Quando observamos as mais variadas culturas e ao longo de incontáveis séculos, Honra e Masculinidade parecem compartilhar desde sempre laços intricados. Em muitos casos, eram considerados sinônimos: a supressão da Honra significava uma supressão automática e irreconciliável da Masculinidade.
Uma vez que a Honra era um aspecto tão central da identidade masculina, os homens se lançavam às empreitadas mais nobres – e malucas – para ganhá-la ou evitar perdê-la. Os poemas épicos de Homero são principalmente sobre honra e a luta de um homem para mantê-la. A obra de Shakespeare contém outras centenas de páginas onde honra e masculinidade ocupam o centro da trama. Durante o Século XVII e até o começo do Século XX, duelos pela honra eram comuns no Ocidente.
Crimes absurdos foram e ainda são praticados “em nome da Honra”. Mas crimes hediondos também são praticados “em nome do Amor” ou “em nome da Liberdade”, e ninguém pensa em odiar o amor ou perseguir a liberdade por causa disso.
Infelizmente, este mesmo processo de dissociação não ocorreu com a Honra, e ela se tornou uma proscrita. Se um homem diz que tomará uma determinada conduta em nome do amor ou da liberdade, ele é louvado e aplaudido. Todavia, se disser que fará algo em nome de sua Honra, será execrado e jogado aos cães.
MAS O QUE EXATAMENTE SIGNIFICA SER HONRADO?
Muito se fala sobre homens honrados, questão de honra, palavra de honra, honrar seus genes, e honrar pai e mãe. Todos estes são termos que caíram no uso popular. Entretanto, se você parar alguém na rua e perguntar “O que é honra?”, o mais provável é que a pessoa responda franzindo as sobrancelhas enquanto coça a cabeça pensativa.
Todo mundo acha que sabe o que Honra é, mas poucos são capazes de emitir um conceito acurado quando arguidos sob pressão. Com alguma sorte, de repente você consegue encontrar alguém que lhe dirá que “honra significa ser honesto e verdadeiro com um determinado conjunto de ideais“ ou que “honra é ter integridade”.
A visão associando Honra à integridade, retidão, ética, seriedade, respeito e dignidade não captura o sentimento de Honra belicista abordada por Homero, ou da Honra pela qual incontáveis duelistas deram suas vidas, mas oferece um painel bem lúcido sobre como a Honra é vista nos dias de hoje.
É de se pensar se a dificuldade que as pessoas têm emitir um conceito rápido, específico e consciente sobre o que é Honra não está na base do declínio da masculinidade ocidental e de toda a nossa sociedade.
Ultrapassadas as definições mais superficiais, Honra se mostra um tópico de entendimento complexo, exigindo que você empenhe todas as suas engrenagens cognitivas para examiná-lo.
HONRA HORIZONTAL
O antropologista Frank Henderson Stewart defende que existem dois tipos de Honra: Horizontal e Vertical.
A Honra Horizontal é definida como o “direito ao respeito em uma sociedade de iguais”. Isso não tem a ver com a velha história de “respeite-me simplesmente por que eu sou um ser humano”. Não. A Honra Horizontal tem um significado mais profundo, mais contingente, e baseia-se em 3 elementos: um código de honra, um grupo de honra, e vergonha.
O código de honra determina os padrões que devem ser obedecidos para fazer parte e receber o respeito de um determinado grupo. Qualquer violação neste código significa perda da honra – uma honra que não pode ser perdida não é honra, é condescendência. Os códigos de honra frequentemente estabelecem padrões bem elevados para o grupo, mas, apesar de sua dificuldade, eles sempre são vistos como um patamar mínimo para inclusão no grupo. Se você não puder colocar-se à altura deles, será considerado deficiente, desprezível e será exilado.
Um grupo de honra consiste em indivíduos que compreendem e se comprometem a viver segundo o código de honra. Eles formam um grupo coeso e fechado, uma sociedade de iguais com interações fortemente baseadas em respeito. E como o respeito é uma rua de duas vias, o julgamento dos membros do grupo tem peso: para receber respeito, você devedemonstrar respeito.
