores lombares, agressividade, ansiedade e depressão.
Um homem parceiro de uma mulher-Deméter deve entender que ela não irá alcançar sua feminilidade plena até ser capaz de promover esse encontro consigo mesma. Todavia, ela fugirá desse compromisso assumindo comportamentos defensivos, dizendo que as pessoas não entendem suas boas intenções, ou fornecendo uma lista de suas incontáveis ações generosas e positivas.
A parte mais difícil consiste em fazê-la aceitar o traço de vitimização associado à sua personalidade dominante. Uma vez vencida esta etapa, a mudança de comportamento se torna fácil e natural, e ela finalmente se deliciará com a liberdade de experimentar o mundo para além dos limites de seu arquétipo.
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Amplie seus estudos e leia mais sobre os Arquétipos Femininos:
1 – A Mulher-Atena
2 – A Mulher-Ártemis
5 – A Mulher-Deméter
6 – A Mulher-Hera