A intimidade que permeia o grupo de honra é governada por este respeito mútuo, e isto requer que todos no grupo conheçam um ao outro cara a cara. A Honra não pode existir em uma sociedade onde o anonimato predomina.
A Honra Horizontal atua como uma linha separando “nós” (os “honrados”) e “os outros” (os “desprezíveis”), é um jogo de tudo ou nada. Ou você tem o respeito dos seus pares ou você não tem. Causar desonra a si mesmo – por não atender aos padrões mínimos do grupo ou por desdenhar de seus valores – significa vergonha e exclusão do clube.
HONRA VERTICAL
Este tipo de honra não se relaciona ao respeito mútuo, mas à estima, admiração, reconhecimento de pessoas “superiores” seja por suas virtudes, habilidades, serviços prestados, patentes, prosperidade ou qualquer coisa similar.
Por natureza, a Honra Vertical é hierárquica e competitiva. Ela cabe ao homem que não somente vive segundo o código de honra vigente, mas demonstra excelência ao fazê-lo.
A Honra Vertical não pode existir na ausência da Honra Horizontal. Sem um terreno sólido de respeito mútuo entre iguais, a admiração (honra vertical) perde o sentido. Se a Honra Horizontal é um clube, a Honra Vertical são os troféus na parede e os prêmios acumulados pelos seus membros.
O PAPEL DA HONRA NO CONCEITO DE MASCULINIDADE
Poderíamos resumir a noção de Honra como o valor que uma pessoa tem não somente aos seus próprios olhos, mas também aos olhos da sociedade. É tanto uma estimativa de seu valor quanto uma manifestação de seu orgulho próprio reconhecida por sua comunidade.
Honra é uma reputação que agrega respeito e admiração.
Dito isto, algumas perguntas surgem naturalmente: qual código de Honra um Homem deveria seguir para ser respeito por outros homens, para ser considerado um Homem de verdade e incluído no clube da Honra Horizontal? E o que ele deve fazer para ganhar a estima de seus pares (Honra Vertical)?
Até certo ponto, o conceito de Honra pode ser considerado universal e aplicável a homens e mulheres, mas seus padrões históricos são claramente separados por gênero. Na sua forme mais primitiva, Honra significava castidade para as mulheres e coragem para os homens.
Na época em que o poder das Leis era fraco, aparelhos legislativos amparados por e exércitos profissionais praticamente não existiam, a Honra atuava como a força moral que governava as tribos, garantido sua sobrevivência – e os homens deviam agir como protetores da tribo e desses mesmos códigos, uma tarefa que exigia grande força e coragem.
Se não fosse fisicamente forte o suficiente, o homem da tribo deveria contribuir de alguma outra maneira – como artesão, xamã ou rastreador, por exemplo – para benefício da tribo.
A Honra motivava os homens a cumprirem o papel que lhes cabia. Quando demonstravam coragem e domínio de suas habilidades, eles eram considerados “homens de verdade” (Honra Horizontal) e se tornavam membros da tribo, com todos os direitos que este cargo possuía. Este senso de “atingir um padrão para adquirir pertencimento” está na alma de praticamente todos os ritos tribais que marcavam a passagem dos homens da meninice para a idade adulta.
Quando um homem na tribo fazia algo notável, ele recebia ainda mais status e privilégio (Honra Vertical). Contudo, caso se comportasse de modo covarde ou preguiçoso, ele era considerado fraco, não-masculino, e perdia acesso aos seus privilégios, ou era até proscrito do convívio com a tribo. Por tudo isso, para nossos ancestrais, defender a própria honra ou reputação era – em muitos casos – um dilema de vida ou morte, de sucesso ou ruína total.
A defesa da honra era imprescindível para usufruir dos privilégios da tribo, e os homens eram altamente incentivados a se manterem vigilantes quanto a isso. Qualquer injúria ou dano à sua reputação necessitava uma resposta instantânea. O risco e as consequências da perda da honra eram terríveis demais. Então, se alguém lhe batesse, você deveria bater de volta, e esta retaliação corajosa mostraria seu valor, preservando sua Honra Horizontal. E se porventura arrancasse o escalpe ou comesse o coração do seu inimigo, então você se tornaria um candidato natural a uma cerimônia para receber prêmios de Honra Vertical.
Esta retaliação por honra, chamada de Honra Reflexiva pelos antropologistas, se infiltrou na cultura do mundo ocidental desde a Grécia antiga. Se levada a extremos, a Honra Reflexiva pode causar desde concursos para ver quem tem o pinto maior até guerras capazes de destruir países inteiros.
À medida que as sociedades se tornaram mais civilizadas, foram sendo criados mecanismos para temperar o instinto de retaliação em nome da honra. A Honra foi colocada em caixas de ética acomodadas em prateleiras de moralidade, adicionando-se doses de virtude, misericórdia e magnanimidade ao antiquíssimo código existente. Esta temperança da honra reflexiva produziu os conceitos de Cavalheirismo e Jogo Justo.
A preocupação com a própria honra é algo tão egoísta quanto altruísta. Por um lado, o homem quer ser considerado um homem de verdade e respeitado pelos demais membros de sua tribo, e deseja ter acessos às prerrogativas associadas à Honra Horizontal. A participação nesse clube também lhe oferece a oportunidade de ganhar Honra Vertical, aumentando seu status e seus privilégios. Ademais, sua reputação de força e coragem evitará que outros membros da tribo fiquem tirando onda com ele.
Simultaneamente, a reputação honrada de um homem beneficia seu grupo como um todo. A reputação de coragem e força de cada homem da tribo adiciona força e coragem à tribo inteira. Quanto mais formidável a reputação de um determinado grupo, menor a probabilidade de que outros grupos venham em busca de problemas no seu território. E é por isso que homens que não se importam com sua própria honra são colocados em ostracismo pela sua tribo: sua deslealdade coloca o grupo inteiro em risco.
Os homens que não querem ser rejeitados pela sua gangue irão trabalhar duro e competir entre si para ganhar o respeito uns dos outros, e os mais fortes, corajosos e competentes por natureza irão competir pelo status de líder.
Enquanto houver algo para ser ganho – seja uma posição hierárquica mais alta, mais controle, maior acesso aos recursos, ou simplesmente maior estima pelos seus pares -, os homens competirão entre si para chegar lá.
Entretanto, como os seres humanos são caçadores cooperativos, a importância da tribo-gangue-grupo será sempre maior que os interesses individuais: os homens competirão pela posição mais alta na hierarquia interna exceto na presença de ameaças externas. Qualquer ameaça à integridade da tribo é considerada mais relevante que uma mera disputa pessoal – e este é um lado construtivo da Honra. No final, os homens não são programados para lutar OU cooperar, mas para lutar E cooperar.
É legal ser mais forte que os outros caras dentro da sua gangue, mas também é importante que sua gangue seja mais forte que as outras gangues vizinhas. Dentro da tribo, os homens desafiar-se-ão para testar a coragem uns dos outros, e este tipo de “guerra” intragrupal irá prepará-los para as batalhas com outros grupos.
Poderíamos considerar que, após centenas de milhares de anos de evolução, recebemos como herança uma programação genética para Honra. Mas a tecnologia tornou o mundo menos inóspito, e a necessidade de civilizar o conceito de Honra se fez valer para que as sociedades crescessem em número e ampliassem suas fronteiras.
A Honra foi domesticada, e o homem moderno desenvolveu um gosto por esportes e jogos como uma forma de aplacar sua sede pelas convicções ancestrais. Essas atividades podem até reproduzir as virtudes físicas e morais que por tanto tempo valorizamos e que foram cruciais para nossa sobrevivência como espécie, mas elas nem de longe reproduzem a força e a noção de respeito e coragem que a boa e velha Honra trazia embutida em si.
Hoje mais do que nunca, necessitamos recuperar o conceito pleno e altruísta de Honra. A bem da verdade, não necessitamos recuperá-lo, mas VIVÊ-LO. Pois infelizmente homens de Honra estão se tornando uma espécie cada vez mais ameaçada de extinção nesse pequeno planeta.
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